quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Ibovespa fecha em queda de 1,5% após fala de Bolsonaro, mas mantém os 100 mil pontos graças a Wall Street

 

O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira (26) por conta das declarações do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que a proposta do Ministério da Economia para o programa Renda Brasil está suspensa.

“A proposta como a equipe econômica mandou para mim não será enviada ao parlamento,” disse o presidente Jair Bolsonaro em evento em Minas Gerais. “Não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos.”

O discurso de Bolsonaro enterra os caminhos desenhados pelo time de Paulo Guedes para o novo programa social. Como consequência, ele também retoma a discussão sobre o risco de o teto de gastos ser rompido ou fragilizado em 2021, já que hoje não se vislumbra alternativa clara para financiar o Renda Brasil respeitando as restrições fiscais impostas.

Segundo análise da XP Política, o Ministério da Economia deve agora ir na direção de desenhar um programa menor, com menos beneficiários, que caiba no orçamento e não rompa o teto. No entanto, isso poderia significar abrir mão do estímulo econômico que atualmente fortalece a popularidade do presidente.

“A alternativa negativa seria dar sequência a um programa no tamanho do que estava sendo tratado, sem a extinção dos outros que hoje são considerados ineficientes”, explicam os analistas políticos da corretora.

Lá fora, as bolsas americanas subiram, com altas entre 0,3% e 1,8% dos índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq. Os ganhos foram puxados pelo desempenho forte das ações de empresas de alta tecnologia.

Vale lembrar que hoje foram divulgados os dados de pedidos de bens duráveis nos EUA, que cresceram 11,2% em julho, acima da expectativa mediana dos economistas, que apontava para avanço de 4,8% segundo o consenso Bloomberg.

O Ibovespa caiu 1,46%, aos 100.627 pontos com volume financeiro negociado de R$ 29,34 bilhões. O índice chegou a perder os 100 mil pontos à tarde, mas retomou o nível ganhando força do ânimo das bolsas no exterior.

Enquanto isso, o dólar comercial subiu 1,52% a R$ 5,61 na compra e a R$ 5,6112 na venda. O dólar futuro para setembro tinha alta de 1,87%, a R$ 5,614 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu sete pontos-base a 2,85%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de 13 pontos-base a 4,08%, o DI para janeiro de 2025 disparou 21 pontos-base a 5,97% e o DI para janeiro de 2027 variou positivamente 20 pontos-base a 7,05%.

Veja o gráfico do Ibovespa no momento em que Bolsonaro falou sobre o Renda Brasil

Ibovespa 260820
Fonte: Bloomberg

Também foi motivo de preocupação por aqui a relação conturbada entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o Senado depois que a Casa convidou o ministro a esclarecer declarações consideradas ofensivas sobre a votação do reajuste a servidores.

Chamou atenção ainda o movimento do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em busca de uma possível reeleição, e a aprovação do novo Fundeb, que é o principal mecanismo de financiamento da educação básica pública no Brasil.

Voltando ao exterior, ontem foi divulgada a confiança do consumidor norte-americano, que caiu em agosto para o menor nível desde 2014, devido ao desemprego e às incertezas sobre estímulos federais à economia, reacendendo dúvidas sobre a retomada da economia mundial após o choque do novo coronavírus, embora números americanos sobre vendas de novas moradias tenham surpreendido positivamente.

Também na véspera, na Alemanha, foi aprovada a extensão das medidas de alívio para os efeitos da crise da Covid-19, como a do subsídio que será prorrogado, até março de 2021, para impulsionar a geração de emprego.

No mercado de commodities, os operadores do mercado de petróleo estão atentos à trajetória do furacão Laura, que prejudicou a produção no Golfo do México e deverá atingir os estados americanos do Texas ou Louisiana no fim desta quarta, e à pesquisa oficial sobre estoques dos EUA, que é elaborada pelo Departamento de Energia (DoE).

Pacote do governo

O megapacote do governo, que seria anunciado ontem, enfrenta agora um novo impasse. O presidente Jair Bolsonaro sinalizou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que não está disposto a acabar com o abono salarial, de acordo com o jornal O Globo.

