Faltou equilíbrio à maior parte das opiniões sobre o pedido de demissão de Pedro Parente, então presidente da Petrobras. Para começar, Parente não foi “o culpado” pela greve dos caminhoneiros. Diante de tantos atores e políticas atreladas ao episódio, sem uma análise mais detalhada dificilmente seria possível estabelecer uma ordem de classificação dos culpados. Por exemplo, qual o peso da expansão acelerada da frota de caminhões, ocorrida a partir de incentivos do governo Dilma? Achar bodes expiatórios é cômodo e típico daqueles momentos nos quais sobra radicalização e falta reflexão.
Há de se reconhecer também a melhora nos números da Petrobras sob Parente. O relatório anual disponibilizado para os investidores contém inúmeros exemplos.
Provavelmente, o maior destaque é a redução do endividamento. Entre 2015 e 2017, o valor total da dívida caiu 17 bilhões de dólares (de 126,3 para 109,3 bilhões) sem comprometimento das atividades operacionais. A notícia é especialmente positiva porque a empresa havia aumentado excessivamente o endividamento nos anos anteriores.Faltou equilíbrio à maior parte das opiniões sobre o pedido de demissão de Pedro Parente, então presidente da Petrobras. Para começar, Parente não foi “o culpado” pela greve dos caminhoneiros. Diante de tantos atores e políticas atreladas ao episódio, sem uma análise mais detalhada dificilmente seria possível estabelecer uma ordem de classificação dos culpados. Por exemplo, qual o peso da expansão acelerada da frota de caminhões, ocorrida a partir de incentivos do governo Dilma? Achar bodes expiatórios é cômodo e típico daqueles momentos nos quais sobra radicalização e falta reflexão.
Reconhecidos os méritos acima, alguns analistas, como Adriano Pires, presidente do Conselho Brasileiro de Infraestrutura, salientaram a necessidade de uma transição mais suave para uma nova estratégia de preços dos combustíveis, que teriam ido de um extremo ao outro muito rapidamente. Isso de fato merece uma reflexão, e a teoria dos stakeholders pode ajudar. Os stakeholders podem ser definidos como grupos que afetam ou são afetados de maneira relevante pelas atividades de uma organização, pelos seus produtos e serviços. Governos, consumidores, sindicatos e organizações da sociedade civil, além dos próprios acionistas, são os principais exemplos.
As empresas que buscam estrategicamente maximizar valor no longo prazo precisam engajar os stakeholders de forma a produzir os resultados desejados. Michael Jensen, um dos mais importantes acadêmicos de finanças das últimas décadas, afirma que uma empresa não maximizará valor para os acionistas se ignorar os interesses dos seus stakeholders. Uma rápida pesquisa nas principais revistas acadêmicas e profissionais mostrará inúmeros artigos e matérias salientando a importância do relacionamento com stakeholders, cujas atitudes e preferências terão efeito, em última instância, sobre os fluxos de caixa da empresa.
Observando os acontecimentos, parece ter faltado ao chefe da Petrobras, apesar dos seus outros acertos, a capacidade de antecipar e gerenciar as reações dos stakeholders à política de preços, assim como mitigar seus efeitos sobre a estratégia de geração de valor, que, vale lembrar, não se resume ao preço da ação no curto prazo. Caberá ao novo presidente da empresa uma maior atenção a esses pontos de forma a aprimorar a preservação dos interesses de longo prazo dos milhares de acionistas.
Lauro Gonzalez é professor de Finanças da EAESP-FGV e pesquisador visitante na Columbia University