segunda-feira, 18 de junho de 2018

Fundos de renda fixa perdem com turbulência e obrigam investidor a diversificar sua carteira


Dinheiro na mão. Aplicação depende do montante a ser recebido. Se for menos de R$ 3 mil, poupança pode ser viável - arquivo


Os fundos de renda fixa são investimentos bastante procurados por quem é mais conservador na hora de aplicar o dinheiro. Essa escolha se dá, em muitos casos, porque tais aplicações são tidas como seguras e resistentes a instabilidades econômicas. 

Entretanto, a recente turbulência no mercado está levando à desvalorização das cotas de alguns fundos de investimento em renda fixa dos maiores bancos de varejo. Porém, ressaltam os especialistas, este momento de taxas baixas ou negativas não deve levar o investidor ao desespero.

No Banco do Brasil (BB), o fundo Renda Fixa Longo Prazo Índice de Preços, composto majoritariamente por títulos atrelados à inflação, perdeu 0,93% na última quinta-feira — quando o dólar avançou 2,6% apesar da intervenção de US$ 5 bilhões do Banco Central —, de acordo com os últimos dados disponíveis no site da instituição. No mês, a desvalorização da cota é de 2,46%; no ano, a queda é de 1,62%.

Já o Fundo Inflação 15000 Renda Fixa Longo Prazo do Bradesco registrou recuo de 1,11% na última quinta-feira e 3,23% no mês. No acumulado do ano, a desvalorização é de 1,92%.

No Itaú, a cota do Fundo Longo Prazo Renda Fixa teve perdas 0,72% na última quinta-feira, dado mais recente divulgado pela instituição. No mês e no ano, as perdas acumuladas são de 1,92% e 0,25%, respectivamente.

No Santander, o Fundo de Investimento Prefixado Títulos Públicos Renda Fixa teve perdas de 0,73% na quinta-feira, e de 2,04% no mês. No acumulado do ano, porém, a variação é positiva: 2,20%.

A recente volatilidade do mercado, ocasionada tanto por fatores internos (como as incertezas no cenário eleitoral) e externos (como a alta dos juros nos EUA, que faz os investidores trocarem os mercados emergentes pelo americano), tem depreciado os títulos públicos que compõem as carteiras desses fundos. Essas possíveis oscilações ocorrem porque os ativos de renda fixa ou da cota de um fundo de investimento são marcados a mercado.
— Embora a taxa básica de juros seja fixa, a projeção do mercado sobre os juros futuros varia constantemente. Conforme os investidores entendem que os juros no mercado futuro tendem a ficar mais altos, o valor dos títulos cai. Quando isso ocorre, os fundos são obrigados a marcar a carteira de títulos a um novo preço, e isso faz com que a cota do fundo caia — explica Arnaldo Curvello, gestor da Ativa Investimentos. — Isso é a marcação a mercado.

Analistas lembram que a renda fixa é um tipo de investimento no qual a pessoa conhece as condições de remuneração que sua aplicação terá — mas não necessariamente o montante final a ser resgatado. Isso ocorre seja pela variação no percentual da Selic ou se os recursos forem resgatados antes do prazo final estipulado no ato da compra da cota ou do título.

PREJUÍZO INCOMUM

Especialistas em mercado ressaltam que um movimento de perdas na renda fixa como o atual não é comum — mas deixam claro que não é o caso de se desesperar e correr aos bancos ou corretoras.

— Atualmente, temos tensões nos cenários interno e externo, além das expectativas para a próxima reunião do Copom, que pode resultar em alteração na Selic. Tudo isso acaba se refletindo nos juros futuros e, por consequência, nos fundos de renda fixa — explica Thiago Villela, diretor da distribuidora de fundos Órama. — Esse movimento de desvalorizações começou a mostrar mais força em maio.

Amanhã e quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para discutir os rumos da taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira. Parte do mercado espera que o índice fique estável, em 6,5%, mas há quem já fale em elevação. Isso tende a deixar o mercado volátil até a próxima semana.

No atual cenário, Villela recomenda que o investidor faça um mix de carteiras, com títulos prefixados (nos quais o investidor sabe qual será a rentabilidade no momento da compra) e pós-fixados (que acompanham os juros).

— Aplicar em títulos pré e pós-fixados é melhor para quem quiser investir neste momento, como um mecanismo de defesa contra a volatilidade do mercado.

Mas não foi só a renda fixa que sofreu com a recente turbulência. O programa Tesouro Direto, que permite a compra de títulos públicos por pessoas físicas pela internet, teve de ser suspenso em seis pregões consecutivos. A suspensão visa a proteger o investidor, evitando que ele adquira ou venda papéis com preços distorcidos por causa da volatilidade.

O Santander afirmou que seu fundo tem como objetivo investir em ativos de renda fixa que buscam acompanhar o índice de títulos prefixados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), então a rentabilidade sofre variações. Já o BB explicou que o fundo citado é de gestão passiva, indexado ao índice IPCA da Anbima (IMA-B), que, em maio, em função da volatilidade, teve perda de 3,16%. Procurados, Bradesco e Itaú não se manifestaram.



Gabriel Martins, O Globo