sábado, 4 de abril de 2020

'Não existe superar sem dor. Não estamos aqui para tapar o sol com a peneira', diz Mandetta




O ministro da Sáude, Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva
Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ministro da Sáude, Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva Foto: Jorge William / Agência O Globo


O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta sexta-feira que a pandemia provocada pelo vírus chinês será superada com dor, e que ele não vai "tampar o sol com a peneira". Mandetta destacou ainda cinco cidades que preocupam: São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus e Brasília. Segundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde nesta sexta, o vírus já infectou 9.056 pessoas no país, matando 359.
— Não existe superar sem dor. Serão semanas duras. Serão dias difíceis. Não estamos aqui para tapar o sol com a peneira não. Mas faremos com o máximo da nossa inteligência, com o máximo do nosso denodo, sempre pensando no paciente, sempre pensando na preservação do maior número de vidas — disse Mandetta.
Segundo ele, a ideia é fazer um "painel nacional" para enfrentar a epidemia:
— Quando tiver um problema maior na cidade A, a gente vai à cidade B, que está calma, reforça um pouco aqui, e vai trabalhando esse nosso barco com muita dificuldade. Mas vamos ver se a gente consegue ir balanceando e utilizando a a vantagem que a gente tem, de ter o Sistema Único de Saúde.
O ministro disse que está preocupado com todo o Brasil e que mesmo uma "cidade pequenininha" pode ter problema. Mas ele chamou atenção para alguns grandes centros do país. É o caso das duas maiores cidades brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro.
— É claro que nós temos uma cidade muito grande como é São Paulo, que tem 22 milhões na Grande São Paulo, que uma espiral ali seria muito intensa. Temos um Rio de Janeiro, que a gente tem chamado atenção desde o início, que tem áreas de exclusão social com muita aglutinação de pessoas, difícil de fazer isolamento — disse Mandetta.
Ele também citou cidades com grande fluxo internacional, como Fortaleza, Manaus e Brasília.
— Manaus pela características de ser uma cidade que se relaciona muito com Miami. Às vezes um voo de Manaus para o Centro-Sul do Brasil é quase a mesma coisa de Manaus para Miami. Temos ali um parque industrial na Zona Franca de Manaus com empresas, com pessoas do mundo inteiro, da China, de vários países, um trânsito comercial. Temos uma vila operária extensa  ali dentro — afirmou Mandetta.
Sobre a capital do país, o ministro disse:
— Brasília, pelo fato de inúmeros voos internacionais, e muitas pessoas domésticas, voos de São Paulo, voos do Rio o dia inteiro para cá quando o Congresso está aberto, quando ela está efervescente. A cidade é uma cidade cosmopolita. Por isso Brasília também um índice elevado.

Contaminação de ingígenas

Mandetta fez um apelo a ONGs e igrejas que trabalham com a população indígena sobre o risco de contaminar essas populações. Ele disse que os indígenas não têm quadro imunológico preparado par lidar com vírus dos brancos, como é o caso do novo coronavírus.
— Por mais que estejam bem intencionados, às vezes vai lá para fazer um favor, e é portado assintomático, contaminam um, dois — alertou Mandetta.
Segundo o ministro, a forma de vida dos indígenas, que vivem em ocas com muitas pessoas, é um fator que contribui para a disseminação da doença. Ele destacou que as entidades que prestam serviços a comunidades indígenas precisam dialogar com os líderes indígenas sobre as restrições necessárias nesse momento.
O secretário-executivo do ministério, João Gabbardo, já havia alertado, nas últimas semanas, sobre o risco de contaminação dos indígenas. Ele também pediu para que "brancos" não fossem a aldeias indígenas a fim de preservar as populações tradicionais.
— A história do contato de brancos e indígenas é de paginas muito tristes - disse Mandetta, lembrando mortes por sarampo que atingiram indígenas no país.
Mandetta afirmou que Manaus preocupa e enfatizou o fato de a capital do Amazonas ter  intensa movimentação de população indígena. 
— Manaus entra no nosso radar como um ponto que pode ter ascendências rapidas de cura, ao lado de Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Leandro Prazeres, Renata Mariz e André de Souza, O Globo