Com fortuna de quase US$ 39 bilhões e uma empresa avaliada em mais de US$ 60 bilhões, o bilionário americano Sheldon Adelson chega aos 84 anos com a ambição de ampliar ainda mais seus negócios. Se nos últimos anos a atenção esteve voltada para a Ásia, agora é no Brasil que o dono da Las Vegas Sands Corp (LVS) concentra suas fichas.
Mas, antes que a intenção possa se concretizar em investimentos, é preciso que a legislação mude para liberar a exploração de jogos de azar no Brasil.
— O Brasil é um país gigante que recebe poucos turistas, apenas seis milhões. Nós podemos esperar (a legislação adequada) para montar um resort integrado aqui. Não é só cassino, mas o cassino é importante porque é a parte mais rentável do negócio e subsidia as outras atividades — explicou Adelson ao GLOBO, em recente visita ao país.
O que ele chama de resort integrado é o modelo de negócios que se tornou o carro-chefe de Adelson. Ele consiste em ter, no mesmo espaço, um número elevado de quartos de hotel, centro de convenções, casa de espetáculos, restaurantes, shoppings e, obviamente, cassinos. Foi graças a esse modelo que Las Vegas se tornou um dos principais pontos de atração de grandes convenções nos EUA — algumas com mais de cem mil participantes.
Adelson sabe que a proximidade de uma eleição no Brasil dificulta qualquer aprovação de uma mudança na lei. Mas ele tem uma longa — e controversa — experiência com políticos. Nos EUA, ele é conhecido por ter sido o principal doador da campanha de Donald Trump à presidência e o teria incentivado na adoção de medidas polêmicas, como a recente transferência da embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
O fundador da LVS tem interesse em investir em um resort integrado no Brasil em locais que tenham uma boa infraestrutura de turismo, o que inclui rede hoteleira, aeroportos, bons restaurantes e clubes noturnos e transporte local para se chegar aos centros de convenção. Rio e São Paulo concentram as atenções, mas ele acredita que Recife e Salvador também podem atender a essas exigências.
Na semana passada, Adelson se reuniu com o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e contou que o político quer encontrar meios de atrair mais turistas para a cidade, que anualmente recebe cerca de 1,5 milhão de visitantes estrangeiros.
— Ele está preocupado em atrair mais turistas. Já vi o Rio como a capital do entretenimento. Mas não é mais. O Rio precisa de algo que o revitalize — opinou.
LEGALIZAÇÃO VOLTA À PAUTA
No entanto, qualquer investimentos da LVS no Brasil depende de um marco regulatório que permita a exploração de jogos de azar e em um modelo que não seja disseminado, ou seja, que possa ficar restrito a determinados locais, como os resorts integrados.
Um dos projetos para a legalização dos jogos de azar no Brasil tramita no Senado desde 2014, mas teve o texto rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça. A outra iniciativa é ainda mais antiga, dos anos 1990, mas já recebeu uma série de emendas que a desconfigurou. No entanto, em momento de aperto fiscal, a ideia ganha fôlego.
Há três anos o empresário estuda o potencial do mercado brasileiro. Nem mesmo o fato de o Brasil ser um país de renda média é capaz de afastar o empresário. Na visão dele, o consumo do público de maior poder aquisitivo acaba gerando oportunidades para as camadas de menor renda. Além disso, o resort integrado também atrairia visitantes de outros países, diz ele.
CINGAPURA COMO PARADIGMA
Como exemplo de viabilidade, ele cita o forte crescimento no número de turistas em Cingapura, onde em 2010 inaugurou o complexo Marina Bay Sands — cuja piscina suspensa com borda infinita virou ícone turístico.
Em 2009, Cingapura recebia ao ano 9,7 milhões de visitantes estrangeiros. A maior parte estava ali de passagem, para fechar negócios. O número de visitantes pulou para 11,1 milhões no ano da inauguração do Marina Bay Sands, que exigiu um investimento de US$ 5,6 bilhões. Em 2017, o total chegou a 17,5 milhões — e os empregos, diretos e indiretos do complexo, chegam a 50 mil.
O gasto dos turistas também mais que dobrou no período. Em 2009, foram US$ 12,8 bilhões, No ano passado, os estrangeiros deixaram por lá mais de US$ 27 bilhões. Por ter a exploração de convenções como um dos pilares desse tipo de projeto, o resort integrado acaba atraindo o turista de negócios, que gasta mais do que quem viaja a lazer.
Em Macau, uma região administrativa da China, Adelson investiu ainda mais: US$ 12,2 bilhões, gerando 75 mil empregos diretos e indiretos, segundo a LVS. São seis cassinos e hotéis de nove bandeiras diferentes. Ainda assim, Adelson afirma que a área de jogos ocupa, em média, apenas 4% de seus empreendimentos.
Os planos de Adelson são para investir sozinho. Segundo ele, nunca trabalhou e não pretende trabalhar com parceiros locais.
— Eu não preciso de parceiros locais. — disse. — Nós temos dinheiro suficiente.
Por Ana Paula Ribeiro, O Globo