domingo, 31 de maio de 2015

Presidente admite que CPI da Petrobras é "mais do mesmo" e defende acareações

Bruna Borges
Do UOL


  • Ed Ferreira - 26.mai.2015/Folhapress
    O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), durante audiência
    O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), durante audiência
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras iniciou os trabalhos há três meses, mas ainda não trouxe revelações novas sobre o escândalo de corrupção da estatal. Os depoimentos dos suspeitos apenas confirmaram informações já declaradas em delações homologadas pela Justiça ou publicadas pela imprensa.

Para tentar reverter essa situação, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), diz estar disposto a investir em acareações entre os investigados e em quebras de sigilos, mas admite, em entrevista ao UOL, que a comissão é "mais do mesmo". Ele também solicitou à Câmara mais dois meses para dar continuidade às investigações, pedido que foi atendido na quinta-feira (28).

O presidente nega que a comissão sofra alguma influência para proteger políticos. O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um dos investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de ter recebido propina. Cunha sempre negou que tenha obtido repasses do esquema investigado pela operação Lava Jato.

Motta afirmou ainda que a comissão atua com "imparcialidade" e "sem interferência" de lideranças partidárias.

UOL - Os depoimentos dos suspeitos da operação Lava Jato apenas confirmaram informações que já existiam em delações premiadas. Em que a CPI avançou na investigação do esquema de corrupção da Petrobras?
Hugo Motta
: Quando as informações já são sabidas previamente por terem sido publicizadas como as delações, infelizmente você não vê grande avanço. Na verdade, é mais do mesmo. Sem dúvida nenhuma, resta à CPI ter a capacidade de trazer à investigação pessoas que ainda não contribuíram e que podem contribuir e tentar levantar algumas informações que ainda não foram dadas. Esse tem sido nosso desafio. Algumas novas informações surgiram, como essa questão dos crimes financeiros. Nós vamos dar uma atenção especial a isso porque na história recente desse país todas essas histórias [de corrupção] envolveram crimes do setor financeiro. No momento em que estamos, acho que cabe à CPI ter esse cuidado e ter um compromisso com essa investigação para que a gente possa ir acabando com essas brechas que acabam dando margem para que isso seja feito de maneira ilegal.

Há influência do presidente Eduardo Cunha na CPI? Como o senhor reage às declarações de que seria um deputado muito ligado a ele?
Eu tenho amizade de Eduardo, ele foi meu líder [da bancada do PMDB] e eu votei nele para presidente [da Câmara]. Por ser do mesmo partido, essas ilações sempre surgem. Eu fui alçado não por ele, mas pelo líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para assumir essa missão. E estou cumprindo minha missão com imparcialidade e sem permitir nenhuma interferência nem de Eduardo, nem de Leonardo, nem de ninguém quer que seja. A partir do momento que eu sou escolhido pelo partido e eleito presidente, o Hugo deputado é um e o presidente da CPI é outro para evitar essa contaminação político-partidária e prejudicar os meus trabalhos. Quem vive numa democracia tem que conviver com essas colocações. Não me preocupa.

A CPI só ouviu políticos presos. A comissão está protegendo os outros investigados pelo STF?
Para que não haja nenhum tipo de suspeita de que estou protegendo quem quer que seja, os requerimentos para ouvir políticos sempre serão pautados. A CPI não pode ser transformada no Conselho de Ética, que é quem deve apurar a conduta dos políticos depois que o Supremo Tribunal Federal der esse veredito.

Há deputados que são contra dispensar depoentes que se calam na CPI. O senhor acha que eles querem apenas exposição nos meios de comunicação?
Como a CPI é uma apuração política, ela tem toda uma visibilidade, essa visibilidade é buscada e é justo que seja. Serve para prestar uma satisfação a seu eleitorado e a toda sociedade e cobrar de quem tem, principalmente em um caso importante como esse.

Áudios de reuniões da Petrobras que são sigilosos vazaram e foram divulgados pela imprensa. O que a comissão fez para ampliar a segurança dos dados?
Nós temos que respeitar esse sigilo para não prejudicar as investigações. São informações colhidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e por todas as instituições envolvidas na investigação. A sala-cofre é um lugar que a CPI guarda os documentos para evitar que eles sejam vazados. Podem entrar lá os parlamentares e alguns assessores autorizados por eles para poderem analisar a documentação, já que é muito extensa. Eu não sei de onde vazou, mas foram tomadas providencias para que não aconteçam, para que eu possa dar a manutenção daquele sigilo, porque eu sou o responsável já que sou o presidente. Então colocamos câmera e proibimos a entrada com aparelhos celulares para evitar que ocorram outros vazamentos.

Quais são os próximos passos da investigação?
Nós temos reunião deliberativa no próximo dia 11, vamos tratar desses crimes do mercado e sistema financeiro. Quero evoluir nas acareações e quebras de sigilo. E também podemos evoluir já com o que a Kroll vai apresentar de resultados dessa análise da busca de ativos que foram desviados e que ainda não foram devolvidos aos cofres públicos. A ideia é depois cobrar das autoridades uma mudança sobre isso.