segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Exercício de opções movimenta R$ 12,8 bilhões na B3; mais de 200 milhões de calls de Cogna viraram “pó”

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O exercício de contratos de opções sobre ações movimentou hoje R$ 12,8 bilhões, dos quais cerca de R$ 5,78 bilhões em opções de compra (call) e cerca de R$ 7,02 bilhões em opções de venda (put), informou a B3 na tarde desta segunda-feira (17).

Em primeiro lugar entre os valores negociados, as opções de venda dos ativos preferenciais do Bradesco (BBDC4) com preço de exercício a R$ 22,83 movimentaram R$ 389,17 milhões. Já os ativos BOVAE com preços de exercício de R$ 98 e R$ 97, tiveram um giro financeiro de R$ 350,72 milhões e R$ 321,48 milhões, respectivamente.

As opções de compra das ações da Vale (VALE3), com preço de exercício de R$ 61,80, tiveram uma movimentação de R$ 341,84 milhões. Por fim, as puts do Itaú (ITUB4) com preço de exercício de R$ 27,63 tiveram um giro financeiro de R$ 239,7 milhões.

Contudo, vale apontar que, neste exercício, o destaque no mês ficou para as opções de compra da Cogna (COGN3). Conforme afirma o matemático e professor de derivativos, Su Chong Wei, de 337 milhões de ativos deste tipo da companhia no mercado, 280 milhões eram com preço de exercício (ou strike) superior a R$ 7 e vencimento em agosto. Apenas as 6 “calls” mais negociadas de COGN3 possuíam mais de 200 milhões de contratos em aberto.

Ou seja, os contratos viraram “pó”, o que corresponde a um valor de mais de R$ 60 milhões. Nesta sessão, as ações da Cogna caíram 4,31%, a R$ 6,88.

Su ainda aponta que muitos investidores foram exercidos nas puts de Cogna. “O investidor vendeu a put, mas ficou abaixo de R$ 8 a ação, então ele foi obrigado a comprar a ação a condições desfavoráveis e depois vender”, explica o professor.

Wei destaca que o desempenho volátil do Ibovespa hoje esteve bastante relacionado a esse exercício atípico, em que muitos investidores venderam opções de venda e viram suas posições virarem pó. Como a put é uma opção de venda, quando o investidor compra uma put ele adquire o direito de vender a ação pelo preço preestabelecido. Já quando vende, ele é obrigado a comprar a ação no vencimento ao preço preestabelecido.

“Alguns incautos se alavancam e vendem mais put do que o patrimônio permite, potencializando tanto os ganhos como as perdas. Com isso, acabam tendo que assumir uma compra de ativo sem ter o dinheiro. Quando exercidos, são obrigados a vender a mercado esses ativos”, avalia.

O que é o mercado de opções?

Para quem não está familiarizado com o mercado, a opção é um derivativo negociado na Bolsa de Valores. E como qualquer derivativo, seu preço “deriva” da oscilação do ativo ao qual ela se lastreia. No caso de uma opção de ação, o contrato varia de acordo com as oscilações desta ação na B3.

Quem compra uma opção está adquirindo o “direito” de comprar ou vender alguma ação; já quem vende a opção tem a obrigação de atender a exigência daquele que comprou o contrato. Ou seja: se você vendeu uma opção de compra e essa opção for exercida, você terá que vender essa ação ao detentor da opção pelo preço estabelecido; se você vendeu uma opção de venda e ela for exercida, você terá que comprar esta ação ao preço estabelecido.

Existem dois tipos de opções: de compra (call) e de venda (put). Quando um investidor compra uma “call”, ele está adquirindo o direito de comprar uma determinada ação a um preço já estabelecido (que é preço de exercício, ou “strike”) até um dia de vencimento já firmado. Para o investidor que compra uma “put”, ele está adquirindo o direito de vender uma ação até um dia determinado a um valor já estabelecido.

Tanto para “call” como para uma “put”, todas as informações sobre o ativo, o preço de exercício e o vencimento já estão explícitos no contrato. As 4 primeiras letras denominam qual ação é o alvo da opção; a 5ª letra define se é uma opção de compra ou de venda e qual o vencimento da mesma; já os números definem qual o preço estabelecido para exercer este direito.

No caso de “COGNH120”, por exemplo, a opção refere-se à ação da Cogna; – H: é uma opção de compra com vencimento em agosto; – 120: define o preço de exercício da opção (obs: nem sempre o número explícito no contrato é exatamente o “strike” exato de uma opção).

Uma opção “fora do dinheiro” (ou out the money) é quando opção se torna inútil para o investidor se ela for exercida no preço presente. A situação contrária, quando o investidor ganharia com a operação ao exercer a opção, é chamada “dentro do dinheiro” (ou in the money). A data de vencimento de uma opção é a terceira segunda-feira de cada mês.

O caso Cogna

As ações da companhia de educação Cogna, ex-Kroton, ganharam muito destaque nos últimos meses: após uma forte queda durante o auge da aversão ao risco do mercado com a pandemia do coronavírus (entre 21 de fevereiro e 2 de julho, os papéis caíram 37,38%, enquanto o Ibovespa caiu 15,35%), dos pregões de 2 a 30 de julho os papéis tiveram um verdadeiro salto, de 36,71%, enquanto o principal índice da Bolsa teve ganhos de 9,12% no mesmo período.

Um grande catalisador para os ativos no mês de julho foi a expectativa de abertura de capital da subsidiária Vasta na Nasdaq, cujo registro foi formalizado no dia 6.

De forma a alavancar os ganhos, muitos investidores, ao invés de comprar uma ação pelo valor de face – por exemplo, a R$ 9, como a ação chegou a operar no final de julho (antes da forte queda dos ativos, de 27% desde o dia 30 de julho) – buscaram uma rentabilidade maior e, acreditando na forte alta dos ativos, entraram no mercado de opções.

Desta forma, caso o investidor projete a ação em forte alta – por exemplo, R$ 15 – ele procura uma opção de compra que lhe permite comprar a ação a R$ 11,80 dentro de uma determinada data – no caso do ativo COGNH120.

Assim, se a ação subisse até esse patamar, ele teria o direito de comprar uma ação que valeria R$ 15 por R$ 11,80. Se o investidor chegou a pagar R$ 0,20 pela opção (como o papel COGNH120 já chegou a operar no dia 23 de julho), ele ganharia R$ 3,20 para cada R$ 0,20 gastos, ou um retorno de 1.500%. Já no mercado de ações, o ganho seria mais modesto, ainda que bastante significativo, de 67%.

Por outro lado, em que a cotação da ação caísse por volta dos R$ 7,00, investidor que comprasse a ação a R$ 9 perderia cerca de 22% do seu capital investido.

Já no caso de investimento apenas na opção, todo o investimento foi perdido, já que não valeria a pena exercer a opção de comprar uma ação a um valor mais alto do que o cotado até o vencimento desse ativo. Foi isso que aconteceu com os investimentos de diversos aportadores, “virando pó” uma vez, que, literalmente, passaram a não valer mais nada.