quarta-feira, 17 de junho de 2020

Latam anuncia encerramento das operações na Argentina

A Latam anunciou o fim das operações de sua filial na Argentina Foto: MARTIN BERNETTI / AFP
A Latam anunciou o fim das operações de sua filial na Argentina Foto: MARTIN BERNETTI / AFP


BUENOS AIRES - A aventura aérea durou 15 anos, mas finalmente chegou ao fim. A Latam Argentina anunciou formalmente que deixa de operar no país. Não teremos mais voos com os aviões brancos azuis e vermelhos aos 12 destinos domésticos. As rotas Santiago, São Paulo, Lima e Miami, os quatro destinos internacionais da companhia, serão mantidos por outras filiais.
Essa decisão era uma das alternativas em análise pela companhia, que, entre outras opções, estudava reduzir de 12 para quatro o número de aeronaves para manter apenas alguns destinos.
Mas o balanço no vermelho nos últimos anos, as regulamentações que sempre beneficiavam a Aerolíneas Argentinas, a luta histórica com os sindicatos e, é claro, a interrupção das atividades por causa da crise do coronavírus impuseram um custo muito para a empresa.
Virá agora o processo para desmanchar a empresa Lan Argentina S.A., conhecida comercialmente como Latam Argentina. A companhia possui 1.715 funcionários que serão demitidos. A operação internacional será mantida com as filiais chilena, peruana e brasileira.
Em comunicado, a companhia informou que passageiros que compraram passagens com cartão de crédito serão reembolsados automaticamente dentro de 30 e 45 dias. Para outras formas de pagamento, os clientes devem acessar o site da empresa.
Para voos internacionais, a data poderá ser alterada sem cobrança de taxas. O valor também pode ser convertido em crédito a ser utilizado até 31 de dezembro.
Tudo aconteceu nas últimas semanas. Os passos da Latam se tornaram preocupação em vários países, mas na Argentina eles nunca tiveram um interlocutor dentro do governo. Nos EUA, a companhia recorreu ao capítulo 11 da lei de falências, ganhando tempo para negociar suas dívidas.
Mas fora desse guarda-chuvas protetor do processo ficaram as filiais na Argentina, Paraguai e Brasil. E a possibilidade de ir à empresa-mãe em busca de assistência financeira foi reduzida.
Enquanto isso, na alta administração da empresa, os números das filiais eram repassados. Na contramão do que se dizia durante os anos da presidência de Mauricio Macri, de que o ex-diretor executivo Gustavo Lopetegui iria favorecer a empresa, a Latam mostrou seus piores resultados em sua curta história na Argentina.
Segundo balanço do ano passado, a Latam Argentina perdeu US$ 133,4 milhões, valor acima do prejuízo de 2018, de US$ 132 milhões. Em comparação, a filial brasileira lucrou US$ 185,7 milhões em 2019 e US$ 356 milhões no ano anterior. Não é preciso pensar muito para definir a quem socorrer nesta emergência.
De fato, os planos no Brasil são de expansão. Na terça-feira, a empresa anunciou um acordo de compartilhamento com a Azul, que incluirá inicialmente 50 rotas nacionais para as cidades de Brasília, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Campinas e São Paulo.

Uma jornada de 15 anos

A companhia entrou na Argentina em 2005, quando fracassou o processo de criação da estatal Líneas Aéreas Federales (Lafsa), após escândalo envolvendo a parceira Southern Winds, que transportou cocaína para a Espanha em um voo regular.
Antes que a Aerolíneas Argentina consolidasse um monopólio, a Latam foi autorizada a entrar no país. Em um processo muito rápido foi criada a Lan Argentina, que chegou a ter 12 aeronaves e 18% do mercado.
A entrada do governo na administração das linhas aéreas, ao assumir o controle da Aerolíneas Argentinas em 2008, tornou a operação ainda mais complexa. A confusão do Estado como operador comercial, regulador e controlador gerou um emaranhado que a Latam Argentina nunca conseguiria superar.
Enquanto a Latam Argentina acumulava prejuízos, a Aerolíneas Argentinas recebeu, desde 2011, US$ 4,8 bilhões em subsídios. Uma concorrência difícil.
Nos últimos meses, os executivos da empresa tentaram abrir diálogo mais fluido com o governo. A filial argentina anunciou corte salarial dos funcionários de no máximo 50% durante a crise do coronavírus, enquanto em outros países o plano emergencial foi mais drástico. Isso porque a empresa foi intimidada pelo ministro do Trabalho, Claudio Moroni, para manter 100% dos salários.
Agora, não haverá mais Latam Argentina. A empresa vai abrir um processo de prevenção de crise para encerrar os contratos de trabalho com os funcionários.
Finalmente, o sonho de monopólio da Aerolíneas Argentina está cada vez mais próximo. Restam em seu caminho apenas a Flybondi e a JetSmart, duas aéreas low cost. A Austral desaparecerá em poucos meses, sendo absorvida pela sua controladora, a própria Aerolíneas, e a Andes, possivelmente, não voltará a voar após a pandemia. Com a saída dos 12 aviões da Latam, restará em suas mãos pelo menos 80% do mercado aéreo argentino.
Diego Cabot, do La Nación