terça-feira, 24 de junho de 2014

Abreu e Lima: A lógica por trás de uma refinaria no Nordeste. Problema foi a gangue de Lula entrar na parada...

 

Necessidade de atender ao mercado doméstico com um diesel de melhor qualidade foi fator decisivo para o projeto

 


Desde os anos 90, a Petrobras vinha estudando a construção de uma refinaria no Nordeste do país. Com o Plano Real e a estabilização da moeda, os carros populares ficaram mais acessíveis, elevando o consumo da gasolina. Paralelamente, havia forte perspectivas de incremento no consumo de diesel, dado o perfil de inserção internacional da economia brasileira, ancorado na exportação de commodities, que dependiam do cada vez maior fluxo de caminhões nas estradas.

No estudo de mercado encomendado pela Petrobras à consultoria PIRA e que embasou a decisão da construção da refinaria Abreu e Lima, em 2005, previa-se que a demanda dos seis principais produtos refinados no Brasil cresceria a uma taxa de 2,6% ao ano até 2020 e que o diesel responderia por 47% dessa demanda. Os estados da Região Nordeste responderiam por 19% de toda a demanda em 2020.

Em meados dos anos 2000, o parque de refino brasileiro dava sinais de esgotamento. Na década anterior, a Petrobras havia expandido a capacidade de refino apenas com otimizações e ampliações em refinarias já existentes — a última foi construída em 1980. Com o desenvolvimento da Bacia de Campos, acreditava-se ainda que haveria excedente de petróleo pesado no país, um problema para a indústria de refino nacional, desenhada para processar o petróleo leve importado.

Havia também a pressão da nova legislação ambiental a que a Petrobras teria de se adequar a partir de 2009, que previa a produção de um diesel com menor teor de enxofre. Construir uma refinaria no Nordeste e com foco no diesel, como a refinaria Abreu e Lima, portanto, fazia sentido.


INVESTIMENTO “DIFICILMENTE SE PAGARÁ”, DIZ ESPECIALISTA

A parceria com a petrolífera venezuelaza PDVSA, que acabou não se materializando, também tinha uma lógica empresarial, frisa um ex-diretor da estatal brasileira, embora reconheça que a sociedade tinha mais razões políticas do que técnicas. A Petrobras havia comprado a petrolífera argentina Pérez Companc em 2002 e, com isso, havia herdado campos de petróleo na Venezuela. Era necessário agregar valor a esse petróleo, o que poderia ser feito refinando o óleo venezuelano no Brasil.

Nos estudos feitos pela Petrobras, em 2005, foram analisados cinco estados brasileiros: Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão Ceará e Pernambuco. A escolha por esse último, terra natal do ex-presidente Lula, tem motivações sobretudo políticas. Na época, a previsão de gastos na refinaria era de US$ 2,3 bilhões.

Hoje, a previsão oficial é que Abreu e Lima saia por US$ 18,5 bilhões. Mas já há análises internas na Petrobras que sugerem que o valor possa chegar a US$ 20,1 bilhões, quase dez vezes maior que o orçamento inicial. Na avaliação do especialista em refino da Coppe/UFRJ, Alexandre Szklo, o investimento “dificilmente se pagará”.

— A ideia geral de fazer uma refinaria no Nordeste fazia sentido. Mas o diabo está nos detalhes. A Petrobras se viu obrigada a fazer duas refinarias em uma (os chamados dois trens) para processar o petróleo brasileiro e o venezuelano. Já em 2005, nossas contas aqui na Coppe apontavam para um orçamento entre US$ 8 bilhões e US$ 12 bilhões, considerando apenas um trem. Hoje, com investimento estimado de mais de US$ 18 bilhões, a refinaria se justifica sob a ótica privada? Não. Sob a ótica pública, talvez, se considerada a questão a segurança energética (necessidade de suprimento de diesel). Ainda assim, dificilmente o investimento se pagará — afirma Szklo.