Samy Adghirni - Folha de São Paulo
O condomínio Oasis, em construção na cidade de El Doral, na grande Miami, terá 132 casas com valor inicial de US$ 1,5 milhão.
Ao menos cem foram vendidas para uma nova categoria de estrangeiros que está injetando fortunas na economia local: os venezuelanos.
Fugidas da violência ou vítimas das medidas econômicas do governo socialista, milhares de famílias abastadas vêm se mudando para Miami e arredores, levando consigo economias pessoais e dinheiro para investir.
O número de venezuelanos legais nos EUA saltou de 91 mil em 2000 para 259 mil em 2012, segundo dados oficiais. Cerca da metade vive na Flórida, e em especial em El Doral, apelidada de Doralzuela.
"Sempre houve venezuelanos em Miami, mas antes eles vinham a passeio. Hoje eles vêm para ficar", diz o prefeito de El Doral, Luigi Boria.
Apu Gomes/Folhapress | ||
Condomínio de luxo que está sendo construído na cidade de El Doral, na grande Miami |
Ecoando opinião unânime, Boria vê um salto no fluxo de chegadas desde 2012, no embalo da deterioração da situação na Venezuela.
O impacto econômico dessa migração ainda não foi medido, mas sinais saltam aos olhos, principalmente no setor imobiliário.
Quase metade dos compradores latinos de imóveis na Flórida são venezuelanos, 87% dos quais pagam em dinheiro vivo, diz a corretora International Sales Group.
Editoria de arte/Folhapress |
Em El Doral, quase todos os corretores são venezuelanos, para atender à nova classe de clientes, muitos dos quais não dominam o inglês.
Dos US$ 2 bilhões investidos no projeto Midtown Doral, um complexo de casas e shopping em construção, 80% saíram do bolso de venezuelanos, segundo Boria.
"Fala-se muito em El Doral, mas venezuelanos compram também em áreas centrais, como Brickell. Uns querem residências, outros usam como investimento", diz o corretor Francisco Angulo.
Outro setor visado pelos venezuelanos é o de exportação-importação. "É uma maneira de manterem contato com a Venezuela, onde muitos ainda têm negócios", diz a consultora Maria Antonietta Díaz, especializada em amparar recém-chegados.
Venezuelanos também são grandes consumidores de artigos de luxo. "Minha melhor clientela estrangeira é da Venezuela", diz Nelson Velez, gerente da seção Porsche na The Collection, uma das concessionárias mais exclusivas de Miami.
Na reluzente nova loja da Apple em Miami Beach, o que mais se ouve é o sotaque dos clientes venezuelanos.
A maior parte da comunidade é antichavista. Mas Miami também abriga boliburgueses, empresários que enriqueceram graças a contratos com o governo.
CHOQUE CULTURAL
Nem tudo é fácil para investidores venezuelanos em Miami. O empresário Alberto J. chegou há três semanas, mas já pensa em voltar para Caracas.
"Transferir minha empresa para Miami está sendo muito mais difícil e burocrático do que previ. E minha mulher não gosta da vida aqui", suspira.