sábado, 24 de março de 2018

Falta foco na Eletrobrás, por Adriana Fernandes

O Estado de S.Paulo

A troca de comando no Ministério de Minas e Energia é hoje acompanhada com mais emoção pelo mercado financeiro e tem mais potencial para interferir na volatilidade de preços do que a própria saída de Henrique Meirelles da Fazenda – tradicionalmente o cargo mais disputado da Esplanada dos Ministérios em Brasília.
O ministro Fernando Coelho já avisou que deixará o comando de Minas e Energia no dia 5 de abril para tentar se eleger pelo MDB a deputado federal por Pernambuco. O medo é que seu substituto entre no governo justamente com a missão de sabotar de vez a privatização da Eletrobrás. 
Inicialmente prevista para este ano, a venda da estatal de energia – que tem sido, nas últimas décadas, um feudo de indicações políticas do MDB –, foi anunciada em agosto de 2017. Mas, se misturou ao intricado jogo eleitoral de 2018 e pode não ocorrer devido à pressão de aliados do presidente Temer.
Na área econômica, há uma queixa cada vez mais crescente com a falta de foco do time político de Temer para destravar o processo no Congresso. Apontado como o projeto mais importante da agenda econômica este ano, a privatização da estatal de energia não recebe tratamento político na mesma magnitude de importância alardeada.
O tempo é curto e os projetos para permitir a privatização têm avanço lento no Congresso porque se transformaram em moeda de troca das negociações de alianças eleitorais regionais.
Embora os ministérios de Minas e Energia e Fazenda estejam bem alinhados tecnicamente em torno do desenho da proposta – algo historicamente incomum –, a falta de mobilização de governo tem aberto o flanco para os opositores da privatização que estão alojados nos segmentos da política e dos sindicatos com interesses contrários à venda da gigante de energia.
Além, é claro, dos grupos que lutam contra a privatização e que buscam votos nos setores da população que têm a mesma bandeira. No Tribunal de Contas da União (TCU), há forças importantes também contrárias à venda.
Com o processo em andamento, o problema maior que se coloca é o risco de liquidação das seis distribuidoras de energia administradas pela Eletrobrás e que ficam nas regiões Norte e Nordeste. Se não ocorrer a privatização, a liquidação será o caminho para essas distribuidoras, o que pode comprometer a própria viabilidade da Eletrobrás, que terá de assumir uma dívida bilionária. A essa altura, portanto, um processo inconcluso de venda poderá levar a um cenário muito pior politicamente para o governo.
É com essa argumentação que os ministérios da Fazenda e de Minas e Energia consideram que a guerra da privatização não está perdida. Algumas mudanças estão sendo costuradas para acomodar os interesses políticos. É o caso do senador Eduardo Braga (MDB-AM), ex-ministro de Minas e Energia, que já estaria mais próximo e se alinhando à privatização.
Com tantas incertezas no caminho da privatização, a troca de comando no MME passa ter papel central. Temer já sinalizou que vai buscar uma solução de continuidade técnica. Não significa, porém, que o secretário executivo, Paulo Pedrosa, será a opção natural de Temer.
Dependendo de quem for escolhido, o time atual, que trabalhou na proposta de privatização, abandona o barco. O grupo não fica se não houver empenho em seguir no processo de venda da estatal. Ninguém quer ficar como avalista de um projeto que não é o seu.
* Adriana Fernandes é jornalista do Broadcast