A população carcerária brasileira tem um perfil fora do usual nos Estados Unidos. Enquanto nos demais países o tráfico de drogas responde por cerca de 40% das prisões, entre os brasileiros as violações de imigração lideram a lista, disse a embaixadora Luiza Lopes, diretora do Departamento Consular de Brasileiros no Exterior do Itamaraty.
Segundo ela, cerca de 40% dos cidadãos brasileiros estavam atrás das grades por ter entrado no país de maneira irregular ou ficado além do tempo permitido por seus vistos. O tipo de crime que aparecia em segundo lugar era o de natureza sexual. “Os Estados Unidos têm uma legislação de severidade excepcional nessa área (imigração)”, observou a embaixadora.
Os dados do Itamaraty não permitem comparar o peso que as questões migratórias tiveram na prisão de brasileiros nos EUA nos anos anteriores. A embaixadora observou que esse tipo de detenção costuma durar pouco tempo e a maioria não permanece atrás das grades por um ano. O Departamento de Segurança Interna disse que não tinha dados anteriores sobre o Brasil que permitissem a comparação.
A crise econômica no Brasil levou ao aumento do número de brasileiros que entram ou permanecem nos EUA de maneira irregular. Os que não conseguem visto de turista arriscam a vida cruzando a fronteira com o México. Muitos deles levam filhos, como ficou evidenciado na crise de separações de famílias provocada pela política de “tolerância zero” do governo Donald Trump.
Desde o começo de maio, quando a prática foi implementada, pelo menos 49 crianças brasileiras foram separadas dos pais na fronteira com o México e colocadas em abrigos para menores nos EUA. A mais nova delas tem 5 anos.
O presidente americano determinou o fim da separação familiar na quarta-feira, mas afirmou que manterá a política de “tolerância zero”, pela qual todos os imigrantes que entram de maneira irregular no país são processados criminalmente – e não apenas objeto de procedimento de deportação.
Não está claro o que ocorrerá com as 2.300 crianças que já foram separadas de suas famílias desde maio, entre elas os 49 brasileiros. Em reunião com seu gabinete ontem, Trump determinou que elas fossem reunidas com seus parentes, mas o governo ainda não definiu como isso ocorrerá.
O aumento no número de brasileiros que cruzam a fronteira de maneira irregular se refletiu nas estatísticas de deportação dos EUA. Depois de cair entre 2013 e 2015, o total de cidadãos brasileiros “removidos” do país pelas autoridades migratórias cresceu de maneira constante. De 744, passou para 1.095, em 2016. No ano seguinte, registrou outro salto, para 1.413. A estatística colocou o Brasil no sétimo lugar dos países com maior número de deportações, mas o patamar é muito inferior ao do México e de países da América Central. No total, 226,2 mil estrangeiros foram expulsos dos EUA em 2017.
Ao anunciar o fim da política de separação, Trump afirmou que o Congresso terá de fazer sua parte e aprovar legislação que trate do sistema migratório de maneira abrangente. O presidente quer recursos para construção do muro na fronteira com o México e redução dos casos em que imigrantes podem entrar nos EUA de maneira legal, o que é rejeitado pela oposição democrata.
Nesta quinta-feira, a Câmara dos Deputados rejeitou por 231 a 193 votos um projeto da extrema direita do Partido Republicano que restringia de maneira radical a entrada de estrangeiros no país. Os deputados tentarão agora votar uma proposta mais moderada, construída por integrantes das duas legendas. O Partido Republicano está dividido em relação ao tema e não está claro se conseguirá aprovar a proposta, apesar de ter maioria nas duas Casas do Congresso.
Cláudia Trevisan, CORRESPONDENTE / WASHINGTON, O Estado de S.Paulo