Gabriela Valente - O Globo
O Brasil registra um déficit de US$ 40,1 bilhões nos primeiros cinco meses deste ano: o maior já visto no período desde quando o BC passou a registrar os dados em 1947.
BC registra impacto da Copa do Mundo nas contas externas do país. Nos 18 primeiros dias de junho, turistas estrangeiros gastaram US$ 365 milhões
A Copa do Mundo já começa a ter impacto nas contas externas do país. Segundo dados preliminares do Banco Central, apenas nos 18 primeiros dias de junho, os turistas estrangeiros gastaram US$ 365 milhões. A projeção do BC é que as receitas com os viajantes de fora cresçam 24% em relação a junho do ano passado. A tendência é que o aumento seja ainda maior em julho já que a maior parte dessas despesas é feita com cartão de crédito e são efetivadas apenas no mês seguinte. Além de arrecadar mais dólares, o mundial de futebol conseguiu uma façanha: diminuiu o ímpeto de viajar do turista brasileiro que ficou no país.
De acordo com os dados preliminares do Banco Central, os turistas brasileiros deixaram US$ 1,1 bilhão lá fora nos 18 primeiros dias de junho. Isso representa uma queda de 11% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para o BC, a tendência é que a conta de viagens internacionais fique um pouco menos desequilibrada daqui para a frente.
- As belezas naturais são um marketing considerável e que tendem a influenciar positivamente as receitas de turismo futuramente. As características do país estão sendo vistas por bilhões de pessoas neste momento e isso tende a influenciar o turismo no Brasil - previu o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Nos últimos anos, os gastos de brasileiros com viagens ao exterior passou a pesar no rombo das contas externas. Desde o início do ano até maio, por exemplo, as despesas dos turistas somaram US$ 10,5 bilhões. Enquanto as receitas com viagens de estrangeiros ao Brasil foram de apenas US$ 2,8 bilhões.
Essa disparidade tem aprofundado o rombo das chamadas transações correntes, ou seja, do resultado de todas as trocas de serviços e do comércio do Brasil com o resto do mundo. O Brasil registra um déficit de US$ 40,1 bilhões nos primeiros cinco meses deste ano: o maior já visto no período desde quando o BC passou a registrar os dados em 1947.
Resultados negativos cada vez maiores são registrados por causa da fraqueza da balança comercial brasileira. Como o país não aumenta as exportações e está cada vez mais dependentes de importações, o rombo tende a crescer. Mesmo assim, o BC manteve a previsão de que o déficit será de US$ 80 bilhões neste ano. O Banco Central faz revisões trimestrais de suas projeções.
Os investimentos recebidos pelo país de janeiro a maio chegam apenas a US$ 25,3 bilhões: bem longe de compensar o déficit de transações correntes. Com isso, o país tem ficado cada vez mais dependente de capitais especulativos. Investimento estrangeiro direto, um capital considerado de melhor qualidade porque amplia a capacidade de produção nas fábricas.
Maciel prevê ainda um outro tipo de “efeito Copa” nas contas do país. Os gastos com transporte devem diminuir porque o Brasil paralisa atividades para ver os jogos e muitas operações de comércio exterior não são fechadas. Além disso, o gasto de estrangeiros em companhias aéreas brasileiras aumenta.