terça-feira, 19 de junho de 2018

"Melhor Brasil de todos os tempos", por Celso Ming

Mesmo que o Brasil conquiste o hexa, é altamente improvável que alguma das atuais feras do Tite componha a melhor seleção brasileira de todos os tempos. Sempre haverá quem diga que escalar uma seleção ideal seria um despropósito, porque tudo depende da estratégia de jogo, da geometria dos atletas distribuídos em campo, desde o antigo WM até as atuais variações do 4-3-3, e da qualidade do rival. Mas se for por aí, não se chegará nunca fechar uma proposta dessas a partir da qual se poderiam discutir outras escalações.
Vamos, então, examinar a qualidade dos ídolos que atuaram pelo Brasil de 1950 para cá, a partir da configuração 4-2-4. Por que essa e não outra, mais moderna? Não há esse porquê. Trata-se de uma escolha arbitrária.

Celso Ming
Celso Ming é colunista do Estadão Foto: Estadão
(Observação: Este texto já estava redigido quando o narrador da TV Globo Galvão Bueno colocou no ar seu “time dos sonhos”). 
Comecemos pelos goleiros. O Brasil não teve até agora nenhum craque nessa posição com a qualidade dos grandes do mundo, como o soviético Lev Yashin, o inglês Gordon Banks, o belga Michel Preud’Homme e o argentino Pato Fillol. Os três melhores do Brasil foram Gylmar (o dos Santos Neves), Carlos e Taffarel - que faz parte da comissão técnica de Tite na Rússia. Os três operaram defesas milagrosas, mas nem sempre foram regulares. Fico com Gylmar e sua tranquilidade, mais a elasticidade e a capacidade de passar confiança à defesa, mesmo quando falhava. 
Há três laterais-direitos notáveis: Djalma Santos, Carlos Alberto e Cafu. O capitão Carlos Alberto foi o mais completo - e mais líder também. É ele o cara. 
Beque central. Melhores que Bellini e Brito, foram Mauro e Oscar. Há quem sempre se lembre de uma lenda do passado: Domingos da Guia. Mas não há registros suficientes para uma comparação e, ademais, o propósito aqui é começar da Copa do Mundo de 1950, no Brasil. Oscar vai para a lista.
Na posição de quarto-zagueiro só há um absoluto, qualquer que seja o critério de escolha: Nílton Santos, aquele que dizia para o Mané Garrincha: “você é mais rápido, mas eu chego primeiro”. E como chegava! E, além de chegar sempre na cobertura, também participava do ataque, das jogadas ofensivas.
Na lateral-esquerda, três destacam-se entre os demais: Júnior, Branco e Roberto Carlos. Os três atuaram como laterais tanto ofensivos quanto defensivos. 
Algumas vezes, acabaram por comprometer o resultado da partida. Mas, bem ponderadas qualidades e falhas, o melhor deles foi Roberto Carlos. 
Foram muitos os grandes craques no meio de campo, hoje considerados volantes: Clodoaldo, Dino, Zito, Toninho Cerezo, Sócrates, Rivaldo. Ficamos com Falcão pela direita e Zico, pela esquerda.
Ponta-direita foi o Garrincha. Quando comparados com ele, os demais, como Júlio Botelho e Jairzinho, ficam à sombra. 
Grandes armadores, houve pelo menos meia dúzia deles. Três são os finalistas nesta minha escolha: Zizinho, Didi e Gérson. O mais completo foi o Didi, que, além de tudo, transmitia confiança ao resto do time nas adversidades, como no primeiro gol da Suécia na final da Copa de 1958. E ainda detinha a nunca imitada técnica da “folha seca”, efeito incrível na bola nas cobranças de falta.
O Brasil teve grandes centroavantes. E nessa lista não figuram nem Romário nem Tostão nem Ronaldinho Gaúcho, que foram grandes atacantes, mas não centroavantes clássicos. Dois sobressaíram: Careca e Ronaldo Fenômeno. Mas ninguém foi tão grande como o Fenômeno, apesar das convulsões às portas da final da competição de 1998.
O titular absoluto da camisa 10 é ele, Pelé. Não houve ninguém como ele.
Seria um alívio se, além desses 11, pudesse ser incorporado mais um, não propriamente um ponta-esquerda, mas um craque que jogou pela esquerda. Seriam eles: Zagallo, Rivellino e Romário. Neymar ainda é uma hipótese. Mas, se fosse para escolher hoje esse número 12, seria Rivellino.
Então, o melhor conjunto de onze jogadores brasileiros de todos os tempos (e, como ficou dito, não dá para falar de alguns deuses de um passado quase sem registros, como Friedenreich e Domingos da Guia), são, os já mencionados: Gylmar dos Santos Neves, Carlos Alberto, Oscar, Nílton Santos e Roberto Carlos; Falcão e Zico; Garrincha, Didi, Ronaldo Fenômeno e Pelé.

Você pode eleger seus onze desde que opte por outros critérios. Mas não dá para negar, os nomes que integram esta escolha sempre farão parte de qualquer discussão séria.
O Estado de São Paulo