O fim do vasto programa atômico da Coreia do Norte pode ser o caso mais desafiador de desarmamento nuclear na história. O jornal americano The New York Times separou nove pontos para alcançar e verificar a remoção das armas nucleares, o desmantelamento de seu complexo atômico e a eliminação de outras armas de destruição em massa.
Pouco antes da cúpula histórica desta terça-feira, 12, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que conversaria com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Cingapura porque este havia sinalizado a disposição de "desnuclearizar" o país. Nas últimas semanas, Trump parece ter se afastado de sua insistência anterior em um desmantelamento rápido das armas nucleares e instalações de produção, antes que a Coreia do Norte recebesse sanções.
Independente do tempo deste desmantelamento, a tarefa de "desnuclearizar" será enorme. A Coreia do Norte tem 141 campos voltados à produção e ao uso de armas de destruição em massa, de acordo com um relatório de 2014 da Rand Corporation. Um deles - Youngbyon, o principal complexo atômico do país - cobre mais de 3 km².
Recentemente, o Instituto de Ciência e Segurança Internacional, um grupo privado em Washington, inspecionou imagens satélites de Yongbyon e contou 663 edifícios. Vale lembrar que a Coreia do Norte tem o tamanho da cidade americana de Pensilvânia.
O desafio do desarmamento é pior pela incerteza a respeito de quantas armas nucleares o país possui - a estimativa varia entre 20 a 60 - e se os túneis dentro de suas montanhas escondem mísseis. Esse processo deveria começar com a declaração da Coreia do Norte de todas as suas instalações e armas, que seria comparado pelas agências de inteligência com suas próprias listas e informações.
Especialistas nucleares, como David A. Kay, argumentam que o complexo de armas norte-coreano é muito extenso para que pessoas de fora consigam desmantelá-lo. Segundo Kay, o melhor modo é que os inspetores ocidentais monitorem o desarmamento do país. O tempo estimado varia de anos para uma década e meia - bem depois de Trump deixar a presidência dos EUA.
O encontro de Donald Trump e Kim Jong-un em Cingapura
A magnitude do desafio norte-coreano se torna mais clara quando comparada a esforços anteriores de desarmar outras nações. Por exemplo, o programa nuclear da Líbia era tão subdesenvolvido que as centrífugas nunca haviam sido desembaladas de suas caixas de embarque originais.
A infraestrutura dos programas nucleares na Síria, no Iraque, no Irã e na África do Sul era muito menor. Mesmo assim, Israel bombardeou um reator iraquiano em 1981 e um sírio em 2007. Porém, as tentativas de desarmar estes países não seguiram todas as estratégias recomendadas para fazê-lo com eficiência.
Desta forma, são essenciais o desenvolvimento de nove passos para desarmar, por completo, a Coreia do Norte:
1) Desmantelar e remover armas nucleares: é necessário desmontar cada arma nuclear do arsenal norte-coreano e enviar seus componentes para fora do país de forma segura.
2) Encerrar o enriquecimento de urânio: precisa-se desmontar as plantas onde as centrífugas giram em velocidades supersônicas para produzir combustível para reatores nucleares e bombas atômicas.
3) Desabilitar reatores: obturar reatores nucleares que transformam urânio em plutônio, uma segunda bomba de combustível.
4) Fechar os campos de testes nucleares: realizar explosões que realmente destruam os túneis e sua infraestrutura, ou tomar medidas adicionais para tornar o complexo inutilizável.
Trump e Kim assinam acordo de desnuclearização
5) Encerrar a produção de combustível de bombas de hidrogênio: fechar plantas de combustível exóticas que podem produzir bombas atômicas centenas de vezes mais destrutivas.
6) Sempre inspecionar todos os lugares: em um país montanhoso, é necessário dar liberdade aos inspetores internacionais para vaguear e inspecionar cada local, com monitoramento automatizado dos principais campos nucleares.
7) Destruir armas germinativas: eliminar armas biológicas mortíferas, sob constante inspeção.
8) Destruir armas químicas: eliminar agentes químicos letais que a Coreia do Norte já usou com seus inimigos, como o agente VX.
9) Refrear seu programa de mísseis: é necessário acabar com as ameaças de disparo de mísseis de longo alcance aos EUA e de médio alcance ao Japão e à Coreia do Sul.
Com O Estado de São Paulo e NYT