sábado, 28 de junho de 2014

Para Moody’s, contrato entre Petrobras e governo põe em xeque perfil de crédito da empresa

O Globo

Agência diz que recursos antecipados pelas áreas de cessão onerosa poderiam ser usados para investimento


O contrato firmado entre a União e a Petrobras para a produção do volume de petróleo excedente na área da cessão onerosa por R$ 15 bilhões traz pressão adicional para o perfil de crédito da empresa, num momento em que a petrolífera já está bastante endividada. A análise é da agência de classificação de risco Moody's e foi divulgada nesta sexta-feira.

"A demanda de recursos é negativa para o crédito da Petrobras, desviando recursos que a empresa necessita para o maciço programa de investimento para um período de cinco anos e colocando pressão adicional sobre seu perfil de crédito em um momento de alavancagem já elevada", afirmam as analistas.

A Moody's lembra que a Petrobras está altamente alavancada hoje, com indicador dívida/Ebitda (lucro antes de juros, depreciações e amortizações) de quatro vezes e um indicador dívida/capitalização de 39% reportados em março de 2014.

"Os dois indicadores já estão mais fracos do que as próprias metas da Petrobras, de dívida/Ebitda em 2,5 vezes e dívida/capitalização em 35%.

A Petrobras ainda tem de divulgar suas estimativas para o volume recuperável de petróleo, custos, investimentos e o calendário dos sistemas de produção dos volumes excedentes.

"Qualquer recurso em excesso da Petrobras poderia ter utilizado para financiar seus enormes planos de investimentos e para reduzir as necessidades de novos empréstimos. Mas, em vez disso, irão para o pagamento por reservas de petróleo possivelmente com anos de antecipação em relação a quaisquer lucros que a empresa possa gerar a partir das vendas", diz a Moody's.

De acordo com o contrato, a Petrobras pagará R$ 13 bilhões nos próximos quatro anos, representando uma antecipação de parte do valor do petróleo. Outros R$ 2 bilhões serão pagos este ano como bônus de assinatura do contrato.

A Moody's lembra que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) elevou suas estimativas para as reservas dos quatro campos de petróleo nos quatro campos da Petrobras no pré-sal (Búzios, Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi), de 5 para 15 bilhões de barris de óleo equivalente (boe). Mas a agência de classificação de risco lembra que as dificuldades técnicas para colocá-las em produção exigiu da Petrobras investimento pesado em desenvolvimento.

"A profundidade média dos campos offshore é de 7.000 metros, o que se traduz em altos custos de produção e risco operacional significativo. A Petrobras tem um programa de investimento que exigiria empenho de US$ 207 bilhões no período de 2014 a 2018", diz a Moody's.

E embora a Petrobras possa contar com muitos anos mais de lucros do petróleo produzido nas formações do pré-sal, afirma a agência, as estimativas mais elevadas da ANP não ajudam muito o fluxo de caixa anual da empresa, que apenas seria elevado por meio de produção mais alta.

A agência de classificação de risco Fitch também avaliou, em relatório divulgado nesta sexta-feira, de que essa nova obrigação da Petribras fará com que a empresa tenha uma nova perda na capacidade de geração de crédito e também terá o seu perfil de dívida prejudicado.