quarta-feira, 25 de junho de 2014

Rachado, PP empurra para Executiva e não define apoio à reeleição de Dilma

Marcela Mattos - Veja


Presidente da legenda, senador Ciro Nogueira conseguiu aprovar uma resolução às pressas para delegar à Executiva do partido a decisão sobre apoio na disputa à Presidência



O senador Ciro Nogueira em Brasília
PRESSÃO – O senador Ciro Nogueira, presidente do PP: resolução aprovada às pressas para evitar desembarque do partido à candidatura de Dilma Rousseff (Luiz Alves/Agência Senado)
O Partido Progressista (PP) deu mais um exemplo nesta quarta-feira da divisão que cerca os principais aliados da presidente Dilma Rousseff às vésperas da largada oficial da campanha. Pressionado pela ala da sigla que não aceita a adesão à candidatura à reeleição de Dilma, o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), aprovou uma resolução que empurra a decisão para a Executiva do partido – e, portanto, para a cúpula comandada por ele.
Para assegurar o apoio do PP, o Palácio do Planalto firmou o compromisso de manter o cobiçado Ministério das Cidades, um dos maiores orçamentos da Esplanada, sob o comando da sigla. Em troca, o PP repassará seus quase um minuto e vinte segundos para a campanha eleitoral de Dilma na televisão.
A Convenção Nacional foi marcada por vaias e bate-boca. Delegados partido chegaram a propor a votação de uma moção de apoio ao tucano Aécio Neves, adversário de Dilma nas eleições. Em seguida, sufocados pela decisão de Ciro, prometeram recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para invalidar a resolução.
“Não me parece que a continuidade que aí está seja no sentido de mudar o país. Está claro que o Brasil precisa de um processo de limpeza ética”, disse o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ).
O presidente da legenda, que declara abertamente apoio a Dilma, ignorou as manifestações e aprovou sua resolução que delega poderes à Executiva para “escolher candidatos à presidência e/ou a vice-presidência” e para “apoiar qualquer candidato à Presidência da República, inclusive compartilhar o tempo destinado à propaganda eleitoral no rádio e na televisão”. Na saída do evento, Ciro Nogueira esquivou-se de perguntas de jornalistas e se limitou a dizer que a decisão foi “democrática”.
“O Ciro demonstrou despreparo, não teve capacidade de ouvir os convencionais do PP. Lamentavelmente, nenhuma tese foi acolhida pelo presidente, que demonstrou arrogância e prepotência. Ele está conduzindo o partido a um buraco negro”, criticou o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Diniz Pinheiro. O presidente do partido também foi chamado de “vendido” pela ala dissidente.


A senadora Ana Amélia Lemos, candidata ao governo do Rio Grande do Sul, afirmou que cabe aos convencionais, e não à Executiva, deliberar sobre o tema. “O que saiu daqui é a demonstração clara do inconformismo por não aceitarmos a imposição de uma vontade de maneira pouco democrática. Hoje nós queríamos a neutralidade”, disse.