A disputa pela Eletropaulo chegou a Bruxelas. A espenhola Iberdrola, dona da Neoenergia, que está no rali pelo controle da maior distribuidora de energia do Brasil, apresentou uma denúncia contra a Enel, da Itália, argumentando que a companhia viola princípios da livre concorrência e tira proveito da posição monopolista por ter como acionista majoritário o Estado italiano.
“A Enel opera com critérios de mercado e toma decisões de negócio que não obedecem a nenhuma lógica econômica”, sustenta a empresa espanhola. “Se aproveita de sua posição e não respeita as regras”, complementa.
Para a Iberdrola, a Enel, por contar com capital público, tem uma situação de “privilégio regulatório na Itália”, um “acesso mais barato aos mercados de capital” e opera “quase um monopólio”, segundo a carta assinada pela diretora de assuntos europeus da empresa italiana, Eva Chamizo, divulgada pela imprensa.
A Enel negou de imediato as acusações feitas pela Iberdrola, que classificou como “sem fundamento” e que confundem a política de energétia da empresa em Itália e Espanha com a disputa pelo mercado brasileiro.
“A falta de substância de todas as alegações é bastante surpreendente para um documento desse tipo, e resulta em uma série de declarações confusas com um único objetivo aparente: evitar uma concorrência justa para a Eletropaulo, imediatamente após a diretoria desta empresa desistir de prosseguir com um aumento de capital que teria garantido uma vantagem competitiva única para a Neoenergia, uma empresa que a Iberdrola controla completamente”, diz a nota da Enel Americas.
A companhia italiana reforça que “Enel Americas participa da concorrência através de sua filial Enel Brasil Investimentos Sudeste, e defende um processo aberto e transparente de licitação”, conclui em nota.
OFERTAS SEGUEM AUMENTANDO
Cada grupo tira da manga cartadas para avançar na acirrada competição pela Eletropaulo. A companhia paulistana anunciou uma oferta pública de distribuição primária de ações (follow-on) com o objetivo de capitalizar a empresa para fazer frente a pagamento de compromissos e financiar investimentos previstos em seu plano de negócios. A operação seria realizada na próxima semana.
Ocorre que a Eletropaulo anunciou este mês um acordo de investimento com a Neoenergia. Em paralelo, começou a receber ofertas públicas para aquisição do controle da companhia, podendo chegar à totalidade das ações. Além do braço da Iberdrola, estão no páreo a Enel e a Energisa. Ficou então acertado que em 18 de maio haveria um leilão para a aquisição da Eletropaulo.
No último fim de semana, a Enel enviou cartas ao conselho de administração da Eletropaulo e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão responsável pela regulação do mercado de capitais no Brasil, questionando a realização da operação de capitalização pouco antes do leilão para definir a disputa pela distribuidora de energia.
Destacou que, com o acordo de dividendos, a Neoenergia seria beneficiada no processo. A carta foi publicada em anúncio veiculado em jornais de grande circulação.
Com o movimento, a CVM solicitou explicações à Eletropaulo sobre a realização da capitalização, e a companhia acabou se decidindo pelo cancelamento da oferta pública primária de ações. Em paralelo, as apostas pela empresa brasileira seguem crescendo.
Ontem, a Enel aumentou sua oferta duas vezes, batendo R$ 32,20 por ação.
