Blog do Noblat - O Globo

Numa excelente entrevista que o historiador Thomas Cahill deu ao jornalista Jorge Pontual no fim do ano passado, transmitida pela Globo News, Cahill fez uma observação sobre o efeito da invenção de Gutenberg sobre o povo de sua época. Disse ele que as pessoas devem ter se entusiasmado com a novidade, aquela maneira mais rápida de copiar a Bíblia, mas nem de longe podiam supor o que viria em seguida.
Naquela época, ainda segundo Cahill, a maior instituição intelectual da Europa, a Universidade de Paris, tinha cerca de 200 títulos individuais, livros manuscritos, em sua biblioteca. Com a chegada da prensa, foi um tal de imprimir livros que em breve a alfabetização aumentou. As pessoas passaram a achar que se o vizinho juntava aqueles 20 símbolos e lia, elas também poderiam fazê-lo, coisa que não parecia tão difícil.
E assim foi feito. E as bibliotecas se multiplicaram e os cidadãos passaram a poder ter livros em casa. Mas tudo o que viria depois, isso não passou pela cabeça de ninguém.
E assim é com a Internet. Já sabemos muito do que ela é capaz, mas nem sombra do que poderá vir por aí passa por nossa cabeça. A única certeza é que tal como a prensa, a web veio para ficar. E ainda não sabemos da missa nem a metade.

Juntas e irmanadas, essas duas maravilhas são vitais para nossa vida, oxigenam nossos cérebros e permitem que a malta aqui em baixo fique sabendo, por exemplo, das extraordinárias atividades em Brasília, ou das declarações feitas na convenção do PT, por exemplo.
O presidente do PT, esquecido que ele é da situação, pediu à militância petista que retomasse o espírito de 1989, acrescentando que não serão permitidos retrocessos! Admitiu também que esta eleição será a mais difícil de todas. “Os fatos mostram que sim”.
Para contornar os fatos, com certeza, é que no discurso da presidente-candidata surgiu uma nova herança maldita, abstrusa a mais não poder, que pula os 12 anos de PT e, acredite quem quiser, vai dar até na Gloriosa!
Só nos resta pedir que a Copa inspire os eleitores. Já seria um bom legado.
Primeiro, não confundir a alegria dos turistas que aqui estão de férias e curtindo nossas paisagens, o clima, a música e a hospitalidade, com eleitores satisfeitos com partidos A ou B. Não tem nada uma coisa a ver com a outra.
Depois, lembrar, como a Copa do Mundo está nos lembrando, que às vezes a vida prepara surpresas e que os grandes se estrumbicam...
Quem quer que insista nessa toada de controlar nossa Imprensa, a escrita, a falada e a das nuvens, vai levar um baita tombo.
A única salvação é a Imprensa Livre, independente de qualquer controle governamental, de qualquer natureza. A liberdade é sinônimo de oxigênio.
Já pensaram sem a prensa ou sem a web? Como é que nós iríamos saber das palavras, pensamentos e ações dessas mentes fantásticas?
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.