WASHINGTON - Em entrevista coletiva realizada em Cingapura nesta terça-feira, 12, após a histórica cúpula com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que seu país irá interromper "seus jogos de guerra" na Península Coreana. Os dois se reuniram para discutir a desnuclearização da região, no primeiro encontro já realizado entre líderes dos dois países. Ao final da reunião, eles se sentaram em frente a jornalistas e assinaram um documento de cooperação.
Trump destacou que encerrará as manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul, mas que ainda não tem previsão para reduzir sua ampla presença militar no país. A suspensão dessas atividades culminará em uma "grande economia" para os EUA, de acordo com o líder americano, que qualificou esses exercícios como "provocativos". "Enquanto negociamos um acordo global, muito completo, acredito que não é apropriado realizar manobras militares."
O líder americano ressaltou que convidará Kim a visitar a Casa Branca "no momento apropriado" e que o norte-coreano já aceitou o convite. Além disso, afirmou que está aberto a visitar Kim um dia em Pyongyang.
O encontro de Donald Trump e Kim Jong-un em Cingapura
O americano também disse que Kim iniciou um processo de destruição de uma grande instalação de testes de mísseis, mas não especificou sua localização. Ele afirmou que os detalhes sobre este local não estão na declaração conjunta que os líderes assinaram após quase cinco horas de conversas. Para Trump, a destruição desta instalação é uma "grande coisa".
O republicano destacou que Pyongyang tem um "arsenal significativo" de armas nucleares, e que o encontro com Kim deveria ter sido realizado há cinco anos. O presidente americano ressaltou ainda os esforços feitos para pressionar Kim a se livrar desses armamentos.
As negociações com o líder norte-coreano foram "francas, diretas e produtivas", segundo o americano, que acrescentou que abordou a questão dos direitos humanos durante o encontro histórico. Além disso, ele garantiu que as sanções contra Pyongyang prosseguem neste momento. "As sanções serão suspensas quando tivermos certeza de que as armas nucleares não serão mais eficazes", disse.
Trump afirmou ainda que espera que a Guerra da Coreia termine em breve. "Agora podemos ter a esperança de que termine em breve", disse ele, ao recordar que as hostilidades do conflito (1950-1953) terminaram com a assinatura de um armistício e não um tratado de paz.
O republicano afirmou que os EUA não têm muitas informações obtidas por órgãos de inteligência na Coreia do Norte, mas "temos o suficiente para saber que o que eles têm é muito significativo". Trump disse que Kim entende o que Washington tem pressionado durante as conversas e acredita que ele "fará essas coisas".
Ao fim da entrevista coletiva, Trump destacou que "provavelmente precisaremos de outro encontro", ou ao menos uma segunda reunião, com a Coreia do Norte enquanto discutem o compromisso de Kim com a desnuclearização de seu país.
Ainda assim, o líder americano disse que ele e Kim conseguiram abordar mais assuntos do que o esperado durante a cúpula. "Fomos muito mais longe do que eu poderia imaginar."
Trump e Kim assinam acordo de desnuclearização
G-7
Trump afirmou que a reunião do G-7 realizada em Quebec foi boa, apesar das disputas, mas advertiu que as declarações do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, custarão caro ao seu país. "Tive uma boa reunião com o G-7", disse o americano, ao rebater os comentários de que o encontro foi um fracasso. As declarações do premiê custarão "muito dinheiro" ao Canadá, completou.
Reações
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, qualificou o acordo assinado em Cingapura como um "acontecimento histórico que acaba com a Guerra Fria". "O acordo de Sentosa de 12 de junho ficará registrado como um evento histórico que ajudou a derrubar o último legado que restava da Guerra Fria na Terra", declarou ele após a reunião entre Trump e Kim.
O governo da China, maior aliado de Pyongyang, celebrou a cúpula e fez um novo apelo à "desnuclearização total" de seu vizinho. "Hoje, o fato de que os principais dirigentes dos dois países se sentam juntos para negociações de igual para igual tem um significado importante e constitui o começo de uma nova história", afirmou o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi.
"A China celebra e dá seu apoio", declarou o ministro ao ser questionado se o país sentia estar marginalizado pela aproximação entre Washington e Pyongyang. "É um objetivo que esperávamos e pelo qual trabalhamos."
Wang defendeu uma "desnuclearização total", tal como exige o governo americano. "Ao mesmo tempo é necessário um processo de paz para a península, para resolver as preocupações razoáveis da Coreia do Norte em termos de segurança", afirmou o ministro chinês. "Ninguém pode duvidar do papel importante e único desempenhado pela China. E este papel continuará", prometeu.
A União Europeia (UE) qualificou a cúpula como "passo crucial", que envia um "claro sinal" em direção à desnuclearização. "Esta reunião foi um passo crucial e necessário para aproveitar os avanços positivos obtidos com as relações intercoreanas" até esta data, indicou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
Com O Estado de São Paulo e EFE, AP e AFP