sábado, 9 de maio de 2015

Tesoureiro da campanha de Dilma e dono da UTC tiveram três reuniões

O Globo

Segundo jornal, encontros em 2014 trataram de doações; empreiteiro diz que temia retaliações



O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. - Givaldo Barbosa / Arquivo O Globo


O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, manteve, na época em que era tesoureiro da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, três encontros com o dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, acusado na Operação Lava-Jato de chefiar o cartel das empreiteiras contratadas pela Petrobras. Segundo reportagem publicada neste sábado na “Folha de S.Paulo”, Pessoa disse a procuradores da Lava-Jato que repassou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma, em 2014, por temer prejuízos em seus negócios com a petroleira.


As doações foram acertadas entre ele e Edinho em reuniões no escritório da campanha em Brasília, depois no escritório de Pessoa em São Paulo e num último encontro no Rio.
Procurado pelo GLOBO, Edinho não quis comentar as declarações de Pessoa, limitando-se a reafirmar o que divulgou o PT: as doações foram legais e as contas eleitorais de Dilma, aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pessoas próximas ao ministro afirmam que não procede a versão do empreiteiro de que teria procurado Edinho a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusado de operar o esquema de corrupção no partido e preso na Lava-Jato. Segundo fonte petista próxima ao ministro, Edinho tomou a iniciativa de procurar os maiores doadores de 2010, um a um, ano passado. Com Pessoa, as reuniões teriam sido formais e circunscritas às tratativas sobre a campanha. Segundo essa fonte, Edinho não conhecia Pessoa antes do primeiro encontro em Brasília.

Segundo a reportagem da “Folha de S.Paulo”, Pessoa também contou que, em 2006, deu R$ 2,4 milhões à campanha à reeleição do então presidente Lula por caixa dois, sem registro na Justiça Eleitoral. Em 2012, segundo Pessoa, ele também teria contribuído com mais R$ 2,4 milhões, dessa vez para quitar dívidas de campanha do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). O pedido para essa ajuda teria sido feito por Vaccari.

Pessoa está em prisão domiciliar e negocia com o Ministério Público um acordo de colaboração, em troca da diminuição de sua pena. Ele promete ainda, segundo a reportagem de ontem, detalhar seus negócio com o ex-ministro José Dirceu, condenado pelo mensalão. Pessoa deu R$ 3,1 milhões à empresa de consultoria de Dirceu entre 2012 e 2014.

Haddad disse que todas as doações para sua campanha, na campanha de 2012, foram declaradas. E afirmou, por meio de sua assessoria, que “desconhece afirmações relatadas pelo jornal “Folha de S.Paulo”. O Instituto Lula disse que não vai se manifestar.

Em nota, o advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D’Urso, disse que seu cliente “jamais solicitou pagamentos a título de doações ao PT, que não fossem destinadas a depósitos na conta do partido”. E que realizou “somente solicitações de doações oficiais”. Procurado, o advogado de Pessoa, Alberto Toron, não foi localizado. Também não foram localizados os advogados de Dirceu.

OPOSIÇÃO QUER ACELERAR DEPOIMENTO DE PESSOA À CPI

A oposição na CPI da Petrobras pretende acelerar a convocação de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, para prestar depoimento na comissão. O requerimento para ouvir o empreiteiro, que cumpre prisão domiciliar, foi aprovado na comissão em 14 de abril, mas a sessão não tem data marcada. Diante das declarações de Pessoa, divulgadas pelo jornal “Folha de S. Paulo”, sobre as doações sob pressão à campanha de Dilma, ouvi-lo se tornou uma “prioridade”, segundo o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que integra a CPI:

— É uma revelação gravíssima. Além das provas materiais coletadas sobre a corrupção na eleição de 2010, agora vemos avanços nas informações da mesma prática em relação às reeleição — disse Imbassahy.

Segundo o deputado, a CPI poderá marcar o depoimento para a semana do dia 18, uma vez que, na próxima, já estão agendadas oitivas de mais de dez pessoas em Curitiba, além de uma reunião ordinária para votação de requerimentos.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), uma das integrantes da CPI mais aguerridas na defesa do governo, afirmou que não se opõe à ideia de agilizar o depoimento de Pessoa, mas criticou as declarações do empreiteiro, de que teria temido uma retaliação caso não doasse à campanha de reeleição da presidente Dilma:

— Tudo tem que ser apurado. Mas a subjetividade, como se sentia diante diss0o ou daquilo, é uma novidade no terreno político brasileiro, em que as pessoas dizem qualquer coisa para não serem cobradas pelos seus atos. Não é aceitável um ambiente de subjetividade nas denúncias.

Pessoa afirmou aos investigadores, segundo a “Folha de S. Paulo”, que fez contribuições irregulares para campanha do ex-presidente Lula em 2006 e para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012. O empreiteiro disse ainda que pagou à consultoria de José Dirceu, condenado do mensalão, entre 2012 e 2014.