domingo, 31 de maio de 2015

Blatter será interrogado na Suíça, diz ´Sunday Times`

Jamil Chade - O Estado de São Paulo

Segundo publicação, operação do Ministério Público suíço vai investigar compra de votos e ir às origens da corrupção na entidade

ZURIQUE - O Ministério Público da Suíça vai interrogar o presidente da Fifa, Joseph Blatter, nas investigações penais sobre a suspeita de compra de votos para a Copa de 2018 e 2022. 

A revelação foi publicada neste domingo, 31, pelo
 Sunday Times e confirmada por pessoas próximas ao caso. Blatter, como presidente, não votou pelas sedes dos Mundiais. Mas os suíços querem saber qual foi de fato seu envolvimento no caso. 
Na semana passada, o MP em Berna mandou uma equipe para a sede da Fifa e que resultou no confisco de dezenas de documentos e computadores. Naquele momento, a entidade confirmou a ação. Mas insistiu que estava colaborando e que  o caso havia começado justamente depois de uma denúncia feita pela própria entidade em novembro de 2014. 
Joseph Blatter respondeu a uma bateria de perguntas na primeira entrevista coletiva 
Joseph Blatter respondeu a uma bateria de perguntas na primeira entrevista coletiva 
Mas esse não seria o único caso liderado pela Justiça. De forma paralela, um segundo processo secreto foi estabelecido relacionado à eleição das sedes de 2018 e de 2022, que ficara para o Catar e Rússia. A votação ocorreu em 2010.
O processo começou no início do ano e foca em "lavagem de dinheiro" e "gestão fraudulenta".
Segundo o MP, Blatter será um dos dez dirigentes que, nos próximos meses, serão interrogados. Alguns deles já teriam colhido depoimentos nesta semana mesmo. Uma eventual condenação significaria 7 anos de prisão.
A investigação ganhou o nome de "Operação Darwin", numa referência às origens. Contas já foram bloqueadas e o próximo passo é a coleta dos depoimentos.  
Além de Blatter, podem ser ouvidos ainda Michel Platini, presidente da Uefa, e Vitaly Mutko, ministro de Esporte da Rússia e membro da cúpula da Fifa. 
Bancos. Segundo a BBC, bancos ingleses também iniciaram auditorias internas para tentar identificar o movimento de contas em nome de dirigentes da Fifa. Pelo menos três bancos ingleses foram citados no indiciamento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, entre eles, o HSBC e o Barclays. Eles não estão na lista de suspeitos, mas terão que cooperar. 
O Estado apurou que bancos brasileiros também estão entre os citados pela justiça americana, ente eles o Itaú e o Banco do Brasil. 
Prisão. Nesse sábado, 30, Blatter reagiu irritado quando foi questionado se temia ir para a prisão. "Preso, porquê?", respondeu. 
Ele se recusou a aceitar uma demissão e a tradicional postura humilde foi substituída por ataques, agressividade e um alerta: "Eu não esqueço".  
Blatter ainda classificou a operação do FBI como uma manobra dos EUA para atacar a Fifa como revanche por ter perdido a Copa de 2022 para o Catar.  
Pressionado mesmo diante de ter sido eleito na sexta-feira, ele se recusou a assumir qualquer culpa ou envolvimento nos pagamentos investigados pela Justiça americano. Num dos trechos do indiciamento do Departamento de Justiça dos EUA, um pagamento de US$ 10 milhões é feito a um de seus vice-presidentes, Jack Warner, num dinheiro que teria passado pela Fifa.
O valor seria a propina da África do Sul para ganhar votos para a Copa de 2010. Warner protestou diante do fato de o dinheiro não ter sido depositado e pediu para a Fifa. O valor acabaria vindo do Comitê Organizador da Copa do Mundo, controlado em parte pela Fifa. 
O FBI faz mistério se Blatter está entre os investigados e, nesse sábado, seu nervosismo era nítido diante das perguntas sobre um eventual envolvimento. Warner, há poucos dias, chegou a insinuar que o suíço teria sido informado do pagamento. "Se eu recebi isso, quem pagou?", questionou. 
Blatter respondeu. "Não comento alegações. Vamos deixar as investigações seguirem. Mas definitivamente não sou eu o mencionado", disse. "Eu não tenho esses US$ 10 milhões." Questionado se era "negligente ou incompetente", Blatter também foi duro. "Nem um e nem o outro." "Se alguém investiga, eles têm todo o direito. Se isso for feito de forma correta, não tenho preocupações", insistiu.