Em uma guinada de sua articulação política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou na quarta-feira que o seu partido, o DEM, está mais próximo de declarar apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin. Ao GLOBO, Maia admitiu que o caminho “mais natural” do partido no momento é costurar uma aliança com o PSDB. O movimento de aproximação de Maia com os tucanos aconteceu no mesmo dia em que o presidente nacional da sigla, o prefeito de Salvador, ACM Neto, se reuniu com Alckmin em Brasília.
Na avaliação de Maia, o programa partidário do DEM, mais próximo dos tucanos, deve ser fundamental na hora de fechar um acordo em torno de Alckmin. Apesar de ensaiar uma negociação com diferentes candidatos e emitir sinais contraditórios, o DEM sempre teve mais afinidade ideológica com o PSDB. Aliança histórica com os tucanos não impediu o presidente da Câmara de abrir conversas com o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, com quem jantou anteontem. Mas Maia procurou deixar claro, na conversa com O GLOBO, que um acerto com o pedetista não está no horizonte.
Maia manteve o discurso de que ainda é pré-candidato ao Planalto, mas disse que a decisão do partido sobre o apoio a Alckmin está sendo maturada, podendo ser tomada já “na semana que vem” ou daqui a um mês, quando o DEM faz sua convenção.
— Nós não caminhamos para isso (uma aliança com Ciro). Foi uma primeira conversa, como já tivemos com o Geraldo (Alckmin), o Alvaro (Dias). É claro que o caminho natural do DEM é apoiar o Geraldo Alckmin. Nós temos uma aliança em São Paulo. Esse é o caminho natural se o DEM não decidir pela minha candidatura. Agora, o que precisamos entender é que o Brasil precisa sair da política do ódio e ir para a política da conciliação — afirmou.
Maia acredita que a grande dificuldade dos partidos de centro-direita será fazer uma campanha no momento em que o campo de oposição ao presidente Michel Temer tem uma vantagem estratégica, dada a esmagadora desaprovação do governo. Na sua visão, o candidato vitorioso será um postulante disposto a fugir da polarização. Ao mesmo tempo, Maia concorda que os palanques regionais e o tempo de televisão serão importantes para a viabilidade de um candidato.
— Se você olhar o discurso do Geraldo, ele está fugindo da polarização com o PT. O discurso do Geraldo tem sido o do diálogo, está olhando outro caminho para crescer nas pesquisas. Então, está todo mundo vendo que essa polarização está, de fato, falida.
O FATOR TEMER
Para Maia, o governo terá um “papel pequeno” nas articulações.
— A sociedade não enxerga tudo aquilo que ele (Temer) conseguiu fazer. A sociedade olha o Lula. A presidente Dilma está fora da cronologia. Temos um governo que na área econômica tem avanços, mas erros que levaram a duas denúncias que tiraram o capital político para fazer a coisa mais importante, que era a reforma da Previdência.
Mesmo sem deslanchar nas pesquisas de intenções de voto, Alckmin deu um passo importante para aglutinar o apoio de outros partidos, segundo o presidente da Câmara.
— É claro que a minha candidatura interditou um espaço de diálogo do Alckmin. Talvez a outra questão tenha sido a demora para organizar a disputa em São Paulo (onde o PSDB já fechou aliança com o DEM). Ontem, pela primeira vez, ele disse que o candidato dele é o João Doria. Ele resolveu, no principal estado brasileiro, que o caminho dele para a eleição é o Doria. Demorou para fazer isso.
Ontem de manhã, integrantes da cúpula do DEM receberam Alckmin para uma conversa na residência do deputado Mendonça Filho (PE), ex-ministro da Educação do governo Michel Temer. No encontro, o tucano pediu que o DEM decida por apoiá-lo e consiga trazer todo o bloco do chamado centro. Após a reunião, Gerealdo Alckmin disse que a negociação com os demais partidos está avançando.
— Esse é um processo de aproximações sucessivas. As coisas estão caminhando bem. Tomei um café da manhã, com tapioca. Foi caprichado. Uma boa conversa — disse Alckmin, ao chegar ao Senado para um almoço com a bancada do PSDB.
O DEM cresceu desde a última eleição presidencial, e hoje tem uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, além de estar à frente de um grupo de partidos do chamado centrão. Turbinado, o partido não quer se colocar tão facilmente no colo do PSDB, com quem padece de um desgaste na relação. Por isso, integrantes da cúpula do DEM têm dito que as conversas com o PDT em torno de um eventual apoio a Ciro Gomes ainda estão abertas.
No encontro da noite de terça-feira com Ciro foram abordados dois temas espinhosos: o temperamento agressivo do pedetista, que não poupa nem integrantes do DEM, e sua agenda programática muito alinhada à esquerda. Segundo um dos participantes, o presidenciável do PDT fez um mea culpa sobre os arroubos verbais, e disse que, se estiver representando um grupo maior, saberá da responsabilidade que carrega.
Por Bruno Góes, Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut, O Globo