sábado, 28 de junho de 2014

Já candidato, Campos alfineta Aécio e Dilma em convenção do PSB

CATARINA ALENCASTRO, JÚNIA GAMA E MARIA LIMA - O Globo

Partido oficializou neste sábado a candidatura do socialista à Presidência


O PSB oficializou neste sábado a candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à Presidência com Marina Silva (Rede) como vice. Em seu discurso, Campos criticou o fisiologismo do PSDB e o uso de ameaças por parte do PT. Sem citar o tucano Aécio Neves, ele falou sobre os que se deixaram seduzir pelas velhas elites políticas. Sobre Dilma, diz que não vai se abater pelo discurso do medo. Campos ironizou ainda uma declaração de Aécio, que, essa semana, afirmou que “os partidos da base estão sugando o governo, mas depois irão para seu palanque”.

- Vamos acabar com esse suga suga! Sugam de um lado hoje, para depois sugar do outro lado. E tem gente que acha isso bem bonito! Isso é inaceitável. Vamos acabar com esses sangue sugas dos cofres brasileiros - discursou Eduardo Campos, criticando: - Há os que acham que usando os mesmos métodos, os mesmos caminhos, vão chegar a resultados diferentes. É um erro, um equívoco, o mesmo caminho vai levar ao mesmo lugar.

Sobre o discurso da campanha de Dilma, de “pregar o medo dizendo que os adversários vão acabar com programas sociais como Bolsa Família ou Prouni“, o presidenciável disse que vai melhorá-los.

- Nosso governo vai acabar é com a corrupção, com o patrimonialismo.

Eduardo Campos sublinhou que o projeto da chapa não é eliminar ninguém, mas construir uma governabilidade "ficha limpa" a partir do dia 1º de janeiro. Admitiu as dificuldades da coligação com Marina Silva (Rede), mas disse que não havia outro caminho “coerente”. 

Adiantou propostas de governo e prometeu, como Aécio, fazer a reforma tributária no primeiro ano de governo.

- Escolhemos o caminho mais desafiador, mas o único coerente - destacou o socialista.


Marina compara aliança com PSB a uma gestação

O discurso da ex-senadora Marina Silva foi anunciado especialmente pelo candidato a presidente, que assumiu o posto de mestre de cerimônias. Ela começou seu discurso agradecendo primeiramente a Deus e iniciou a defesa da nova política. Para Marina, a aliança com Eduardo Campos significa vida nova, a mudança com qualidade, capaz de preservar e ampliar as conquistas, além de aprofundar a democracia

- Hoje completa nove meses do nosso encontro. É uma gestação. É como a beleza de colocar uma vida nova no mundo. E digo aqui: essa criança nasceu! - exaltou Marina, ao comemorar a oficialização da chapa Eduardo e Marina.

Ao falar das divergências da aliança da Rede com o PSB de Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva recorreu a ensinamentos aprendidos com os povos da floresta . Ela disse que está enganado quem pensa que ela e Eduardo só conversam sobre "ingrisias", e que, ao contrário, conversam, trabalham, sonham e lutam para levar a frente o projeto de mudar a política brasileira. Citando sua avó, que a criou, disse que o povo da floresta "não foge com medo do balançar do rabo da serpente", pelo contrário, aí é que sabe que está no caminho certo.

- Quando a cobra balança o rabo é porque ela sabe que foi acertada, e foi acertada na cabeça - disse Marina, ao falar da solidez da aliança com Campos.

Dirigindo-se à militância e aos delegados presentes, a ex-ministra pediu que seja feita uma campanha "limpa" e sem agressões.

- Nós temos um pacto de não agressão, de fazer uma campanha limpa. Por favor vamos honrar. Nossa campanha, da nossa militância, tem que ser uma campanha limpa - lembrou.
Sem citá-lo, Marina criticou a declaração de Aécio de que um tsunami varreria o PT do poder, e o atual governo, que adota a estratégia do medo da volta a um passado pior do que o presente.

- Ninguém pode construir nada grandioso apelando para as forças mais furiosas da natureza como metáfora para a política. Também não se constrói nada com base no medo. O medo não é uma energia boa para acalentar sonhos - disse Marina, defendendo a "alternância de poder".

O ex-deputado Tarcísio Delgado, candidato do PSB que vai disputar com os tucanos e o PT o governo de Minas Gerais, foi saudado por ela como o novo governador. O presidente do PSB mineiro, Júlio Delgado, que cedeu a vaga ao pai, diz que o discurso já tem e será o mesmo que sustentou o rompimento do PSB com o governo federal: fadiga de material.

Delgado admitiu que a decisão de romper com os tucanos em Minas gerou conflitos internos, como com o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o dirigente do Atlético, Kalil, que seria candidato a deputado federal e um dos puxadores de votos para Eduardo no estado. Mas disse que dissidentes de outros partidos, como o PMDB, vão se juntar pela candidatura de Tarcisio.

- Márcio Lacerda está bravo, é dissidente. Disse que vai pedir licença do partido e vai sair da campanha. esperamos que ele possa digerir essa decisão e mudar de ideia - disse Júlio Delgado.

Os militantes socialistas, que lotaram o Centro de Convenções onde se realizou a convenção do PSB, receberam Campos e Marina com gritos de “Ei Dilma, sai pra entrar Dudu!!”. O grito de guerra é uma adaptação da vaia dada a presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa, no Itaquerão, em São Paulo. No palco, estão lideranças políticas de todos os matizes, do representante do Partido Comunista Chinês e Partido Socialista argentino ao ex-democrata e hoje socialista Heráclito Fortes, candidato a deputado federal pelo Piauí.

- Sou socialista desde criancinha, mas só agora tive oportunidade de exercer! Trouxe até o mais novo representante da família socialista para prestigiar a convenção - disse Heráclito Fortes, mostrando o netinho.

O pré-candidato do PSB ao governo do DF, senador Rodrigo Rollemberg, foi um dos primeiros a chegar. Repetindo o que vem sendo dito incansavelmente por Campos, Rollemberg afirmou que a presidente Dilma Rousseff entrega o Brasil pior do que recebeu e que Eduardo e Marina são os únicos que representam o desejo de mudança da população, identificado em pesquisas.

- Quem representa o desejo de mudança da população brasileira é Eduardo e Marina. A população brasileira não quer nem o que está aí, nem quer voltar ao passado, quer construir um novo momento da história sustentado em valores como ética, inovação, sustentabilidade, eficiência. A presidente Dilma teve todas as oportunidades e está entregando o Brasil pior do que recebeu. Ela não tem condições, não tem credibilidade, para se apresentar como instrumento de mudança nenhuma. Ela representa uma continuidade ruim para o Brasil - afirmou Rollemberg, que se aliou, no DF, ao puxador de votos José Antônio Reguffe, deputado mais votado nas últimas eleições e que em outubro tentará o Senado.

Rollemberg apontou que hoje o país está crescendo menos, enfrenta uma crise energética e retrocesso na área ambiental, esta última a principal bandeira de Marina, que já foi ministra do Meio Ambiente de Lula.

O senador socialista disse ainda que a candidatura do PSB também difere da do tucano Aécio Neves e que isso ficará claro para a população a partir do início da campanha, em 5 de julho. Rollemberg afirmou que o partido não está preocupado com o fato de a candidatura Eduardo-Marina ainda não ter decolado e que muito mais do que os 20 milhões de votos que Marina conseguiu nas últimas eleições aparecerão nas urnas.

- O voto só acontece no momento da eleição. Não serão 20 milhões de votos que Eduardo e Marina terão. Terão muito mais.