Blog Ricardo Setti - Veja
XINGAMENTOS A DILMA: Lula critica a imprensa e “as elites” — logo ele, rei do palavrão, que chamou publicamente de “filho da puta” um presidente da República!!! E um homem digno e sério, como Itamar Franco!!!

Lula em evento de apoio à
candidatura do senador Armando Monteiro (à esq.) ao governo de Pernambuco. O
candidato é exemplar ilustríssimo das “elites” que o ex-presidente voltou a
criticar fervorosamente — rico, herdeiro de uma dinastia de industriais e
banqueiros, filho de um ex-ministro e neto de um ex-governador (Foto: Leo
Caldas)
Post publicado originalmente a 16
de junho de 2014, às 17h14
Lá vem ele de novo — Lula.
Lula, o presidento que mais beneficiou
banqueiros e empreiteiras na história da República — pregando contra “as
elites”.
“A elite brasileira está conseguindo fazer o que nunca conseguimos”, bradou Lula. “Despertar o ódio de classes”.
Como se não fosse o PT que passasse a mão o tempo todo em “movimentos sociais” violentos e baderneiros, como o MST ou os diferentes movimentos de sem-teto, que pregam abertamente a luta de classes como forma de chegar ao poder.
Como se não tivesse partido do então chefão petista José Dirceu (hoje na cadeia como mensaleiro) a famosa conclamação — já com o governador de São Paulo Mário Covas morrendo de câncer — de maio de 2000 para que os petistas baterem nos tucanos “nas ruas e nas urnas”.
O novo surto do ex-presidento, que já vinha se esboçando
em reclamações furiosas contra empresários que ousam apoiar o tucano Aécio Neves
na próxima eleição e em explosões de raiva em encontros com correligionários,
veio à tona no Recife, durante evento de apoio à a candidatura do senador
Armando Monteiro Neto (PTB) ao governo de Pernambuco.
Por uma dessas ironias deliciosas da política e da
vida, o senador de quem Lula ergueu o braço é a própria encarnação do que o
ex-presidento critica como
“elite”: multimilionário, herdeiro de uma dinastia de industriais e banqueiros,
ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria, filho de um ex-ministro da
Agricultura e neto de um ex-governador de Pernambuco.
O fato serviu de pretexto para nova investida
contra as “elites”. Para Lula, os xingamentos vieram da “parte bonita da
sociedade” — algo curioso para quem critica ódios e discriminações, porque o
ex-presidento assumiu,
imediatamente, a hipótese de que só pessoas endinheiradas foram à partida
inaugural (a “parte bonita da sociedade”) e que, portanto, pobre é feio.
Mas quem diz que o homem está preocupado com coerência? Pois não é que Lula, o rei do palavrão, que já proferiu em palanques e no próprio gabinete presidencial expressões que não posso reproduzir na coluna, ainda quis dar lição de boas maneiras?
“Respeito, educação, a gente aprende na casa da gente (sic)”, ensinou. É de morrer de rir, por partir de quem partiu.
Só para lembrar um único episódio absolutamente revelador, quem foi o líder de âmbito nacional, presidente de um grande partido político, àquela altura ex-candidato bem votado ao Planalto e prestes a começar nova campanha eleitoral que, no dia 8 de maio de 1993, em Teófilo Otoni (MG), chamou o presidente da República, Itamar Franco, de “filho da puta”?
Se você quer rir (para não morrer de vergonha)
com outros episódios do tipo protagonizados pelo cidadão que, entre muitas, fez
aquela declaração machista e horrorosa sobre a cidade de Pelotas (RS), não
deixe, em hipótese alguma, de ler este
post de Augusto Nunes a propósito do palavreado ex-presidencial.