Ana Paula Ribeiro - O Globo
Petrobras tem pregão de extremos e reduz ganhos do Ibovespa no fechamento. Pela manhã, ações da estatal tinham subido mais de 3%
A Petrobras viveu nesta terça-feira um pregão de extremos, o que afetou diretamente o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro. No fechamento, o indicador fechou em leve alta de 0,13%, aos 54.280 pontos - na máxima, chegou aos 55.002 pontos. Já o dólar comercial fechou com avanço de 0,40%.
São algumas as razões para essa reversão. No mercado interno, os investidores fazem as contas sobre a contratação direta da Petrobras para explorar o óleo excedente nas áreas de cessão onerosa nos campos do pré-sal, que deve exigir um investimento de R$ 2 bilhões no primeiro ano.
— São informações desencontradas até agora. Mas pode ter o risco de um estrangulamento do caixa da Petrobras. E, mais do que isso, o mercado interpretou como um sinal de mais uma intervenção do governo federal na empresa — afirmou Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest.
Para o estrategista da Gradual Corretora, Flávio Conde, a queda das ações da petrolífera na reta final do pregão é também uma correção das expectativas. Em sua avaliação, no período da manhã a alta foi elevada, principalmente, devido à participação de investidores estrangeiros, que entraram comprando, animados com a alta dos mercados nos Estados Unidos. No entanto, houve uma reversão no período da tarde, em razão do aumento do pessimismo com a situação no Iraque.
— Tantos os investidores domésticos como os estrangeiros estão de olho lá fora. E houve o aumento da tensão no Iraque, que anulou os resultados positivos da economia americana — explicou Conde.
Os papéis preferenciais (sem direito a voto) da estatal fecharam em queda de 3,61%. Nos ordinários (com direito a voto), o recuo foi de 2,67%.
Para o analista da Saga Capital Gustavo Mendonça, há poucas razões para uma alta elevada no início do pregão desta terça-feira. Como exemplo, cita as informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostrou a geração de 58.836 vagas em maio, o pior saldo para o mês desde 1992.
— A geração de emprego formal está mais fraca. Continuamos acumulando notícias ruins no campo econômico e isso tende a se transferir para os balanços das empresas — disse, ao justificar que o Ibovespa sobe sem sustentação.
Elad Victor Revi, analista da Spinelli Corretora, acredita que o Ibovespa chegou a seu ponto de equilíbrio, entre 54 mil e 55 mil pontos, embora algumas quedas pontuais possam ocorrer, em especial em períodos de divulgação de indicadores relevantes.
— Talvez ainda tenha algumas quedas pontuais. Um dos sinais é a questão eleitoral, com o mercado comprando a derrota da Dilma nas eleições, o que ajudou o Ibovespa subir. Mas a gente também estava muito defasado em relação a outras bolsas no exterior — afirmou.
OLHO NO EXTERIOR
Para Revi, o mercado esteve atento aos dados divulgados nesta terça-feira, mas a atenção está voltada para o PIB dos Estados Unidos, que será divulgados na quarta-feira.
Já na avaliação dos analistas da XP Investimentos, os dados divulgados nos Estados Unidos concentraram as movimentações dos investidores desde a abertura dos negócios. O índice de confiança na economia do país em junho ficou em 85,2 pontos, acima dos 82,2 pontos de maio. Já as vendas de casas novas em maior avançaram 18,6%, bem acima da expectativa de analistas.
Apesar dos dados positivos da economia americana, os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam em queda. O Dow Jones registrou queda de 0,70% e o Nasdaq, de 0,42%. Já o S&P recuou 0,64%. Na Europa, o DAX, da Alemanha, fechou em alta de 0,17% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, avançou apenas 0,06%. Já o FTSE, de Londres, caiu 0,20%.
CÂMBIO EM ALTA
No mercado e câmbio, o dólar comercial fechou em alta diante o real, cotado a R$ 2,2250 para a compra e a R$ 2,2270 para a venda, avanço de 0,40%.
Segundo o economista João Paulo de Gracia Corrêa, da Correparti Corretora de Câmbio, o dólar apresenta direções divergentes nesta terça-feira em relação ao euro, iene e a divisas de países emergentes. "Internamente, além de acompanhar o comportamento internacional da moeda americana, dados ruins da conta corrente brasileira e fluxo de saída pela manhã colaboraram para manter o real desvalorizado”, afirmou, em relatório.
Os negócios foram influenciados pela divulgação dos dados sobre o setor externo, em que o Brasil registrou um saldo negativo em sua conta corrente (resultado de todas as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo) de US$ 6,6 bilhões em maio.