Um ano depois de confessar ter recebido R$ 100 mil de caixa dois da JBS, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) é um dos pontas de lança do time de Jair Bolsonaro (PSL), pré-candidato que tem o discurso anticorrupção como um dos motes de sua campanha.
O deputado gaúcho tem trabalhado na construção do programa de governo junto com o economista Paulo Guedes. Mas a principal função dele é reunir parlamentares. Onyx é quem organiza os jantares em Brasília para que Bolsonaro possa expor suas ideias e angariar apoios. Eles estimam que mais de 60 deputados já estão “comprometidos” em dar sustentação parlamentar ao capitão da reserva caso ele chegue ao Planalto.
Antes de confessar ter recebido caixa dois, Onyx tinha destaque no Congresso com a bandeira do combate à corrupção. Ele foi relator do projeto das “10 medidas” enviado pelo Ministério Público e se recusou a incluir no texto a anistia ao caixa dois, desejo dos colegas na ocasião.
Onyx confessou o recebimento dos recursos após seu nome aparecer em uma planilha divulgada na delação da empresa. Ele confirmou ter obtido R$ 100 mil em 2014.
— Vou ao Ministério Público e ao Judiciário responder por este erro que cometi — afirmou o parlamentar, em maio de 2017.
Até hoje, porém, ele não virou nem investigado por este caso no Supremo. Onyx responde a outro inquérito na Corte por uma acusação de caixa dois feita na delação da Odebrecht. Mas esse caso está perto do fim. O diretor da empreiteira Alexandrino Alencar disse ter feito o pagamento ao parlamentar em 2006, mas não sou dizer quem teria feito o pagamento. Após mais de um ano da investigação aberta, a procuradora-geral Raquel Dodge disse não haver como avançar na apuração e solicitou no mês passado o arquivamento do caso, o que ainda será analisado pelo ministro Luiz Fux.
A relação dele com Bolsonaro é antiga. Onyx chegou à Câmara em 2003, quando o hoje presidenciável já era um deputado experiente. Em 2011, Onyx deu um voto chave para livrar o colega de um processo de cassação no Conselho de Ética. Bolsonaro foi acusado de “racismo” ao ter dito em entrevista ao extinto programa CQC da TV Bandeirantes que não discutiria “promiscuidade” quando perguntado se autorizaria seu filho a se casar com uma mulher negra. O capitão disse que tinha entendido que a pergunta era sobre “homossexualidade”. Onyx balizou o apoio ao colega na prerrogativa da “imunidade parlamentar”. Após dar o voto que derrubou a abertura do processo, fez ainda o relatório pelo arquivamento. Apesar de filiado ao DEM e presidente do diretório gaúcho, já avisou desde o ano passado que apoia a candidatura do capitão.
Eduardo Brescianni, O Globo