quarta-feira, 21 de março de 2018

Banco Central reduz juros para 6,5%, menor taxa da história

Gabriela Valente, O Globo


Com a inflação mais baixa que o esperado, o Banco Central cortou os juros básicos da economia de 6,75% ao ano para 6,5% ao ano. Foi a 12ª vez consecutiva que o Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu a taxa. É o menor patamar da Selic na História e o BC avisou que pode ficar ainda mais baixo. Indicou ainda que deve fazer mais um corte de 0,25 ponto percentual e só depois encerrar o processo de queda que começou em 2016. A decisão foi tomada por unanimidade.


“Para a próxima reunião, o comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional. O Comitê julga que este estímulo adicional mitiga o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas. Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar à interrupção do processo de flexibilização monetária, no caso dessa mitigação se mostrar desnecessária”, disse o Copom, em comunicado, que complementou:

“Para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”.

O Banco Central afirmou que a atividade mostra recuperação consistente e que o cenário externo tem se mostrado favorável por causa do crescimento global e isso tem contribuído até o momento para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes. A decisão foi tomada poucas horas depois de o Federal Reserve (Fed, o BC americano anunciar que começou a subir os juros.

No comunicado divulgado após a reunião, o Banco Central justifica o corte. Diz que a inflação evoluiu de uma forma mais benigna que o esperado desde o início de ano. Ressaltou que até mesmo os itens mais sensíveis aos juros vão melhor que o esperado.

Nas contas do BC, a previsão para a inflação deste ano é de 3,8% e de 4,1%. Isso leva em conta a previsão dos analistas do mercado financeiro para os juros básicos que eram de 6,5% ao ano neste ano e de 8% em 2019. No entanto, como o BC já avisou que pode cortar mais, a projeção para a inflação pode subir e ficar mais próximas da metas de 4,5% neste ano e de 4,25% no ano que vem. Essa é a expectativa do Copom.

Como de costume, o Copom listou as dúvidas que enxerga. No quesito "risco do bem", está a possibilidade de a inflação pode ficar ainda mais baixa se houver uma possível propagação do nível baixo de inflação, o que os economistas chamam de inércia inflacionária.

Por outro lado, a frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas pode afetar prêmios de risco e fazer com que o Brasil fique mais caro. O perigo se intensifica no caso de reversão do cenário externo favorável para os emergentes.

“O comitê enfatiza que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural. As estimativas dessa taxa serão continuamente reavaliadas pelo Comitê”.

Há um mês e meio, quando o Banco Central tinha cortado a última vez avisou que pararia por ali. No entanto, a inflação continuou em queda numa velocidade maior que o previsto.

Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 2,84%: abaixo do piso da meta para o ano. O BC tem de entregar a inflação em 4,5% em 2018, mas tem um limite de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo para acomodar choques que aumentam ou diminuem demais os preços.

Foi o que aconteceu no ano passado, quando houve uma super safra que derrubou os preços dos alimentos. Por isso, a inflação oficial ficou abaixo da meta, em 2,95%.

Ao ver que a inflação continuava em queda, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, deu uma sinalização para mudar o rumo das expectativas. Numa entrevista, ele deixou claro que o sinal dado na última reunião do Copom não valia mais ao dizer que as últimas taxas de inflação que vieram, de fato, vieram mais baixas do que o esperado pelo BC e que isso surpreendeu a todo mundo até mesmo o Banco Central.

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