quinta-feira, 26 de junho de 2014

Uma princesa no banco dos réus. Pode pegar até 16 anos... No Brasil, Lula, chefe da gangue do mensalão, sequer foi processado

Cristina será processada por lavagem de dinheiro e fraude fiscal


MADRI — A infanta Cristina, uma das duas irmãs do rei Felipe VI, deve se sentar no banco dos réus quando começar o julgamento do Caso Nóos, num novo golpe contra a monarquia espanhola. O juiz que investiga há três anos suspeitas de desvio de dinheiro público pela empresa do marido da princesa tomou a decisão de manter o indiciamento dela nesta quarta-feira por lavagem de dinheiro e fraude fiscal, apenas seis dias depois da proclamação do novo monarca. As acusações podem levar a até 16 anos de prisão. Após tomar conhecimento da notícia nesta quarta-feira, a Casa Real expressou “total respeito à independência do poder jurídico”.

Iñaki Urdangarin, cunhado de Felipe VI e que presidia o Instituto Nóos, também se sentará no banco dos réus. O marido da infanta é acusado por nove delitos, entre os quais, desvio de verbas — € 6 milhões —, prevaricação, falsificação e fraude. No total, serão 16 acusados entre as 32 pessoas que, inicialmente, estavam implicadas no processo.
‘'Há indícios de sobra que Cristina interveio lucrando em benefício próprio'’
- JOSÉ CASTRO DE PALMA DE MALLORCAJuiz que indiciou a princesa
O dinheiro desviado do instituto teoricamente sem fins lucrativos foi usado por Cristina para reformar seu palacete, comprar obras de arte, pagar aulas de salsa e merengue, vestidos, viagens de luxo e festa de aniversário de seus filhos, segundo o jornal “El Mundo”.

O caso provocou um escândalo na família real que contribuiu para derrubar a popularidade do rei Juan Carlos I, antes de sua abdicação em 2 de junho. As consequências do chamado Caso Nóos constituem um dos primeiros problemas que Felipe VI deve enfrentar, depois de ter assumido o trono em 19 de junho.
Desde a denúncia, em dezembro de 2011, a Casa Real manteve diferentes reações, destacou o diário “El País”. Não houve comentários sobre o indiciamento de Urdangarin, embora o então chefe da casa, Rafael Spottorno, tenha classificado o comportamento do genro do rei de “não exemplar” e, portanto, incapaz de continuar participando de eventos oficiais da família real.

Em abril de 2013, quando Cristina foi indiciada, o Palácio da Zarzuela expressou “surpresa” pela mudança de posição do magistrado, que havia rejeitado em ocasiões anteriores processar a princesa, mas ressaltou sua “imparcialidade”. A declaração foi interpretada como interferência e, por isso, quando a infanta foi novamente convocada a depor em janeiro passado, a Casa Real manifestou “respeito às decisões judiciais”. Nem mais uma linha “para evitar erros de interpretação”.

Nesta quarta, porém, a Casa Real citou pela primeira vez a “independência” do Poder Judiciário, num movimento considerado por analistas políticos como uma tentativa de se afastar do escândalo. Partidos políticos, como o Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), também elogiaram a independência do Judiciário após ser anunciada a decisão de manter o indiciamento da princesa.


‘CRISTINA COLABOROU ATIVAMENTE COM O MARIDO’

Ao encerrar uma investigação iniciada em 2010 e que o chefe da Casa Real durante o reinado de Juan Carlos, Rafael Spottorno, chamou de “martírio”, o juiz José Castro emitiu um auto no qual conclui que “devem continuar imputados, entre outros, Iñaki Urdangarin e a infanta Cristina”, informou o tribunal. A decisão, no entanto, não é definitiva e pode ser objeto de recurso ante o próprio juiz ou ante a Audiência Provincial das Ilhas Baleares.

“Os crimes imputados a Iñaki Urdangarin dificilmente poderiam ter sido cometidos sem o conhecimento e aquiescência de sua mulher. Cristina de Bourbon colaborou ativamente com Iñaki Urdangarin nas irregularidades. Há indícios de sobra que ela interveio, em uma parte, lucrando em benefício próprio, e de outra, facilitando os meios para que seu marido o fizesse, mediante cooperação silenciosa de 50% de capital social dos fundos ilicitamente ingressados à entidade Aizoon”, explica Castro em seu auto.A procuradoria anticorrupção foi contrária ao indiciamento de Cristina pelo juiz Castro, para quem ela prestou depoimento em 8 de fevereiro. A infanta, de 49 anos, teria, segundo o magistrado, cooperado com o marido na suposta fraude.

Urdangarin e seu sócio Diego Torres cobraram mais de € 6 milhões a governos regionais para organizar eventos que gastaram apenas € 2 milhões. Eles receberam os contratos por meio do Instituto Nóos, que se apresentava na forma de uma organização sem fins lucrativos. A entidade, no entanto, desviava a verba para empresas privadas. Uma delas é a Aizoon, cujos proprietários eram Cristina e seu marido. O casal gastou dinheiro público para fins particulares, fazendo passar pelo Tesouro espanhol como despesas da empresa.