Titular do Flamengo decidiu se naturalizar brasileiro
A identificação do goleiro Agustín Rossi, de 30 anos, com o Flamengo, o Rio de Janeiro e o Brasil foi tamanha que, pouco mais de dois anos depois de ter chegado ao clube, ele vai se naturalizar brasileiro. Desde 2023, Rossi vem se destacando. Passou a ser admirado, mas, acima de tudo, se tornou um admirador do país e de sua população.
Com contrato até o fim de 2027, Rossi já manifestou à diretoria o desejo de permanecer por mais tempo e deixar sua marca no Flamengo. A situação mostra que, por trás de todo o discurso de rivalidade em relação ao Brasil, muitos argentinos, no fundo, são fascinados pelo futebol do país e por seu povo.
Neste momento, uma legião de treinadores argentinos, muitos deles ex-craques consagrados, comandam equipes brasileiras. Falam com orgulho e carinho, ao serem questionados sobre os problemas do futebol brasileiro.
Enquanto imprensa e torcedores brasileiros são extremamente críticos em relação à estrutura dos campeonatos, os argentinos, mesmo conscientes de algumas precariedades, não escondem o entusiasmo em dirigir equipes locais. Ou o apreço pela relação espontânea com o torcedor brasileiro.
Sentem prazer, mesmo tendo disputados competições na Europa, em se incluírem na cultura nacional do drible, do improviso, da criatividade que conduziram a Seleção Brasileira ao pentacampeonato mundial.
Hernán Crespo, Martín Palermo, Juan Pablo Vojvoda e Luis Zubeldía são alguns nomes que ficaram encantados em trabalhar como técnicos no Brasil. Estão em número muito maior do que o de brasileiros na Argentina.
Todos eles tiveram ou têm um forte vínculo com o Brasil. Mas não foram tão longe quanto Rossi e outros como Nélson Ernesto Filpo Núñez (Buenos Aires, 19 de agosto de 1920 — São Paulo, 6 de março de 1999).
O técnico Filpo Núñez foi um argentino naturalizado brasileiro que fez história ao treinar o Palmeiras. Foi o grande criador da Academia palmeirense na década de 1960, quando revelou grandes jogadores, e posteriormente ídolos da torcida palmeirense, como Ademir da Guia e Dudu.
Sua intimidade com o Brasil lhe possibilitou dar ao clube uma característica portenha. De futebol cadenciado. Em ritmo de tango.
Soube como ninguém unir a fluidez de Ademir da Guia ao faro de gol de Leivinha e à explosão bem argentina de César Maluco. Com fala simples e conhecimento profundo, mas acessível, Dom Filpo Nuñez dirigiu também outros grandes clubes, como Associação Portuguesa de Desportos e o Corinthians.
Mas foi no Palmeiras onde ele melhor desenhou gols em portunhol. Brasil e Argentina no futebol A relação do Brasil com os jogadores argentinos também é longa.
Em 1972, Rodolfo José Fischer Eichler, o Fischer (1944 – 2020), se transferiu para o Botafogo e se tornou o estrangeiro com mais jogos na história do clube, com 180 partidas até 1976.
Zagueiro elegante e clássico, Roberto Alfredo Perfumo (1942 – 2016), também marcou época no Cruzeiro, ao conquistar três campeonatos mineiros nos anos 1970.
Também houve mais jogadores naturalizados. O ídolo Narciso Doval (1944 – 1991), que se consagrou no Flamengo e no Fluminense, se naturalizou brasileiro e criou uma forte ligação com o país. Na Copa do Mundo da Espanha em 1982 viajou apenas para torcer pelo Brasil, naquele mundial em que a Seleção foi eliminada pela Itália.
Mas que venceu a Argentina, por 3 a 1, em uma exibição tipicamente brasileira. Já Adolpho Milman (1915 – 1980), o Russo, nasceu na Província de Entre Ríos, mas mudou-se para Pelotas, no Rio Grande do Sul, e fez carreira no Fluminense. Foi um dos poucos estrangeiros convocados para a Seleção Brasileira.
Outro caso típico é o de Andrés D’Alessandro, meio-campista ídolo do Internacional, obteve a cidadania em 2022. Hoje dirigente e depois de 14 temporadas no clube; seu terceiro filho nasceu em Porto Alegre. Víctor Cuesta, zagueiro natural de La Plata, foi outro que chegou ao Brasil em 2017 para jogar pelo Inter (RS), passou ainda pelo Botafogo e atua no Bahia. Naturalizou-se em 2022.
O Grêmio é mais um dos clubes da atual temporada da Série A que têm um argentino apaixonado pelo Brasil. Trata-se do zagueiro Walter Kannemann, no clube desde 2016. Ele também está em processo para obter a cidadania brasileira.
Esses profissionais associaram seu legado aos cantos do Maracanã (Domingo, eu vou ao Maracanã, ver o Mengão ser campeão…), ao samba na praia, às vaias no Morumbi, por que não? E não lhes pergunte, se você for argentino, quem foi melhor, Pelé ou Maradona. A resposta será tão verdadeira quanto a relação deles com o Brasil.
Eugênio Goussinsky - Revista Oeste