Os sinais de consolidação da economia dos EUA levaram o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a elevar ontem a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 2%, permanecendo dentro da previsão de analistas. A novidade, porém, foi o tom do comunicado dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto do BC americano (FOMC, na sigla em inglês), indicando que a instituição já não considera as finanças do país dependentes de medidas não convencionais de estímulo, que vinham sendo adotadas desde a eclosão da crise financeira global de 2008.
Nesta conjuntura, o baixo custo do dinheiro traz o risco de superaquecer a economia, estimulando gastos excessivos do consumidor e investimentos das empresas. Os gestores da política monetária dos EUA agora temem os efeitos colaterais dessa expansão, sobretudo o aumento da pressão inflacionária.
Se, no comunicado de maio, os diretores do FOMC indicaram que o ritmo da economia era “moderado”, agora o Fed constatou um crescimento sólido. Assim, indicou que fará mais duas elevações dos juros, totalizando quatro aumentos este ano, um a mais do que a previsão anterior.
“Dados recentes sugerem que o crescimento dos gastos das famílias se acelerou, ao passo que os investimentos fixos das empresas continuaram se expandindo com força”, registrou o Fed em seu comunicado, ao anunciar o aumento dos juros. “A atividade econômica está crescendo num ritmo sólido.”
De fato, a taxa de desemprego está hoje em seu menor patamar desde 2000 (3,8%). E o BC americano ainda vê espaço para um recuo a 3,6% até o fim do ano. Caso se confirme, esta taxa será o menor patamar de desocupação desde os anos 1960. Com respeito ao crescimento da economia em 2018, o Fed elevou sua previsão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,7%, em março, para 2,8%, agora. Já o núcleo da inflação (índice que descarta itens voláteis, como preços de combustíveis e energia) se aproxima da meta do Fed, de 2% este ano.
A mudança de rumo do Fed começou a ser preparada ainda na gestão de Janet Yellen, preocupada em dosar homeopaticamente a elevação dos juros e dar transparência à correção da política monetária, após anos de uma taxa historicamente baixa para estimular a recuperação da crise. Apesar do cuidado, o aperto do BC americano gerou fuga de investidores para o mercado americano, fortalecendo a cotação internacional do dólar e gerando desequilíbrios nos mercados emergentes.
A guinada da política monetária americana torna urgente que o Brasil faça o seu dever de casa, arrumando as contas internas, para voltar ao equilíbrio fiscal — o que significa realizar as reformas necessárias na economia, como a da Previdência. Recado ao próximo presidente.