domingo, 3 de maio de 2015

"O sigilo dos petrocomissários", por Elio Gaspari

Folha de São Paulo


O repórter Fábio Fabrini revelou que a Petrobras destruiu os vídeos onde estavam gravadas as discussões de seu Conselho de Administração. Para uma empresa que está coberta por uma névoa de suspeitas, não poderia haver notícia pior. O comissariado informa que essas gravações servem como subsídio para a redação das atas e, feito esse serviço, são apagadas. Contudo, não mostra a norma que determina esse procedimento. Pelo que lá aconteceu, a Petrobras ficou numa situação em que lá tudo pode ter acontecido. Se ela andar sobre as águas dirão que não sabe nadar.

Quem grava e apaga os debates de uma reunião só age dessa forma porque está interessado em suprimir alguma coisa do conhecimento dos outros. Todos os áudios das reuniões do conselho da Petrobras poderiam ser armazenados num pen drive do tamanho de um isqueiro. O mesmo acontece com as reuniões do Copom do Banco Central, que jamais deu uma explicação convincente para sua conduta. (O seu similar americano divulga as transcrições dos áudios a cada cinco anos. Se o BC quiser, pode criar um embargo de vinte anos. O que não pode é apagar o que se diz nas suas reuniões.)

O apagão da Petrobras só servirá para ampliar o grau de suspeita que hoje envolve suas práticas, sobretudo porque lá estavam as intervenções da doutora Dilma, que presidiu o conselho da empresa. Não há uma lei que mande preservá-los, mas destruí-los ofende o senso comum.

Fica feio para a jovem democracia brasileira que funcionários do Planalto tenham registrado súmulas das audiências de Lula em seus laptops particulares ou que tratem de assuntos de Estado em endereços eletrônicos privados. O que ficou nos laptops sumiu. Sumiram também os registros de algumas reuniões gravadas. Fica feio, porque durante a ditadura o marechal Costa e Silva gravou a reunião em que se discutiu a promulgação do Ato Institucional nº 5 e preservou-se a fita. Graças a isso pode-se provar que a ata de 1968 foi editada. O famoso "às favas todos os escrúpulos" do ministro Jarbas Passarinho na ata virou "ignoro todos os escrúpulos". Durante a experiência parlamentarista de 1961 a 1963 preservaram-se as notas taquigráficas das reuniões do Conselho de Ministros.

Muitos companheiros reclamam que documentos da ditadura desapareceram. É verdade, mas não deveriam apagar a memória da democracia.

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PEIXES GORDOS

Os procuradores da República que investigam os peixes gordos com foro especial em Brasília ouviram demoradamente o "amigo Paulinho". Começou um procedimento de verificação dos depoimentos dados ao pessoal de Curitiba. É possível que já se tenha fechado o círculo em torno de uma movimentação de dinheiro.

A votação da Segunda Turma do STF no caso do habeas corpus dos empreiteiros mostrou que na bancada minoritária ficaram os ministros Celso de Melo e Cármen Lúcia (com a faca nos dentes). É improvável que Teori Zavascki ou Gilmar Mendes formem uma linha de zagueiros com Dias Toffoli.


SEM BRAVATA

O Itamaraty sinalizou que recebeu um recado do governo da Indonésia e evitou adjetivos estridentes ao reclamar da execução do traficante de drogas Rodrigo Gularte.

Depois da pirraça da doutora Dilma recusando-se a receber as credenciais do novo embaixador indonésio, a venda de 16 Super Tucanos da Embraer foi colocada na frigideira.


BETO CABRAL

Vozes serenas do tucanato enviaram sinais ao governador Beto Richa alertando-o para os riscos de rodar o software Sérgio Cabral 2.0.

Graças à fé infinita de Cabral no porrete da PM, o governador reeleito com dois terços dos votos em 2010 tem evitado circular nas ruas do Rio.


EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota. Ele acha que pagando-se R$ 11 mil por mês aos membros do Conselho de Administração dos Recursos Fiscais acaba-se com uma roubalheira onde um refresco para um banco autuado pela Receita rendia uma propina de R$ 28 milhões.


MAIS UM

Nesta semana devem começar em Curitiba as conversas para mais um acordo de colaboração nas investigações da Lava Jato.

Elas terão uma nova essência. O novo colaborador poderá contar muitas coisas de seu negócio, mas seu testemunho será valioso para narrar encontros que teve com petrocomissários que estão presos, aferrados a negativas.


LI KEQIANG

No dia 19 chega ao Brasil o primeiro-ministro chinês Li Keqiang. Tomara que não se repitam trapalhadas como a da visita do presidente Hu Jintao ou a da ida da doutora Dilma a Pequim em 2011.

Li é um superadministrador. Economista, fluente em inglês, deu uma demonstração de seu espírito prático em 2007. Conversando com o embaixador britânico, disse-lhe que não dava muita bola para o indicador do PIB, no qual há fortes influencias subjetivas. Ele preferia olhar para três indicadores brutos: o consumo de energia, o volume do crédito e a movimentação de cargas nas ferrovias. Nasceu aí o que hoje se chama "Índice Li" (Como as ferrovias brasileiras são o que são, não se deve brincar com essa variável).

Se esse índice é melhor que o do PIB, desde agosto do ano passado a economia chinesa vai devagar, no pior nível desde 2004.