quarta-feira, 20 de junho de 2018

Banco Central decide manter taxa de juros em 6,50% ao ano


Pela segunda reunião consecutiva, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiram, por unanimidade, manter a Selic (os juros básicos da economia) em 6,50% ao ano. Com isso, a taxa manteve-se no nível mais baixo da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996. No comunicado, o BC retirou a indicação usada em maio que sinalizava juros estáveis no futuro. Na decisão anterior, o comunicado citava que "para as próximas reuniões, o Comitê vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente". A frase não consta do comunicado divulgado nesta noite.
A decisão desta quarta-feira, 20, era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 49 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas projetavam manutenção da Selic em 6,50% ao ano. Parte dos economistas, no entanto, admitia que o cenário para a taxa básica estava mais incerto, em função da disparada do dólar ante o real nos últimos meses, da greve dos caminhoneiros iniciada no fim de maio e do próprio cenário internacional.
Copom
As datas das próximas decisões do Copom são as seguintes: 1º de agosto; 19 de setembro; 
31 de outubro; 12 de dezembro Foto: Beto Nociti/Banco Central
O BC argumentou que o juro estável "é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2018 e, principalmente, de 2019". Apesar do juro estável, o BC manteve a percepção de que a conjuntura econômica "prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural".
Ao tratar do futuro, o comunicado cita apenas que os próximos passos da política monetária "continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação". Não há menção, como visto em maio, de que o comitê entende como adequada "a manutenção da taxa de juros no patamar corrente".

No documento, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário de mercado - que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro, compiladas no relatório Focus -, o BC alterou sua projeção para o IPCA em 2018 de 3,6% para 4,2%. No caso de 2019, a expectativa foi de 3,9% para 3,7%.
No cenário de referência, em que o BC utilizou uma Selic fixa a 6,50% e um dólar a R$ 3,70 nos cálculos, a projeção para o IPCA em 2018 passou de 4,0% para 4,2%. No caso de 2019, o índice projetado foi de 4,0% para 4,1%. As projeções anteriores constaram na ata do encontro de maio do Copom.
Cenário externo. No documento, o BC diz que o ambiente internacional "seguiu mais desafiador e apresentou volatilidade". Nesse tema, os riscos estão "em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas". A avaliação desses riscos, continua o Copom, "produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais" recentemente. Esse ajuste, explica o BC, gerou "redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes".
Greve dos caminhoneiros. A greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio, "dificulta a leitura" da evolução da economia brasileira, reconhece o Banco Central. Apesar dessa dificuldade, os diretores do BC admitem que o movimento que afetou a economia por vários dias seguidos resulta em recuperação da atividade em "ritmo mais gradual". Na inflação, a autoridade monetária reconhece que o movimento grevista deve resultar em "efeitos altistas significativos e temporários" nos preços.
O comunicado da reunião desta quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que a "paralisação no setor de transporte de cargas no mês de maio dificulta a leitura da evolução recente da atividade econômica". Antes do protesto, em abril, os indicadores sugeriam "atividade mais consistente que nos meses anteriores", cita o documento. "Entretanto, indicadores referentes a maio e, possivelmente, junho deverão refletir os efeitos da referida paralisação".
Diante do impacto da paralisação, o Copom afirma que o "cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual". Em meados de maio, antes da paralisação, o tom do comitê era mais otimista. "Os últimos indicadores de atividade econômica mostram arrefecimento, num contexto de recuperação consistente, mas gradual, da economia brasileira", citaram os diretores em 16 de maio.
Inflação. Além da atividade, a greve dos caminhoneiros também deve gerar impacto "significativo" nos preços. Em trecho do comunicado, os diretores do BC avaliam que, no curto prazo, "a inflação deverá refletir os efeitos altistas significativos e temporários da paralisação no setor de transporte de cargas e de outros ajustes de preços relativos".
Os membros do Comitê consideram, porém, que essa pressão de alta é pontual. Para os meses à frente, o BC avalia que os indicadores de preços seguirão "em níveis baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária".
Fabrício de Castro e Fernando Nakagawa, O Estado de S.Paulo