WASHINGTON e BUENOS AIRES - O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou na noite desta quinta-feira que fechou um acordo de empréstimo de US$ 50 bilhões com a Argentina. O acordo durará 36 meses e, como stand-by, serve para tranquilizar as contas públicas argentinas - ou seja, não necessariamente serão utilizados. Esse é o maior montante já obtido por um governo argentino junto ao Fundo.
“Felicito as autoridades argentinas por termos chegado a este acordo. Como dissemos anteriormente, se trata de um plano concebido e instrumentado pelo governo argentino e que pretende fortalecer a economia em beneficio de todos os argentinos”, disse Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, em nota.
Em Buenos Aires, o anúncio foi feito pelo ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, segundo o qual, o acordo implicará em uma redução das metas de inflacao e déficit fiscal, num ano em que a Argentina, admitiu o ministro, crescerá menos e terá uma inflação mais alta do que se esperava antes das turbulências financeiras de maio passado. O peso teve uma desvalorizacao de 25% em relação ao dólar.
- Recorremos ao Fundo para evitar uma crise - declarou Dujovne, ao lado do presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), Federico Sturzenegger.
O entendimento estabelece metas de inflação ambiciosas, levando em consideração que este ano, segundo projeções de economistas privados, o aumento de precos chegará a 27%. Para 2019, a meta fixada na negociação com o Fundo foi de 19%. Para 2020, o percentual negociado foi de 13% e para 2021 de apenas 9%.
Antes do anúncio oficial, o presidente Macri assegurou que este acordo será "um ponto de partida importantíssimo que gerará oportunidades de desenvolvimento".
- É um grande acordo para os argentinos - disse o presidente.
Em termos de metas fiscais, o entendimento prevê um déficit de 1,3% para 2019, bem abaixo dos 2,2% estabelecidos anteriormente. A partir de 2020, o governo Macri e o FMI estimam que o país terá equilíbrio fiscal.
Em nota, a diretora-gerente do FMI, Chistine Lagarde, afirma que este acordo permitirá ao país enfrentar a vulnerabilidade econômica enquanto termina de avançar as reformas que o governo de Mauricio Macri está propondo. “O plano econômico do governo gira em torno de um reequilíbrio da situação fiscal”, disse a diretora-geral do Fundo na nota, confirmando que o país precisa reduzir o déficit do governo federal até alcançar superávits primários em 2020.
“Esta medida terá, em última instância, o efeito de reduzir as necessidades de financiamento do governo, tirar a dívida pública de uma trajetória crescente e, como assinalou o presidente Macri, reduzir uma carga que afeta a Argentina”, disse Lagarde no comunicado, e acrescenta que respalda as decisões do banco central daquele país de “adotar metas de inflação realistas” e manter o câmbio flexível.
A nota afirma ainda que há o compromisso de Buenos Aires de manter uma independência total do banco central e que será mantido um piso para os gastos sociais, para que o esforço fiscal não atinja de forma desmedida os mais pobres. De acordo com a nota, não pode haver redução das despesas de programas sociais em relação ao PIB nos próximos três anos.
O FMI convocou uma entrevista coletiva para esta sexta-feira, às 11h de Washington (12h no Rio) para esclarecer mais pontos do acordo.
Por Henrique Gomes Batista e Janaína Figueiredo, O Globo