Após encostar nos R$ 3,85 pela manhã, o dólar terminou o pregão desta quarta-feira, 06, em alta de 0,72% no segmento à vista, a R$ 3,8377, maior cotação desde 2 de março de 2016 (R$ 3,8909), na época pré-impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O ambiente de elevada incerteza com o rumo da economia brasileira e as eleições presidenciais fez o real se descolar de seus pares internacionais e a moeda americana renovar o pico do ano nesta quarta-feira. O aumento da aversão ao risco doméstico levou ainda o Ibovespa a encerrar em queda de 0,68%, aos 76.117,22 pontos, apesar dos ganhos dos índices acionários em Nova York.
Para Durval Corrêa, operador da corretora Multimoney, sem uma atuação mais firme do BC, o dólar não deve mostrar arrefecimento. O fato de a moeda seguir em alta mesmo após sucessivos leilões de swap, incluindo os dois extras de ontem, sinaliza que a intervenção no câmbio por esse instrumento pode ter chegado a um ponto de saturação. "A grande maioria do mercado já fez hedge", disse ele. Com isso, abre-se espaço para a especulação, com os agentes forçando as cotações para ver quando e como o BC vai agir.
Nesta quarta, a consultoria Capital Economics divulgou relatório em que avalia que a política vai ditar cada vez mais o ritmo das cotações do dólar no Brasil. "O destino do real repousa agora nos desenvolvimentos políticos", afirma o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing. "Se as eleições de outubro entregarem um governo que não esteja disposto ou não possa lidar com as vulnerabilidades fiscais do Brasil, o real poderia ir para além de R$ 4,00."
"A taxa de câmbio é um preço extremamente sensível a esse processo de revisão do risco Brasil e deve ter sua trajetória de alta reforçada a cada pesquisa eleitoral que indique que candidatos pró-mercado continuam patinando na disputa presidencial", destaca em relatório o economista-chefe da Spinelli, Pedro Paulo Silveira.
A disparada do dólar fez crescer desde ontem nas mesas de operação as discussões sobre a volta da alta de juros no Brasil, pois a moeda pode pressionar a inflação. "Os mercados estão começando a precificar o início do ciclo de aperto já na reunião de junho", avalia o banco de investimento norte-americano Brown Brothers Harriman & Co. (BBH).
Bolsa. A falta de atratividade do mercado brasileiro de ações levou o Índice Bovespa a um novo pregão de perdas, destoando do desempenho amplamente positivo das bolsas de Nova York. Sem fatos novos com impacto para alterar as percepções, a queda continuou a refletir a falta de perspectivas positivas nos cenários político e econômico do País. A disparada dos juros futuros e a aproximação do dólar do patamar dos R$ 3,85 reforçaram a cautela do investidor estrangeiro, que continua a retirar recursos da Bolsa brasileira.
O Índice Bovespa terminou o dia aos 76.117,22 pontos, com queda de 0,68%. Na mínima do dia, registrada pela manhã, chegou aos 75.517,52 pontos (-1,47%). Os negócios somaram R$ 11,8 bilhões. Com o resultado de hoje, o índice acumula queda de 0,83% em junho e de 0,37% em 2018.
Para Ariovaldo Ferreira, gerente de renda variável da H.Commcor, a falta de força das ações é resultado da incerteza dos investidores de renda variável, que não encontram respostas para questões cruciais do País, em meio a um ambiente eleitoral ainda bastante indefinido. Hoje, especificamente, ganharam espaço as especulações sobre a possibilidade de uma alta da taxa Selic neste mês, enquanto o dólar encostava nos R$ 3,85.
"Desde a greve dos caminhoneiros que o mercado se mostra mais desconfiado com o governo e se mostra cauteloso com as consequências do movimento na política de preços da Petrobras, além dos impactos das concessões do governo nas contas públicas", disse.
No cenário político, continuaram a ecoar os dados da recente pesquisa do DataPoder360, que colocou Jair Bolsonaro e Ciro Gomes polarizando a disputa pela presidência, enquanto os candidatos de centro continuam com pontuação pouco expressiva. No próximo domingo será a vez do Datafolha mostrar como anda a preferência do eleitor.
"O risco político está sendo rapidamente precificado nos ativos e o mercado já projeta Selic em torno de 2 dígitos para o final do próximo ano e em torno de 14% para 2022. Assim, é natural a queda da bolsa, muito pressionada por estatais e bancos", disse José Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos.
Altamiro Silva Júnior e Paula Dias, O Estado de S.Paulo