segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Fiocruz prevê imunizar 130 milhões em 2021 com a vacina de Oxford; plano é começar até março

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aumentou a expectativa de vacinação dos brasileiros contra o vírus chinês após o anúncio de eficácia divulgado pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford. Segundo a instituição, a previsão é vacinar 65 milhões de brasileiros no primeiro semestre do ano que vem e outros 65 milhões no segundo semestre de 2021. A expectativa da Fiocruz é começar a vacinação entre o fim de fevereiro e o início de março.

O aumento de 30% no alcance da vacina ocorre porque a estratégia que se mostrou mais eficaz é a de usar meia dose - e não uma dose inteira - na primeira etapa. A vacina de Oxford foi administrada de duas formas diferentes: na primeira delas, os voluntários receberam metade de uma dose e, um mês depois, uma dose completa. Nesse grupo de voluntários, a eficácia foi de 90%. Já no segundo grupo, que recebeu duas doses completas da vacina, a eficácia foi reduzida a 62%. 

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Vacina é esperança para prevenção da covid-19 Foto: Andreas Gebert/Reuters

A Fiocruz tem um acordo de transferência de tecnologia  com a AstraZeneca e a Universidade de Oxford para a produção e oferto da vacina no País.  “O que nos deixa mais otimistas é que esse protocolo com eficácia de 90% traz um ganho de rendimento porque a primeira dose será com quantidade menor da vacina. E isso tem impacto muito significativo porque permite que o número de pessoas que vão receber cresça 30%”, diz Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz. 

A produção do imunizante pela Fiocruz e aplicação da vacina, no entanto, ainda dependem da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A AstraZeneca informou que se prepara para submeter imediatamente os resultados de eficácia às agências regulatórias ao redor do mundo, incluindo a Anvisa.

Procurada pelo Estadão, a Anvisa afirmou no fim da tarde desta segunda, 23, que até o momento não recebeu solicitação de reunião para esta segunda-feira por parte da empresa. Também disse que não tem "pedido formal de registro desta ou de qualquer outra vacina para o Brasil".

Segundo Krieger, havia a expectativa de produzir 200 milhões de doses para vacinar 100 milhões de pessoas no Brasil no ano que vem. “Vamos conseguir produzir 260 milhões de doses e vacinar 130 milhões de brasileiros (em 2021)”, diz Krieger. "Isso coloca o Brasil em posição muito privilegiada em relação aos países que vão ter nesse primeiro momento a possibilidade de usar a vacina para o enfrentamento da pandemia."

A estratégia de priorização de quem receberá a vacina ainda está sendo definida pelo Ministério da Saúde, mas é provável que sejam priorizadas as pessoas mais vulneráveis, como os idosos, e os profissionais de saúde. Não está descartado, porém, começar a vacinação em regiões do Brasil que estejam com altos números de infectados no momento em que o imunizante estiver disponível.

"A vacina pode ser usada para diminuir a propagação da doença (em uma determinada região), mas hoje, com a doença espalhada para todo o País, tende a ser (aplicada) nas populações mais vulneráveis, profissionais de saúde e, gradativamente, ser expandida de forma bastante signficativa", diz Krieger. 

Ele considera que mesmo os 65 milhões de vacinados no primeiro semestre contribuirão com a redução da propagação da doença no País. Serão aplicadas duas doses. A primeira terá menos imunizante. A segunda, de dose completa, será aplicada 28 dias depois.  Krieger destaca que, mesmo com as boas notícias sobre o imunizante, a população não deve baixar a guarda das medidas de proteção já conhecidas contra a doença. 

A vacina virá, e muito em breve, mas ela ainda não chegou e não chegará de forma imediata para toda a população. Ela vai ser de aplicada forma rápida, mas ainda gradativa
Marco Krieger, ice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz

As fases 1 e 2 dos estudos já haviam apontado que a vacina é segura e induz a produção de anticorpos e a resposta imune das células T em todas as faixas etárias, incluindo idosos. Nenhum evento grave relacionado à segurança da vacina foi confirmado e o imunizante não apresentou efeitos colaterais graves em nenhuma das duas formas de aplicação. 

A vacina de Oxford, chamada ChAdOx1 nCoV-19, é feita a partir da modificação de um adenovírus causador de gripes comuns em chimpanzés, alterado geneticamente para não causar a doença em humanos. A combinação com uma proteína encontrada na superfície do coronavírus instrui as células do corpo humano a combater o vírus causador da covid-19. 

Essa tecnologia é diferente da utilizada pela Pfizer/BioNTech e Moderna, baseada no RNA mensageiro, e que necessita de armazenamento a temperaturas abaixo de -70 graus Celsius. Esse tipo de logística demandaria investimentos adicionais, uma vez que nem as centrais de distribuição de vacinas no Brasil têm freezer com essa temperatura.

 A vacina de Oxford pode ser armazenada em geladeiras comuns e a estrutura de distribuição que já existe no Brasil seria suficiente.  

A AstraZeneca pretende vender cada dose por um valor médio de US$ 3 a US$ 4 dólares. As doses das vacinas da Pfizer/BioNTech e Moderna devem custar, respectivamente, US$20 E US$25. Caso seja aprovada pela Anvisa, a vacina da AstraZeneca com a Universidade de Oxford estaria disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Coronavac terá resultado de eficácia no início de dezembro

O governo de São Paulo anunciou nesta segunda-feira, 23, que os testes clínicos da Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, entraram em sua fase final e atingiram o número mínimo necessário de infecções entre os voluntários para que a análise de eficácia do produto seja feita. A avaliação já começou e deve ter seus resultados divulgados no início de dezembro.

Júlia Marques, O Estado de S.Paulo