O benefício, pago a trabalhadores que recebem até dois salários mínimos, é a principal fonte de financiamento proposta pela equipe econômica para o novo programa social, que irá substituir o Bolsa Família. O abono salarial beneficia cerca de 23,2 milhões de trabalhadores e deve custar aos cofres federais R$ 18,3 bilhões neste ano.

Outro ponto de conflito é o valor do programa, pois o presidente quer um valor médio superior ao proposto pela equipe econômica, que é em torno de R$ 270. Ontem, Guedes avisou o presidente que o novo programa social só poderá ter benefício médio superior a R$ 300 se as deduções do Imposto de Renda da pessoa física forem extintas.

Guedes e o Senado

Ontem, o Senado convidou o ministro a comparecer à casa para responder sobre declarações consideradas ofensivas pelos senadores.

Isso porque Guedes acusou o Senado de “cometer um crime contra o país” ao derrubar o veto presidencial ao reajuste de servidores diretamente envolvidos no combate à pandemia. O encontro ainda não tem data definida, segundo a Agência Senado.

Ontem, o governo anunciou somente o programa habitacional Casa Verde Amarela. Chamou atenção a ausência do ministro da economia no evento, principalmente porque vários outros ministros estavam presentes.

O público-alvo do programa Casa Verde Amarela, que é uma adaptação do Minha Casa Minha Vida, são famílias com renda média mensal de até R$ 7 mil. Os incentivos serão maiores para as regiões Norte e Nordeste. As mudanças foram feitas via Medida Provisória, que será enviada ao Congresso Nacional para votação.

Reeleição no Legislativo

No noticiário nacional, outro destaque é a notícia de que os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), têm mantido conversas reservadas com ministros do Supremo Tribunal Federal sobre a possibilidade de concorrerem à reeleição, em fevereiro de 2021.

O jornal O Estado de S.Paulo destacou que a movimentação marca uma mudança na postura de Maia, que até então vinha deixando ao colega senador a missão de articular uma saída jurídica que permita a recondução, hoje autorizada apenas em legislaturas diferentes.

Além disso, ontem foi aprovado no Senado, por unanimidade, o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), tornando-o permanente e com mais recursos da União.

Esse é o principal mecanismo de financiamento da educação básica pública no Brasil. Segundo O Estado de S.Paulo, especialistas dizem que o fundo tem ainda mais relevância no cenário da pandemia, que exigirá maior esforço para garantir acesso, permanência na escola, além de qualidade de ensino.

O Fundeb foi criado em 2007 como um mecanismo temporário, mas agora será permanente, e terá mais recursos repassados pela União a Estados e municípios para pagar professores e outras despesas.

A PEC aumenta complementação da União na cesta do Fundeb dos atuais 10% do montante para 23%, em seis anos. Válido a partir de 2021, o fundo deve beneficiar mais 17 milhões de estudantes. No modelo atual, municípios pobres em Estados ricos saem prejudicados.

Radar corporativo

O mercado acompanha hoje o resultado do segundo trimestre da Yduqs (YDUQ3), após o fechamento do mercado. Também nesta quarta-feira começam as negociações das ações emitidas pela Rumo em oferta primária.

Outro destaque foi o resultado da Qualicorp (QUAL3), que divulgou ontem à noite lucro líquido de R$ 126,7 milhões no segundo trimestre de 2020, alta de 21,5% ante o mesmo período do ano anterior. O resultado foi beneficiado por ganhos não recorrentes com a venda de ativos.

Maiores altas

ATIVOVARIAÇÃO %VALOR (R$)
GNDI33.2440972.88
MGLU32.4431890.15
MRFG31.3460518.07
SUZB31.2915951.76
TOTS30.9339128.1

Maiores baixas

ATIVOVARIAÇÃO %VALOR (R$)
ELET3-4.7120436.4
EMBR3-4.569197.31
CMIG4-4.2266210.65
UGPA3-4.0156719.6
ELET6-4.0041636.92

Além disso, a Eneva (ENEV3) anunciou um acordo de acionistas entre as gestoras de fundos de investimentos Atmos, Dynamo e Velt, enquanto o presidente da Petrobras (PETR3PETR4) afirmou que nem o governo nem o Congresso são favoráveis a uma privatização da estatal. Já a CSN (CSNA3) informou que avalia a oferta pública de ações da CSN Mineração.

(Com Bloomberg e Agência Estado)

Ricardo Bomfim, InfoMoney