Durante a Guerra Fria, uma das formas de averiguar como se encontravam distribuídos os núcleos de poder pelo mundo era mapear bases militares e silos nucleares.
Hoje, é impossível não direcionar o GPS de prosperidade e influência sem identificar aquelas regiões do planeta de onde se originam grandes choques de inovação.
O poderio militar de "dissuasão" é complementado –e às vezes superado– pela capacidade econômica de "disrupção". Esse termo entrou vigorosamente no vocabulário sobre estratégias de desenvolvimento. E o mundo contemporâneo é palco de uma feroz corrida por tecnologias "disruptivas" (disruptive technologies) e, no limite, por "destruição criativa".
Não há fronteiras bem definidas entre os dois conceitos. Disrupção é geralmente associada a um tipo de tecnologia que se desgarra do "mainstream" tido como padrão para um determinado setor –e, portanto, convida os agentes econômicos a se aventurarem por esse novo caminho.
Destruição criativa, contudo, é mais do que a sucessão orgânica de tecnologias. Diz respeito também ao empreendedor que busca alocar foco e capital para instituir um novo mercado e, inescapavelmente, substituir o que havia em seu lugar. Disrupção é sobre novas tecnologias. Destruição criativa é sobre novos mercados.
É curioso que, ao longo dos anos, Marx ou Keynes tiveram muito mais visibilidade do que Schumpeter, pai da ideia de destruição criativa. É este conceito, no entanto, que melhor explica como funciona o motor do capitalismo 3.0 que vivemos hoje. Não é à toa que "The Economist" tenha batizado sua coluna de inovação nos negócios com o nome do grande economista austríaco.
Vale destacar duas ressonâncias recentes do instrumental schumpeteriano que englobam disrupção e poder global.
A primeira é o conceito de TAI (sigla do inglês "Technology Achievement Index") desenvolvido por Amartya Sen, vencedor do Nobel em economia. Ele identifica aquelas regiões do planeta que, por entrelaçarem vetores como empresas, capital disponível para empreendedorismo e centros de pesquisa em densas redes colaborativas, configuram uma verdadeira "geoeconomia da destruição criativa".
A segunda localiza-se na grande obra de Daren Acemoglu e James Robinson –"Por Que as Nações Fracassam". Não é possível levar adiante choques de produtividade ao longo do tempo sem ciclos de inovação. Estes são os propulsores do crescimento econômico.
É bom salientar que não devemos apenas aplicar o conceito de destruição criativa para as engenharias ou as TICs (tecnologias da informação e comunicação). O critério evolutivo também é aplicável a modalidades de gestão, filosofias de marketing, estruturação hierárquica nas empresas ou mesmo planejamento urbano.
Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, entendia que a cidade estava marcada demais por ser capital da indústria financeira. E o baque urbano foi severo com a queda do Lehman Brothers e a Grande Recessão precipitada a partir de 2008.
Buscou então todo caminho possível para que Nova York se reorientasse como centro irradiador de disrupção. Roosevelt Island, no East River, sediará o novo campus tecnológico da Universidade Cornell. Já Manhattanville, no coração do Harlem, é a plataforma para um ambicioso "hub" da Universidade Columbia voltado à neurociência.
Ciclos de inovação produzem vencedores e perdedores. A prosperidade chega por meio de destruição criativa. Há, contudo, um caminho alternativo, embora de duração limitada, que é a "adaptação criativa". Ela permite aos agentes arremeter na escala econômica fazendo o mesmo que os líderes, mas com custos de produção mais competitivos.
A decolagem rumo a níveis de renda mais elevados por parte de países como Coreia do Sul e China nada mais foi do que um substantivo processo de adaptação criativa.
O Sudeste Asiático buscou interdependência junto a uma conjuntura internacional mais intensiva em tecnologias e utilizou suas "vantagens competitivas" de baixo custo relativo da remuneração dos fatores de produção para arregimentar importantes estoques de capital.
Altas taxas de investimento e um ambiente amigável a negócios credenciaram a Ásia a gerar seus próprios choques endógenos –não mais apenas de adaptação, mas de verdadeira destruição criativa. O veloz ritmo de depósito de novas patentes por parte de países asiáticos na OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual) ilustra bem esse ponto.
Os países produtores de commodities, por seu turno, simplesmente respondem a ciclos de contração e expansão ajustando suas "vantagens comparativas" a choques externos de demanda. Trata-se de uma posição bem passiva na hierarquia de influência global. É pena, mas esta tem sido a história da maioria dos países latino-americanos.