O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, decidiu divulgar nas redes sociais vídeos com mensagens de estímulo à participação da sociedade no processo eleitoral. A primeira peça foi ao ar nesta sexta-feira. Nela, Deltan fala sobre “corrupção nas eleições”. Sustenta a tese segundo a qual o corrupto que investe propinas em campanhas eleitorais é pior do que o larápio que embolsa a verba suja ou gasta em bens de luxo.
“Campanhas eleitorais caríssimas, turbinadas por propinas, fazem qualquer candidato parecer um anjo”, diz Deltan no vídeo. “Alguns estudos mostram que, quanto mais dinheiro a pessoa investe na campanha, maior a probabidade de ela ser eleita.” Em timbre didático, o procurador explicou que “a propinas alavanca a permanência dos políticos no poder. Uma vez no poder, eles vão manter e ampliar os seus esquemas de corrupção. E vão gerar mais propina.”
Na definição de Deltan, a corrupção subverte até a teoria evolutiva de Darwin. “Existe uma espécie de seleção natural adversa, em que os corruptos são aqueles que conseguem permanecer no poder.” O procurador preocupou-se em esclarecer: “Não estou demonizando a política, não estou falando que todo político é corrupto. Existem, sim, políticos honetos e nós devemos valorizá-los. A única solução que existe é por meio da política. Precisamos de mais participação da sociedade na coisa pública.”
Deltan fez uma rápida dissertação sobre a Lava Jato. Disse que muita gente ainda vincula a operação exclusivamente à Petrobras. Explicou que a investigação “foi muito além” da estatal petroleira. “O que nós identificamos é um esquema básico espalhado por todo país”, disse.
O procurador resumiu assim a engrenagem da rapina: “Partidos e políticos desonestos escolhem para chefiar órgãos públicos federais, estaduais e municipais pessoas incumbidas de arrecadar propinas. Uma vez chefiando esses órgãos públicos tais pessoas vão fraudar licitações em favor de empresas que concordem em pagar propinas em troca de lucros extraordinários.”
Para decifrar o Brasil, afirmou Deltan, “o grande ‘X’ da questão é verificar para onde vai todo esse dinheiro. “Uma parte vai para o bolso dos envolvidos”, afirmou, antes de dar nome a um boi: “Sergio Crabral, por exemplo, ex-governador do Rio de Janeiro, foi acusado de ter embolsado mais de R$ 300 milhões. Dinheiro que foi colocado em diferentes cestos: barras de ouro, diamantes, joias luxuosas e mesmo em contas mantidas em paraísos fiscais.” A outra parte da grana suja vai para as campanhas.