O início da semana foi marcado por uma forte agitação política, fruto das notícias de que Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência da República, estava conversando não só com o PSB e o PCdoB, ditos parceiros preferenciais, mas também com DEM, PP e Solidariedade (SD). Por consequência, outros partidos, como o PR, tenderiam a aderir quase que automaticamente à composição, o que poderia dar a Ciro Gomes o maior tempo de propaganda no rádio e na TV, além de furar barreiras em Estados onde o PDT tem pouca estrutura. O conjunto dessa aliança, na visão dos articuladores do PDT, passaria ao eleitor brasileiro a mensagem de que Ciro Gomes fará um governo de união nacional, no qual cabem a centro-esquerda e a centro-direita.
De fato, Ciro e os coordenadores de sua campanha, como o irmão, o ex-governador Cid Gomes, estão conversando com todo mundo mesmo. Mas eles precisam saber que não estão só nessa empreitada. O PSDB de Geraldo Alckmin, que vinha tropeçando em cima de tropeços, percebeu o quanto poderia ficar para trás se não começasse imediatamente a procurar os dirigentes partidários da centro-direita, fazer-lhes acenos, propor-lhes acordos vários, um deles envolvendo a negociação em torno da presidência da Câmara e, quem sabe, a do Senado. As negociações com o PDT refluíram, os tucanos refizeram sua estratégia de campanha e, num gesto pouco comum, Alckmin delegou poder ao vice-presidente do PSDB, ex-governador de Goiás Marconi Perillo, que foi autorizado a construir alianças em nome do pré-candidato à Presidência. Um passo que normalmente se dá nessas disputas intrincadas.
É possível que Ciro não tenha percebido que foi ingênuo quando imaginou que ficaria sozinho na disputa pelos partidos de centro-direita. Isso jamais aconteceria, porque esses partidos há décadas estão acostumados a tirar vantagem de quem pode lhes oferecer melhores posições numa composição política ou maior espaço na Esplanada dos Ministérios e na direção de estatais e empresas públicas. Agiram assim com Fernando Collor, e o abandonaram quando não tiveram mais o que dele tirar. Também ofereceram seus serviços a Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma. Com esta última, repetiram o que fizeram com Collor: entregaram-na ao processo de impeachment quando seu governo já não lhes interessava.
Ciro parece acreditar que vai domar os partidos de centro-direita com declarações como a de que primeiro montará uma aliança com PSB e PCdoB, para dar uma identidade à sua campanha, e depois os chamará para engrossar suas fileiras. Não vai. Se eles fizerem um acordo com Ciro, e lhe oferecer a governabilidade, não será por causa das bravatas do pré-candidato do PDT. Será porque as negociações políticas lhes foram vantajosas.
Ciro Gomes não é um pré-candidato que assusta nem os partidos de centro-direita nem o mercado. Sua trajetória não é diferente da de outros pré-candidatos. Ele já foi filiado ao PDS, partido que tomou o lugar da Arena, a legenda que dava sustentação à ditadura militar, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e agora está no PDT. Ministro da Fazenda no pós-Plano Real, no governo de Itamar Franco, teve uma atuação considerada mais do que tranquila. Costuma se envolver em polêmicas verbais, mas o prejuízo provocado por elas quase sempre sobram para ele. Como na eleição presidencial de 2002. Num programa ao vivo na Rádio Metrópole, de Salvador, perdeu a paciência com um ouvinte que o chamara de “incoerente”, porque havia se aliado ao então senador Antonio Carlos Magalhães. Em resposta, Ciro o xingou de “burro”. Teve de responder pelo insulto durante o resto da campanha.
O Estado de São Paulo