sábado, 4 de janeiro de 2025

'Na teologia das fake news, só a direita peca e o consórcio Lula-STF vai nos salvar', por J.R. Guzzo

 

(Foto: EFE/ Andre Borges)


De todas as discussões dementes, e sobretudo mal-intencionadas, que o consórcio Lula-STF impôs ao Brasil, talvez nenhuma seja tão sinistra quanto a teologia da fake news. Muita gente reza por essa fé, acreditando ou dizendo acreditar que os ministros e o presidente Lula querem combater o pecado da mentira e trocar seus males pela virtude da verdade. Fazendo as coisas do jeito que eles querem, você nunca mais vai ouvir uma mentira na vida, nem ouvirá pregação do “ódio” e nem será vítima de desinformação. Uma repartição “do Estado”, pelo que eles propõem, vai dizer o que é certo e o que é errado. É o fim da falsidade.

Quanto mais alucinada é a ideia de censurar as redes sociais, como querem o STF e o governo Lula, mais lamentável ela prova ser na prática. Não apenas querem socar no Brasil uma volta à Idade da Pedra, com a sua revolta rancorosa, repressiva e fútil contra o avanço da tecnologia. Também querem usar o aparelho estatal, com a proteção do STF, para impor as suas próprias mentiras. Quer dizer: não basta proibir a publicação de tudo o que não querem ouvir, mas é preciso a garantia de que possam falsificar, sem qualquer risco legal, tudo o que lhes interessa.


Uma repartição “do Estado”, pelo que eles propõem, vai dizer o que é certo e o que é errado. É o fim da falsidade


Acontece praticamente todos os dias e em tempo real. O último espasmo dessa estratégia combinada de impedir o inimigo de abrir a boca, e ao mesmo tempo falar todas as mentiras que o consórcio quiser, foi um manifesto de fim de ano do líder do PT na Câmara dos Deputados com números falsos sobre a inflação no Brasil. Segundo o líder petista, a inflação no Brasil ao fim de 2.024 foi de “4,4%” – muito abaixo, de acordo com a tabela que fez questão de publicar junto, dos índices da Alemanha, Estados Unidos ou Canadá. De fato, a inflação brasileira foi de 4,4%, e ficou abaixo da que foi registrada nas grandes economias – mas isso foi em 2.022, no governo Jair Bolsonaro.

A inflação verdadeira de 2.024 no Brasil foi de 4,9% - acima da meta, superior à de qualquer economia do Primeiro Mundo e com “viés” de alta, como atestou o preço recorde do dólar na abertura de 2.025. O que o deputado disse, portanto, é uma fake news em estado puro – o que, segundo os anátemas do ministro Alexandre de Moraes, é hoje praticamente um crime contra a humanidade, e privativo da “direita”. O deputado apagou a mentira que havia publicado, mas aí o serviço já estava feito. O governo Lula, segundo essa falsificação, está tendo uma inflação menor que a dos Estados Unidos – e isso é o que você vai ouvir, daqui para a frente, da Central Nacional da Verdade. É essa a “regulamentação das redes sociais”.


J.R. Guzzo, Gazeta do Povo