Os verificadores convidam o leitor a pôr em dúvida suas crenças e abandonar suas certezas para confiar nas certezas escolhidas pela agência
Em comemoração aos cinco anos da autoproclamada Agência de Fact-checking, Lupa, os supostos verificadores afirmam não ter o papel de “definir o que é certo ou errado, mas ajudar você a opinar e agir”. Os verificadores convidam o leitor a pôr em dúvida suas crenças e abandonar suas certezas para confiar nas certezas escolhidas pela agência.
Na divulgação da comemoração de seu aniversário, no Facebook, a Lupa afirmou taxativamente: “Fatos são eventos que realmente ocorreram, que podem ser comprovados. Checamos fatos, não opiniões”. No entanto, as checagens de opinião já se tornaram marca da agência, que virou piada nas redes sociais por conta das suas checagens claramente opinativas e da evidente fiscalização das opiniões, como é possível verificar nas diversas rechecagens feitas pela Agência EN ao longo dos últimos dois anos.
Recentemente, a agência Lupa “checou” a opinião do ex-presidente da farmacêutica Pfizer apenas reafirmando as informações que o pesquisador negava.
No início do seu texto de comemoração, a agência não desperdiça elogios ao próprio trabalho:
No nosso ano cinco, nos voltamos a nós mesmos, em um processo de reflexão. São cinco anos de jornalismo ético e transparente. Cinco anos de checagem independente e objetiva e de ações em busca de uma sociedade livre da desinformação. Uma sociedade que tenha autonomia para investigar, analisar e exercer sua real influência no ambiente digital.
Neste trecho, a agência afirma ter feito uma espécie de exame de consciência e chegou à conclusão de que é mesmo independente, objetiva e que sonha com uma “sociedade livre da desinformação”. Nesta sociedade utópica, a Lupa sonha que exista “autonomia” para a sociedade “investigar, analisar e exercer sua real influência no ambiente digital”. No entanto, inexiste até o momento uma agência reguladora ou checadora dos fact-checkings que seja apoiada pela Lupa, cabendo às agências como ela definir o que é verdadeiro e falso. Como veremos, caberá à sociedade, aceitar as certezas da Lupa.
Em defesa da “reflexão” e da dúvida em lugar da certeza, a agência convida leitores a “pensar sobre o que está além do que ouvimos e acreditamos”, isto é, acreditar na agência. A exemplo de órgãos de censura de regimes ditatoriais, a Lupa diz garantir conhecer e abordar o que chama de “registros históricos pacificados e estudos científicos consensuais”.
Vejamos o que diz outro trecho do texto da Lupa.
“Antes de ter certeza, é preciso ter dúvida. Essa é a nossa reflexão sobre 2020, o ano em que nos vimos frente a uma necessidade real de pensar sobre o que está além – do que vemos, do que ouvimos e do que acreditamos”.
Em nome da dúvida acima das certezas (do leitor), a agência chama para uma reflexão sobre o ano de 2020. Em seguida, apela para que os leitores pensem sobre o que está além (fora) do que vêem, ouvem e acreditam. Na sequência, porém, a agência afirma ter em mãos todas as certezas que são necessárias aos leitores.
“Entendemos que o nosso papel até aqui não é definir o que é certo ou errado, mas ajudar você a opinar e agir, baseado em informação verificada. Não em pontos de vista ou dogmas, mas em estatísticas, dados e fatos, nas leis que ordenam a sociedade, nos registros históricos pacificados e nos estudos científicos consensuais”.
Sua função, segundo a agência, “não é definir o que é certo ou errado, mas ajudar você a opinar e agir“. Contudo, ela afirma basear-se em “informação verificada”, em clara referência ao que é definido pela própria agência.
Como efeito de retórica, a Lupa criou o termo “estudos científicos consensuais” e “registros históricos pacificados” para justificar suas escolhas sobre documentos e estudos. Mas a Lupa se vale frequentemente de documentos de entidades que vêm sendo universalmente questionadas, além de emitir “checagens” em benefício de grandes grupos de comunicação ou aderirem à opinião de órgãos suspeitos de conflito de interesse, como no caso dos medicamentos para tratamento precoce para Covid-19, como ficou evidente no escândalo da Gilead Sciences, quando a agência tem aderido ao combate à hidroxicloroquina, que segundo diversos médicos vem salvando centenas de vidas.
Cristian Derosa, estudosnacionais.com