Aquilo que institutos de pesquisa chamam de indecisão é na verdade resultado da ausência de elementos objetivos para o eleitor fazer a sua escolha. A ele ainda não foram oferecidas as condições para apontar em quem vai votar para presidente. Os partidos não apresentaram programas, e os pré-candidatos tampouco tiveram chance de mostrar o que pretendem fazer. Até agora, tudo de que o eleitor dispõe são biografias, discursos e entrevistas recortados por aí. Não são suficientes. O eleitor só decidirá depois de reunidos os dados necessários.
O que se pode dizer a esta altura é que a história do Brasil prova que o eleitor é muito mais cuidadoso e racional quando vota em candidato a cargo executivo. Quando decide quem vai cuidar da sua rua, da sua cidade, do seu estado ou do país, ele tende a ser mais racional e caprichoso no seu voto. Desde Collor, talvez com essa única exceção que confirma a regra, os presidentes eleitos do Brasil foram melhores do que os seus Congressos.
Não há dúvida de que Fernando Henrique Cardoso era melhor que os deputados e senadores que ocuparam as cadeiras do Congresso durante seus dois mandatos. Pode-se afirmar a mesma coisa de Lula e até de Dilma, apesar de o primeiro estar preso por corrupção e lavagem de dinheiro e a segunda ter sido afastada do cargo por crime na execução do orçamento, as famosas pedaladas fiscais.
Mas você pode dizer que esta regra para valer precisa ser comprovada nos estados e nos municípios. Se você prestar atenção, verá que ela se comprova. Mesmo no Rio. Alguém discorda de que Cabral, antes de começar a meter a mão no cofre público, era melhor que a Assembleia Legislativa, a famosa Alerj? Acho que não.
Embora cada eleição seja uma nova corrida, o que o eleitor quer em todas é ver os seus problemas resolvidos ou pelo menos encaminhados. O eleitor brasileiro sabe que a eleição presidencial de outubro é a mais importante do país desde a redemocratização. Sabe que o que está em jogo é o futuro do país, da coletividade, o seu próprio futuro. O eleitor é pragmático. Não é por outra razão que muitos deixam para decidir apenas na última hora.
Entre os pré-candidatos a presidente já lançados, há os que atendem às demandas do eleitor e outros que jamais as alcançarão. Aquele que promete colocar bandido na cadeia e acabar com a corrupção na porrada não cola. O eleitor sabe que quem prende bandido e corrupto é juiz, não presidente. Ele reconhece, de longe, quem está mentindo, quem está enrolando, quem está jogando para a plateia. E sabe também até onde um candidato pode ir. Poucos ainda caem em promessas mirabolantes.
As pesquisas feitas hoje, mesmo as sérias, não servem de balizamento para se dizer como votará o eleitor. Apesar de as necessidades do eleitor serem bastante conhecidas, para atendê-las, não basta prometer e jurar. Tem que explicar como vai fazer, quanto vai custar, de onde vai tirar o dinheiro e quem vai pagar a conta. O custo da greve dos caminhoneiros foi muito educativo neste aspecto.
Na hora de votar, o brasileiro precisa que os candidatos a presidente mostrem o que farão com a economia para que o país volte a crescer e gerar empregos; como pretendem resolver o problema da Previdência; como vão controlar os gastos públicos e onde vão fazer cortes; de que maneira tratarão os impostos altíssimos que paga; e que respostas terão para a segurança, a saúde e a educação.
O eleitor, portanto, não é o problema. Atender às suas demandas é objetivo e obrigação de quem entra na vida pública. Sobretudo dos que querem presidir o país. São muitos os candidatos, o Brasil é uma fábrica de fazer partidos e candidatos. Mas são poucas as opções do eleitor. Variando entre a esquerda e a direita, há no máximo três ou quatro alternativas de orientação política disponíveis.
A lista de candidatos é desanimadora. Nas águas turvas da extrema-direita está o PSL (Bolsonaro). No Centro, PSDB (Alckmin), Podemos (Alvaro Dias) e PMDB (Meirelles). No Centro há variações para a esquerda ou para a direita. O PT (o poste de Lula) é centro-esquerda, assim como o PDT (Ciro) e a Rede (Marina). E há inúmeros nanicos na centro-direita. À esquerda estão os pequenos de sempre, PCdoB (Manuela) e PSOL (Boulos).
Além dos partidos novos, que ainda terão de mostrar a que vieram, há os irrelevantes de sempre. O novo presidente do Brasil sairá dessa lista, é pegar ou largar.
Ascânio Seleme é jornalista
O Globo