quarta-feira, 9 de maio de 2018

Chefe da diplomacia dos EUA volta de Pyongyang com americanos que estavam detidos


Foto divulgada pela Casa Branca mostra o então diretor da CIA, o recém-aprovado secretário de Estado Mike Pompeo, cumprimentando o líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Pyongyang - Casa Branca

Com O Globo e AFP


WASHINGTON E TÓQUIO - O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, trouxe consigo de uma nova viagem à Coreia do Norte três americanos que estavam presos no país. A ação ocorre após o secretário de Estado reunir-se com funcionários de alto escalão do regime para preparar uma cúpula que discutirá o tema nuclear.

"Tenho o prazer de informar a vocês que o secretario de Estado Mike Pompeo está no ar e de volta da Coreia do Norte com os três maravilhosos cavalheiros que todos estão querendo tanto encontrar. Eles parecem estar com boa saúde. Também, uma boa reunião com Kim Jong-un. Data e local marcados", escreveu o presidente Donald Trump no Twitter, referindo-se ao fato de que a viagem serviu para selar a cúpula que os dois líderes devem ter neste mês ou em junho.

Trump disse ainda que receberá Pompeo "e seus convidados", que chegarão durante a madrugada na base aérea de Andrews, perto de Washington.

— Os três americanos parecem estar bem de saúde e todos puderam embarcar no avião sem ajuda — indicou Sarah Huckabee Sanders, porta-voz do governo americano.
Com gestos de boa vontade, presos anteriores foram libertados aos cuidados de visitantes americanos de alto nível. Os três homens que estavam presos na Coreia do Norte haviam sido acusados de espionagem ou "atos hostis" contra o regime, sendo tratados como "prisioneiros de guerra".

Em 2016, coreano-americano Kim Dong-chul chora ao fazer coletiva em Pyongyang: julgamentos são fraudados na Coreia do Norte para punir suspeitos e ter moeda de troca diplomática, segundo especialistas - KCNA VIA KNS / AFP

Kim Dong-chul, detido em 2015, havia sido condenado a dez anos de prisão. O professor Tony Kim e o consultor de agricultura Kim Hak-song ainda não haviam passado por julgamento. A última vez que eles haviam sido vistos foi quando um funcionário do Departamento de Estado, em junho passado, trouxe de volta o estudante Otto Warmbier, em coma e que acabaria morrendo em decorrência de aparentes maus tratos pelo regime.

Pompeo foi enviado em uma visita não anunciada — sua segunda em semanas, mas a primeira como secretário de Estado — para lançar as bases de um encontro sem precedentes entre Donald Trump e Kim Jong-un. Depois de anos de tensões e sanções cada vez mais rigorosas sobre os programas nucleares e de mísseis da Coreia do Norte, o diálogo com a península rapidamente acelerou.

— Para reforçar a reconciliação entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte e para espalhar a paz pela Península Coreana, desejamos uma rápida repatriação dos seis detidos sul-coreanos — disse Yoon Young-chan, porta-voz da Presidência sul-coreana, comemorando o "efeito positivo" da libertações dos americanos.

CHINA, JAPÃO E SUL TENTAM COESÃO SOBRE PYONGYANG


Moon Jae-in (terceiro à direita) e Shinzo Abe (quarto à esquerda) se reúnem em Tóquio - POOL / REUTERS

A visita de Pompeo também coincide com uma reunião tripartite das principais potências do Leste Asiático, em Tóquio, com Japão, Coreia do Sul e China em busca de um acordo mínimo a respeito de eventos recentes.

— Concordamos, em primeiro lugar, que reconhecemos que a desnuclearização completa da Península Coreana, o estabelecimento de uma paz duradoura e o desenvolvimento das relações intercoreanas são cruciais — disse Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul.
A declaração é uma tentativa de superar as diferenças entre os três vizinhos sobre a Coreia do Norte.

Dentre os três, o Japão é o que tem uma posição mais dura em relação a Pyongyang e não está confortável com o ritmo dos acontecimentos. Para Tóquio — que segundo especialistas teme ser deixado de lado pelos EUA em favor de Seul —, faz-se uma concessão injustificável aos norte-coreanos. O premier Shinzo Abe, no entanto, classificou os esforços pela desnuclearização como "essenciais".

— Devemos pegar o recente impulso para a desnuclearização na Península Coreana e para a paz e segurança, e, cooperando ainda mais com a comunidade internacional, certificar-nos de que isso esteja ligado a uma ação concreta da Coreia do Norte — afirmou Abe junto a Moon.

Kim Jong-un se reúne com Xi Jinping em Dalian, na China - KCNA / REUTERS

Após uma década de negociações, Japão e China concordaram ainda em criar uma linha direta de segurança para evitar qualquer confronto naval entre as duas potências asiáticas. 

O acordo é o mais recente resultado de um esforço para melhorar os laços diplomáticos afetados pela persistente amargura a respeito da ocupação de parte da China pelo Japão na primeira metade do século 20 e pela disputa sobre a posse de ilhas menores no Mar da China Oriental.

Em uma cerimônia pública depois de uma cúpula em Tóquio, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o premier chinês, Li Keqiang, acompanharam a assinatura de um pacto para estabelecer, em 30 dias, uma linha direta para oficiais de defesa se comunicarem durante incidentes envolvendo embarcações ou aeronaves militares.

As negociações sobre a linha direta haviam parado em 2012, depois que o governo japonês comprou as ilhas em disputa, conhecidas em Tóquio como Senkaku e em Pequim como a Diaoyu, de um proprietário privado.

Além da linha direta, o pacto desta quarta-feira prevê reuniões regulares entre oficiais de defesa de ambos os países e um mecanismo para que as suas embarcações navais se comuniquem no mar para evitar incidentes marítimos.