Segundo juiz, eles arriscaram a reputação de terceiros "sem qualquer evidência".
A Justiça de Santa Catarina condenou a Folha de São Paulo e a repórter Patrícia Campos Mello a indenizar em R$ 100 mil o dono das lojas Havan, Luciano Hang. O jornal acusou sem provas o empresário de financiar “disparos de fake news”. A decisão foi divulgada em 3 de dezembro. O jornal e a jornalista irão recorrer.
A acusação de que Hang financiava disparos de “fake news” foi feita em uma notícia intitulada “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, publicada em 18 de outubro de 2018. Desde a divulgação da reportagem, o jornal não apresentou as evidências que comprovariam a ilegalidade.
Para o juiz Gilberto Gomes de Oliveira Junior, o fato de que a Folha e a repórter noticiaram supostos crimes sem a apresentação de qualquer prova acabou “arriscando a reputação de terceiros sem qualquer evidência senão de relatos que dizem serem sigilosos.”
De acordo com a sentença, por mais que os fatos sejam de interesse público, “é necessário que haja um mínimo de lastro investigativo (…) pelo que se pode verificar do material coligido nos autos, não demonstrou ligação dos requerentes com tais fatos.”
Por fim, o juiz escreveu que “os danos decorrentes da reportagem são claros”. Ele levou em conta a repercussão midiática em torno da reportagem, “chegando a repercutir no envolvimento do primeiro requerente em Ação de Investigação Judicial Eleitoral perante o TSE, apontada nos autos.”
Em nota, Hang comemorou a decisão da Justiça: “É revoltante e triste para o nosso país, ver que um dos jornais de circulação nacional, usa da sua estrutura para destruir a imagem de pessoas e divulgar mentiras. Mas a verdade nunca falha.” o empresário disse que irá doar o dinheiro indenizado.
Já a Folha e a repórter vão recorrer. A advogada Taís Gasparian, que atua na defesa da Folha e Campos Mello, alegou: “O jornal não concorda com o teor da sentença, há diversas provas que foram juntadas aos autos. O juiz entendeu que as provas não eram suficientes, mas a Folha vai recorrer justamente para ter a apreciação da 2ª instância.”
CPMI das Fake News
Em fevereiro deste ano, Hans River, ex-funcionário de uma empresa de marketing digital chamada Yacows, prestou depoimento durante a CPMI das Fake News dentro da Câmara Federal.
River seria o denunciante ou um dos denunciantes da reportagem de Patrícia Campos Mello, divulgada em 2018 pela Folha. Contudo, diferentemente do que foi divulgado pelo jornal, o ex-funcionário declarou que os disparos em massa por Whatsapp não teriam sido contra o PT, mas sim a favor.
River acusou ainda Patrícia Campos Mello de se oferecer sexualmente a ele para obter informações privilegiadas. Após o depoimento, a Folha divulgou prints de mensagens entre River e Campos Mello que põem em xeque tal insinuação. Contudo, o jornal não desmentiu que os disparos de Whatsapp da Yacows eram em sua maioria, a favor do PT.
Dias depois de River, foi a vez do empresário Lindolfo Neto, um dos sócios Yacows, a prestar depoimento na CPMI das Fake News.
Segundo ele, a campanha de Jair Bolsonaro utilizou os serviços da Yacows, por intermédio de outra empresa, para o envio de 900 mensagens por Whatsapp. Contudo, negou que a Yacows tenha enviado “fake news” nessas 900 mensagens. Informação que contradiz a acusação da Folha, de que o então candidato estaria fazendo “disparos em massa”.
Além disso, o empresário afirmou que entre seus maiores clientes estavam o PT e o então candidato a presidência pelo MDB, Henrique Meirelles.
O deputado Rui Falcão (PT), que participava da CPMI na Câmara, confirmou que seu partido financiava disparos em massa pelo Whatsapp através da Yacows. Porém negou ilegalidades no processo.
Caio Silveira, estudosnacionais.com