domingo, 10 de junho de 2018

"O desmonte da recuperação", por José Roberto Mendonça de Barros

Desde o segundo trimestre do ano passado assistimos a uma recuperação da atividade que parecia bastante robusta. Embora o crescimento no ano tenha sido de apenas 1%, a evolução ao longo do tempo projetava algo como 3% a 3,5% para 2018.
Essa era minha expectativa, e ela se revelou um erro. De fato, durante o primeiro trimestre os números foram seguidamente frustrantes, o que levou a uma redução nas projeções de crescimento feitas pela maior parte dos analistas, inclusive pela MB, para a faixa de 2,5%. 
O que foi específico deste ano é que os setores que puxaram a recuperação continuaram a performar bem no início do ano. 
Falo de segmentos da indústria de transformação, como bens de consumo duráveis e bens de capital, cujos resultados no primeiro quadrimestre foram bastante bons. Os primeiros indicavam crescimento tanto em veículos quanto em utilidades domésticas e bens de consumo eletrônicos, nesse caso estimulados também por uma importante expansão no crédito para as famílias.
Em máquinas, mencionamos mais de uma vez, uma situação também peculiar no mercado interno: apesar da ausência de grandes projetos novos, muitas companhias estavam repondo parte dos equipamentos desgastados e não substituídos nos últimos anos. Além disso, as exportações de equipamentos foram muito boas até abril. Ainda no lado da produção, mineração e petróleo andam bastante bem, como atesta o bem-sucedido leilão na última semana. 
Finalmente, o setor agropecuário conseguiu manter e até aumentar um pouco o elevado patamar de produção obtido em 2017. Do lado da demanda, exportações e consumo das famílias davam suporte a esse desempenho. 
O que não houve, e daí a frustração, foi a esperada difusão positiva sobre os segmentos que estavam mais atrasados, sendo que o mais importante deles foi a construção civil, na qual apenas o segmento do Minha Casa, Minha Vida segue relativamente bem. 
Nas obras públicas, a falta de dinheiro é universal e, no setor de residências, o fenômeno da devolução de imóveis já comercializados continua amassando o mercado. Com a construção não evoluindo, a redução do desemprego ficou mais lenta, o que deve explicar o mau desempenho do setor de bens de consumo não duráveis.
Em terceiro lugar está o segmento de bens intermediários, no qual a questão não é apenas de uma demanda que anda pouco, mas muito mais do crescimento das importações.
Entretanto, em meados de maio configurou-se rapidamente um cenário de crise, que resultou da confluência de duas tendências, ruins e incertas, com dois fatos detonadores, o Copom e a greve dos caminhoneiros. 
A primeira tendência ruim é que o cenário internacional, que vinha muito tranquilo, está claramente piorando. Na política, temos disputas dos Estados Unidos com China, Coreia do Norte e Irã e crises na Europa (Brexit, Europa Oriental, mudanças de governo na Itália e na Espanha). 
Na área comercial, Trump briga com todo mundo e ameaça renegar todos os acordos já feitos, como o que já ocorreu com o TPP. Finalmente, a combinação de pleno emprego com política fiscal expansionista e das tarifas está levando a uma alta dos juros e ao fortalecimento do dólar.
Nada disso é bom para o Brasil. 
Na política interna, depois do receio de uma polarização Lula x Bolsonaro, veio o temor de uma final Ciro x Bolsonaro, resultado, inclusive, da grande fragmentação do chamado “centro democrático”. 
Essas incertezas encontraram na decisão do Copom em 16 de maio e na greve dos caminhoneiros os detonadores da paralisia da economia e de uma crise nos mercados.
Se esta última poderá ser contornada com uma ação firme do Banco Central (como aconteceu na sexta-feira), o enfraquecimento do governo não tem solução. Basta ver a péssima gestão da crise e as idas e vindas da tabela de fretes.
Independentemente do que possa acontecer adiante, já temos uma vítima fatal: o crescimento de 2018. 
*ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS
O Estado de São Paulo