Blog Rodrigo Constantino - Veja
Sejamos “tolerantes”: façamos silêncio!!!
A intolerância dos
“tolerantes” já foi tema de coluna minha, e julgo esse um dos assuntos culturais mais
relevantes de nossos tempos. Por trás da máscara do politicamente correto, uma
patota fascista tenta impor sua visão estreita de mundo, em que o humor não mais
existe ou, se existe, precisa se adaptar aos ditames dos “oprimidos”, para
enaltecer sempre a narrativa de vitimização das “minorias”.
Professores sofrem bastante com isso. O
livro A mancha humana, do grande escritor americano Philip Roth,
transformado em filme com Anthony Hopkins, mostra como o uso de uma simples
expressão ambígua pode desencadear uma série de mal-entendidos que culminam em
uma desgraça. A ficção se tornou realidade, e vários professores temem hoje
sofrer retaliação pelo simples uso de um termo que pode ser retirado do contexto
pelos “fascistas do bem”.
Na Folha, hoje, foi
publicado um artigo de dois professores que contam exatamente suas
experiências bizarras em sala de aula, vítimas da patrulha politicamente
correta. Dizem eles:
Nós, professores de ensino médio e pré-vestibular, temos
sido, em sala, alvos das mais pesadas acusações. Imbuídos de uma espécie de
“neofundamentalismo politicamente correto”, alguns alunos retiram nossas
observações de contexto e as usam como combustível para justificar sua
intransigência, que cresce a cada dia em progressão geométrica de razão
infinita.
Claro, atitudes machistas, homofóbicas e afins devem ser
combatidas. Mas, em torno dessa causa justa, surgiram patrulhas ideológicas,
sempre atentas a toda possível ação preconceituosa. O olhar do crítico está tão
viciado que busca preconceito, avidamente, onde não há.
[...]
Os patrulheiros não costumam ser agentes de mudança. São
como fiscais de trânsito, que só multam, mas não colaboram para melhorar o
fluxo. “Descobrem” infrações que nem foram cometidas. Medem cada palavra do
professor, buscando ferozmente uma má intenção que não está ali.
Nessa caça intensa, os patrulheiros não se dão conta de
que ficaram mais agressivos do que muitos daqueles que imaginam combater.
Praticam um preconceito às avessas. “Eu faço parte de um grupo iluminado que
dita as regras e é bom você me obedecer.” Só que as regras –repetidas “ad
nauseam”, sem reflexão– quase nunca fazem sentido quando avaliado o
contexto.
Em seguida, e após casos concretos relatados, os
autores comparam a situação com aquela descrita na distopia de George Orwell
em 1984, quando a novilíngua define as palavras aceitáveis em busca do
pleno controle do pensamento. Os professores Luís Pereira e Sílvio Pera
concluem:
Ao ouvir certas expressões (o contexto pouco importa),
detectam “preconceito” e atiram contra o inimigo. Os jovens patrulheiros veem
maldade em tudo. Impregnados, eles sim, por preconceitos, desprezam o humor
popular, que muitos professores usam apenas para quebrar a tensão. Acreditam que
só o “humor inteligente”, isto é, o militante da “causa”, é aceitável. Jamais
aprovariam a comédia nonsense dos mestres ingleses do Monty Python, pois “não é
engajada”.
São movidos por boas intenções, mas podam, são censores.
Transformaram-se naquilo que dizem abominar. Em nome da tolerância, têm cometido
as maiores intolerâncias.