Depois do apresentador Luciano Huck e do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. (STF) Joaquim Barbosa, um novo outsider poderá entrar na disputa nas eleições deste ano. Desta vez, é o apresentador José Luiz Datena, da rádio e TV Bandeirantes quem se apresenta.
Recém-filiado ao DEM, Datena reforçou seu desejo de concorrer a uma vaga no Senado, provavelmente na chapa do ex-prefeito João Doria (PSDB), pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, mas disse que avalia também o lançamento de uma candidatura à Presidência, como revelou o site BR18, do Grupo Estado, dedicado a análises e notícias sobre as eleições e a política. A participação como vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidência, é outra opção que está no radar do apresentador.
Em 2016, Datena chegou a pensar em disputar a Prefeitura de São Paulo. Agora, nestas eleições, cogitou se lançar ao Senado, voltou atrás, e nos últimos dias passou a pensar em participar da disputa, inclusive com voos mais altos.
Nesta quarta-feira, 13, Datena se encontrou em Brasília com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pré-candidato do DEM à Presidência, para discutir a questão. Ambos afirmaram que a conversa se concentrou na candidatura de Datena ao Senado em São Paulo.
Nos bastidores, porém, o que se diz é que Maia ficou de avaliar melhor as alternativas e consultar os partidos aliados do chamado Centrão. Enquanto isso, Datena se comprometeu a conversar sobre o assunto com Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação. A ideia é os dois voltarem a falar para tomar uma decisão final nos próximos dez dias.
“Eu me proponho a ser candidato ao Senado. Agora, se pintar a possibilidade de ser candidato à Presidência da República, talvez eu tente ajudar o meu País. Quero ser candidato para ajudar o povo”, afirmou Datena. “É mais uma decisão do partido do que minha. Depende das articulações, dos resultados das pesquisas.”
Sua candidatura presidencial passou a ser ventilada diante da falta de um candidato com força para enfrentar Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) nas eleições presidenciais. Como a candidatura de Alckmin ainda não decolou, cresceu a preocupação no Centrão com os rumos da campanha.
A percepção é de que o empresário Josué Gomes, do PR – cuja candidatura também tem sido analisada pelo grupo, com possível apoio do DEM –, acabaria sendo “outro Flávio Rocha”, que também luta sem sucesso até agora para ganhar apoio do eleitorado à sua primeira candidatura à Presidência.
Por ser uma figura conhecida dos eleitores, alguns analistas acreditam que Datena possa alcançar de largada 7% ou 8% das intenções de voto e passar Alckmin, que aparece com 5% a 6%, nas pesquisas. “Quem sabe um outsider não possa fazer alguma coisa?”, pergunta Datena. “Só aparece outsider porque quem está aí não está satisfazendo.”
Passe. Segundo o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o DEM está tentando apenas valorizar o passe do partido ao ventilar o nome de Datena para a corrida presidencial. “Um dos cálculos do DEM é permanecer no governo, apesar de se vender como alguém que está distante”, afirmou.
Datena, que já foi filiado ao PT entre 1992 e 2015, e ao Partido Republicano Progressista (PRP) de setembro de 2017 a março de 2018, antes de ingressar no DEM, disse que tem “uma vontade muito grande” de ajudar o País. Ideologicamente, o apresentador se considera “mais para o centro” e um defensor da liberdade e da democracia. “No Brasil, não há liberdade para nada”, disse.
Curiosamente, ao falar sobre o ditador Kim Jong-un, Datena defendeu a Coreia do Norte e afirmou que o país não teve outra opção a não ser se fechar para o mundo diante das agressões perpetradas pelo “imperialismo americano”. “Meu programa, que trata de segurança e criminalidade, é de direita. Eu, não”, declarou.
Ao mesmo tempo, ele criticou o comunismo e seus timoneiros, como Lênin, Stálin e Mao Tsé-Tung, que deixaram milhões de mortos na União Soviética, na China e em outros países. “O problema do Brasil não é de direita, de esquerda ou de centro, mas do sistema político”, avalia o apresentador.
Datena parece consciente de que o próximo presidente “vai ter uma bucha” para administrar. “Nem sei se ele vai conseguir terminar o mandato, porque terá que fazer muitas reformas impopulares.”
“A democracia não sobrevive sem consenso político, qualquer que seja o presidente eleito”. Para ele, porém, isso não parece ser o suficiente para afastá-lo da empreitada. “Eu já ganhei muito dinheiro, sou famoso, posso arriscar. Arrisquei a vida toda.”
José Fucs, O Estado de S.Paulo