quinta-feira, 2 de abril de 2020

Petróleo permite alta da Bolsa, mas cenário interno e EUA impõem cautela

A valorização nas cotações do petróleo no exterior permite alta das ações de empresas ligadas ao segmento e, sobretudo, às da Petrobras, diante de expectativas de solução no conflito entre Arábia Saudita e Rússia sobre o mercado petrolífero. Como tem peso considerável no Ibovespa, ajudam a ancorar a elevação na B3.
Às 11h20, o principal índice à vista da B3 subia 1,63%, aos 72.120,96 pontos, sendo que os papéis da estatal avançavam mais de 7%, enquanto no exterior as cotações do petróleo tinham elevações entre 6% e 8,5%, às 11h21. No entanto, a valorização na B3 poderia ganhar ímpeto se não fosse a demora na implementação das medidas de estímulo no Brasil por conta do novo coronavírus.
Conforme o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, o governo e a equipe econômica precisam sair das entrevistas coletivas dizendo quando as ações chegarão na ponta final, citando como exemplo a liberação dos R$ 600 para trabalhadores informais. Porém, reforça que as medidas de ajuda são positivas.
Além de preocupações locais, há um outro temor que é o avanço rápido no número de casos de pessoas infectadas pelo vírus nos EUA. Diante desse cenário, o número de pedidos de auxílio-desemprego no país segue aumentando substancialmente. Na semana encerrada no dia 28, foi a 3,341 milhões, para o novo recorde de 6,648 milhões. O dado ficou acima da previsão, de 3,1 milhões.
A analista Sandra Peres, da Terra Investimentos, avalia que o quadro nos EUA é bastante preocupante, onde tem ocorrido aumento expressivo nos casos do novo coronavírus. Segundo ela, não só preocupa o país em si, mas o mundo. “Os EUA acabando puxando as demais economias, e agora lá agora é o epicentro da Covid-19, e está se agravando”, diz.
Por enquanto, na B3, o “driver é o petróleo. Primeiro por conta da declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, de que pode ajudar a acabar com essa instabilidade no preço do petróleo, com esse conflito entre Rússia e Arábia Saudita. Segundo, porque há a expectativa de que a China planeja comprar petróleo para reforçar suas reservas de emergências. Isso também ajuda muito”, afirma o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
O estrategista explica que, caso os preços da commodity prossigam em alta, será uma “normalização” e não um encarecimento. Segundo ele, os valores estão “absurdamente” em níveis baixos, o que pode ser prejudicial para a economia mundial. “Se o preço continuar em queda será muito pior”, afirma.
Um cenário, assim, reforça o economista-chefe do ModalMais, tem capacidade para quebrar as economias dependentes de petróleo, caso do Brasil. Esse aumento nas cotações hoje é bem-vindo não só para as ações da Petrobras, mas para a Bolsa como um todo. Pois, diz, se mantiverem o preço no nível atual poderá provocar deflação global. “Neste momento de expectativa de queda do PIB mundial, uma deflação seria muito pior”, opina.
Para os entrevistados, a demora na implementação dos recursos anunciados pelo governo para amenizar a situação financeira da população por conta dos efeitos da doença. O estrategista do Grupo Laatus lembra que neste momento muitas pessoas já estão tentando renegociar o pagamento de aluguéis, tentando pagar apenas uma parte, por exemplo, com medo do desemprego. “O problema é se isso crescer. Pode chegar uma hora em que faltará até mesmo itens básicos para muitos brasileiros, como alimentos”, alerta.
Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acelerou na a tramitação da proposta de emenda à Constituição (PEC) chamada de “Orçamento de Guerra”. Maia colocou a minuta da PEC na pauta do plenário e conseguiu o apoio da maioria das lideranças para que o texto pudesse seguir. “Isso é importante pois tende a agilizar tudo medidas e separar o que é circunstancial em função às ações por causa da Covid-19 e o que é corrente. Ajuda a clarear, afirma Bandeira.

Maria Regina Silva, Agência Estado