quarta-feira, 29 de abril de 2020

"O ovo", por Miranda Sá

“A mente, a liberdade, a luz e a vida/ Neste horror sufocados” (Bocage)
Uma anedota portuguesa referindo-se ao Ovo que ouvi na adolescência, ficou guardada na minha cabeça até hoje. Prende-se à incrível memória de Bocage, Manuel Maria Barbosa du Bocage, um dos poetas mais respeitados da língua portuguesa.
Conta-se que Bocage um dia encontrou-se com um amigo que lhe perguntou qual era o melhor alimento do mundo. Repentista, ele foi ágil em responder:  – “Um ovo”. Passou-se mais de um ano e eis que novamente Bocage e o mesmo amigo se deparam; aquele, antes mesmo de saudar o Poeta, indagou: -“Com quê? ”. Sem titubear, Bocage revidou: – “Com sal”…
O ovo é um alimento saudável pela facilidade em prepara-lo; representa um dos meus desjejuns prediletos, sejam fritos, cozidos e a la coque. Com um pão na chapa, é supimpa!
Entretanto, o ovo como alimento, tem sofrido avaliações diversas de nutricionistas e médicos, às vezes quase antagônicas. Esses diagnósticos levaram tempos atrás a uma quase proibição da gema pela alta concentração de colesterol; depois, anunciaram que não era nada disto, que era o colesterol “bom”, e liberaram garantindo que o ovo oferece equilíbrio em proteínas, gorduras boas e vitaminas concentradas.
O verbete dicionarizado “Ovo” é um substantivo masculino com significados na Biologia e na Zoologia, como célula resultante da fecundação e o embrião posto por muitos animais. Figuradamente é a primeira parte de alguma coisa, o princípio.
A Mitologia grega conta que Helena de Tróia nasceu de um ovo, após a relação de Zeus com a mortal Leda, que se metamorfoseava em gansa. Helena foi considerada a mulher mais linda da Grécia e teve protagonismo na Guerra de Tróia contada na Ilíada de Homero.
Um roteiro baseado na Ilíada, deu-nos um maravilhoso filme ítalo-norte-americano, “Helena de Tróia”, dirigido por Robert Wise e protagonizado pela linda Rossana Podestà.
O Ovo é usado metaforicamente como esperteza, exemplificando-se com a narrativa do “Ovo de Colombo”, algo que não se sabe fazer e depois se acha fácil ao vê-la realizada por outrem. E tem também a previsão maléfica do “Ovo da Serpente”, uma bela metáfora que Shakespeare pôs na boca de Brutus na sua tragédia “Júlio César”.
Aderindo à conspiração contra Júlio César Brutus compara-o a “um ovo de serpente, que eclodindo como sua espécie, cresceria maldosamente, razão pela qual deve ser morto na casca”.
Esta expressão tornou-se popular no mundo inteiro tempos depois, por ter sido o título de um clássico do cinema, “O Ovo da Serpente”, produzido por Dino De Laurentis e dirigido por Ingmar Bergman. O roteiro inspirou-se em Shakespeare, adaptado à realidade berlinense às vésperas da ascensão do nazismo.
As distorções sócio-políticas mostradas no filme saíram do mesmo maquinismo que levou ao mundo, em pleno século 20, os mais lamentáveis períodos de domínio de políticos messiânicos, como ocorreu com o nazismo e o comunismo.
O ninho dos ovos da serpente favorece chocar com eles a instabilidade sócio-política-moral, que gera e traz com ela todas as inseguranças sócio-políticas e a consequente depressão econômica.
No Brasil já enfrentamos as serpentes vermelhas do lulopetismo que se alimentavam do dinheiro público, assaltando vorazmente a Petrobras. Usamos o antídoto da Democracia e as afastamos quando tentavam retornar depois do impeachment do Poste de Lula, patroa do “Belias”…
Mas não tomamos uma vacina – porque, como no caso do covid-19, ainda não há vacina contra a falsidade ideológica -, então precisamos nos conscientizar e matar na casca os ovos da serpente marrom que ameaçam uma volta ao passado com a velha política do Centrão e dos picaretas do Congresso.
Pena que ainda há um grupo – pequeno, mas atuante -, que persiste em aceitar e até justificar isto. Um amigo diz que são robôs, no Twitter se referem a eles como gado, mas eu prefiro vê-los como cultuadores equivocados de personalidades.
A alucinação psicopática desta minoria leva-nos a evocar nosso epigrafado, Bocage, e um pensamento magnífico que nos legou: “Nas paixões, a razão nos desampara”.