sexta-feira, 23 de maio de 2014

'Financial Times': contas de Piketty sobre desigualdade na distribuição de riqueza estão erradas

O Globo

  • Jornal britânico afirma que planilhas do economista, usadas em seu best seller 'Capital no Século 21', contêm falhas que afetam suas descobertas
O economista francês Thomas Piketty: best-seller sob suspeita, segundo o FT Foto: ED ALCOCK / NYT
O economista francês Thomas Piketty: best-seller sob suspeita, segundo o FTED ALCOCK / NYT


Transformado em "superstar" da economia após a publicação de seu estudo sobre o aumento da desigualdade, "Capital no século 21", o economista francês Thomas Piketty está na berlinda. Uma reportagem do "Financial Times" aponta que a tese de 577 páginas de Piketty contém "uma série de erros que afeta suas descobertas".

O "FT" afirma ter descoberto no trabalho do francês "erros e dados inexplicados em suas planilhas, similares às que enfraqueceram o trabalho sobre dívida pública e crescimento de Carmen Reinhart Kenneth e do ex-secretário de Tesouro americano Kenneth Rogoff".

O argumento fundamental do livro de Piketty, que tem estado no topo das listas de best-sellers, é de que a imensa maioria da riqueza mundial está nas mãos de poucos e que desigualdade mundial voltou aos níveis encontrados antes da Primeira Guerra.
"O professor Piketty fornece fontes detalhadas para suas estimativas da desigualdade de riqueza na Europa e nos EUA nos últimos 200 anos. Em suas planilhas, no entanto, há erros de transcrição das fontes originais e fórmulas incorretas. Também parece que alguns dados foram escolhidos cuidadosamente ou construídos sem uma fonte original", diz o "Financial Times".

O FT diz que, uma vez que os dados foram "limpos e simplificados", os números para a Europa não apontam a tendência que ele afirma de aumento da desigualdade a partir da década de 70. O jornal afirma que compartilhou sua análise com um especialista independente especializado em medição de desigualdade e ele também mostrou preocupações com os dados.

Piketty argumentou, porém, que usou "um conjunto muito diverso e heterogêneo de fontes de dados" e que foram necessários "ajustes". Ele brincou que ficou feliz de ver que os jornalistas usarem as planilhas que ele colocou on-line à disposição dos interessados, mas que precisa lidar com os dados disponíveis.

— Não tenho dúvidas de que minha série histórica de dados pode ser aprimorada e vai ser aprimorada no futuro... mas eu ficaria bastante surpreso de qualquer conclusão substantiva sobre a evolução no longo prazo da distribuição de riqueza fosse muito afetada por estes aprimoramentos — respondeu Piketty ao "FT".

Ex-secretário do Tesouro dos EUA também se envolveu em controvérsia

As inconsistências na compilação dos dados econômicos também minaram a credibilidade do estudo "Crescimento em tempos de dívida" (tradução livre), de Carmen e Rogoff, lançado em 2010. O argumento principal era de que os governos que assumiram altos níveis de endividamento possuíam taxa de crescimento muito mais lenta do que os demais.

No ano passado, ao tentar refazer as contas da dupla para um trabalho acadêmico, Thomas Herndon, aluno da University of Massachusetts Amherst, descobriu que não conseguia replicar os resultados. Intrigados, dois de seus professores, Michael Ash e Robert Pollin, tentaram ajudá-lo, mas, ainda assim, as contas não fechavam.

Depois de duvidarem de suas próprias capacidades, eles chegaram à conclusão de que havia erros nas tabelas dos dois e publicaram um artigo afirmando que as relações entre a dívida pública e o crescimento de uma economia existem, mas são muito mais sutis do que as apontadas pelo estudo de Carmen e Rogoff.

Os autores do estudo questionado agradeceram a atenção e admitiram a necessidade de correção de uma das figuras, disseram que redobrariam os esforços para que este tipo de coisa não voltasse a acontecer, mas descartaram impactos mais profundos dos erros nas suas conclusões:

"Não acreditamos, no entanto, que esta escorregada lamentável afete de qualquer forma significante a mensagem central do estudo e de nosso trabalho subsequente".


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